Veja os benefícios do uso medicinal da cannabis na saúde mental

Uma revisão sistemática da Universidade Erasmus, na Holanda, revela os potenciais benefícios e riscos da cannabis medicinal no tratamento de condições como ansiedade, depressão e PTSD, destacando a importância de abordagens personalizadas na saúde mental

Publicada em 23/06/2025

Saúde Mental pede escuta: o papel delicado da canábis medicinal

Saúde Mental em foco: o que a cannabis pode aliviar | Imagem: CanvaPro

Em tempos em que a saúde mental é um clamor coletivo, toda alternativa que possa devolver ao indivíduo o seu centro merece ser explorada com responsabilidade. Transtornos como ansiedade, depressão e PTSD têm crescido silenciosamente, impactando milhões de vidas. 

Em busca de alívio, muitos pacientes se deparam com as limitações dos tratamentos convencionais. É aí que a cannabis medicinal desponta: não como panaceia, mas como possibilidade. Com uma atuação complexa no cérebro humano, seus compostos interagem com o sistema endocanabinoide, um elo biológico com o nosso humor, sono, memória e emoções.


Desde a pandemia de Covid-19, os índices de sofrimento psíquico dispararam em todo o mundo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), houve um aumento de mais de 25% nos casos de ansiedade e depressão logo no primeiro ano da crise sanitária. 


No Brasil, dados da Fiocruz e do Ministério da Saúde indicam que, entre 2020 e 2022 (anos da pandemia), os atendimentos relacionados à saúde mental cresceram de forma expressiva, especialmente entre jovens e mulheres. O trauma coletivo, o luto, o isolamento e a incerteza econômica deixaram marcas profundas. 


Nesse cenário, cresce também o interesse por terapias integrativas e abordagens alternativas, como a cannabis medicinal, que vem sendo estudada com mais afinco para oferecer alívio onde os tratamentos convencionais nem sempre alcançam.


Mas essa é uma ciência que caminha com cautela. Os efeitos variam de pessoa para pessoa, e a mesma planta que cura em um pode provocar desconforto em outro. Por isso, os pesquisadores alertam: personalizar é preciso.


Canabinóides no comando: o que acontece no cérebro


O THC e o CBD são os principais atores dessa trama. O primeiro é famoso por seus efeitos psicoativos; o segundo, pelo potencial terapêutico sem as sensações de “barato”. Ambos atuam nos receptores CB1 e CB2, espalhados por nosso cérebro e sistema imunológico, regulando desde o apetite até o humor. A chave está no equilíbrio: mais CBD e menos THC tendem a oferecer segurança e estabilidade para pacientes sensíveis.


Os possíveis benefícios da cannabis na saúde mental


O estudo da Universidade Erasmus mapeou uma série de efeitos positivos do uso medicinal da canábis em condições psíquicas:


Ansiedade: doses baixas de CBD mostraram reduzir a ansiedade, especialmente em ambientes sociais.


Depressão: canabinóides podem modular neurotransmissores como serotonina e dopamina, impactando positivamente o humor.


PTSD: pacientes com transtorno de estresse pós-traumático relatam alívio de sintomas como pesadelos e hiperexcitação.


Insônia: o uso noturno de certos perfis de canabinóides tem favorecido um sono mais profundo e reparador.


Embora promissores, esses efeitos precisam ser analisados caso a caso, respeitando a individualidade de cada paciente.


Nem tudo são flores: os riscos também são reais


Com grandes promessas, vêm grandes responsabilidades. E a cannabis não é exceção. A revisão alerta para efeitos colaterais relevantes:


Psicoses e prejuízo cognitivo: o uso excessivo de THC pode agravar quadros psiquiátricos, especialmente em indivíduos predispostos. 


Aumento de ansiedade: a resposta pode ser bifásica, enquanto o CBD acalma, o THC em altas doses pode provocar crises de ansiedade.


Dependência e tolerância: o uso crônico pode exigir doses maiores, elevando o risco de dependência.


Interações medicamentosas: misturar canábis com outros fármacos exige monitoramento médico constante.


Por que cada pessoa responde de um jeito?


A revisão sistemática também investigou os mecanismos por trás dessa montanha-russa de reações. Vários fatores entram em cena:


Genética: diferenças na expressão dos receptores canabinóides influenciam o efeito da planta.


Proporção THC/CBD: produtos com mais CBD tendem a ter menos efeitos colaterais.


Histórico de saúde: patologias preexistentes e uso de outros medicamentos interferem nos resultados.


Aspectos ambientais e psicológicos: o contexto do tratamento, o vínculo com o profissional e as expectativas do paciente modulam a resposta.


Cannabis e Saúde Mental: o que esperar do futuro?


O uso da cannabis medicinal para saúde mental é um campo fértil, mas ainda em amadurecimento. Entre as próximas etapas apontadas pela revisão estão:


Ensaios clínicos rigorosos com formulações padronizadas.

  • Estudos de longo prazo sobre o impacto do uso contínuo.
  • Avanços em medicina personalizada, conectando genética e tratamento.
  • Compreensão mais profunda dos mecanismos de ação, para desenvolver medicamentos cada vez mais seguros e eficazes.


O que sabemos e divulgamos sempre por aqui, é que a canábis medicinal carrega o paradoxo da esperança: é ao mesmo tempo alívio e interrogação. A revisão da Universidade Erasmus nos lembra que sua utilização exige mais do que entusiasmo, exige ciência, escuta e personalização. E, acima de tudo, um olhar humano.

Com informações do CannaReporter.

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