Tudo o que você precisa saber sobre o mercado da cannabis em Portugal

Uma entrevista exclusiva com José Real, marketing manager da Cannprisma Pharma

Publicada em 20/03/2024

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No cenário emergente da cannabis em Portugal, o entendimento do mercado, regulamentação e perspectivas futuras são cruciais para os participantes do setor. Em uma entrevista exclusiva com José Real, marketing manager da Cannprisma Pharma, uma empresa produtora de flores de cannabis em solo português, exploramos os elementos fundamentais desse ecossistema em evolução.

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José Real, marketing manager da Cannprisma Pharma de Portugal | Foto: Arquivo Pessoal

Com 29 anos e formação em marketing e marketing digital, José Real trouxe sua expertise do ramo de software e hardware para a indústria farmacêutica, o que o auxiliou a desenvolver múltiplas ações na empresa. Sua motivação para ingressar nesse setor foi impulsionada pelo potencial da cannabis medicinal em melhorar a qualidade de vida dos pacientes, além de desmitificar estigmas associados à planta.

“Vejo na cannabis não uma planta milagrosa, mas uma ferramenta extremamente útil para pacientes com diversas condições de saúde, auxiliando no tratamento e na gestão dos sintomas consequentes do seu quadro clínico”, destaca Real.

Explorando o mercado da cannabis medicinal em Portugal

O mercado português está sujeito a regulamentações específicas, onde apenas medicamentos à base de cannabis autorizados pelo Infarmed, autoridade de saúde responsável pela pauta no país, podem ser prescritos por médicos.  

José ressalta que, apesar da legalização dos usos medicinais no país, que está vigente desde 2018, o acesso ainda é limitado devido ao rigoroso processo de autorização e à falta de variedade de produtos disponíveis.  

“Essa situação cria um ciclo onde a baixa demanda não justifica o investimento das empresas no desenvolvimento de novos produtos, resultando em um mercado estagnado”, explica o empresário que continua:

“Em suma, o mercado da cannabis em Portugal é uma espécie de “pescadinha de rabo na boca”, como falamos por aqui, onde os médicos não prescrevem pois só o podem fazer em último recurso e porque não há variedade de produtos para prescrever. Desse modo, após cinco anos de regulamentação, grande parte da população ainda continua sem acesso a estes medicamentos”.

Regulamentação

A regulamentação em Portugal distingue claramente entre o uso recreativo e medicinal da cannabis. Enquanto o uso recreativo é descriminalizado, o uso medicinal é permitido apenas sob prescrição médica e com produtos autorizados pelo Infarmed.  

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Para José, a legalização total da cannabis medicinal e recreativa em vários países europeus, pode ser uma realidade impulsionada pela evidência crescente de seu potencial terapêutico e econômico.

Desafios para o desenvolvimento da indústria

O maior obstáculo para o desenvolvimento da indústria da cannabis medicinal em Portugal, segundo Real, é a mecânica legislativa restritiva que limita a prescrição médica e a disponibilidade de produtos no mercado. A falta de incentivos para as empresas investirem em pesquisa e desenvolvimento devido à baixa demanda interna também contribui para o cenário desafiador.

Tendências e perspectivas futuras

As tendências no mercado da cannabis em Portugal apontam para uma crescente demanda por produtos com teores elevados de THC, bem como por extratos full spectrum, que incorporam uma variedade de compostos da planta.  

“Inicialmente muitos dos players da indústria apostaram no canabidiol (CBD) isolado como sendo o melhor produto. Contudo, com o aumento dos estudos científicos disponíveis e as crenças empíricas da comunidade médica sobre o efeito Entourage, os produtos com alto teor de THC vem ganhando expressão”, afirma Real.  

Ele explica ainda, que tecnologias de administração de medicamentos estão sendo aprimoradas para diversificar as opções terapêuticas disponíveis. “O desenvolvimento de novos blisters (embalagem amplamente utilizada em diversos setores da indústria) e projetos que visam diversificar a aplicação medicinal dos produtos de cannabis, são criados a todo momento não só em Portugal, mas em todo mundo”.  

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Linha de produção da Cannprisma | Foto: Arquivo

Diversidade de consumidores e usos potenciais

Observando o cenário mercadológico de uma forma abrangente, José Real conclui que: “a diversidade de consumidores de cannabis, tanto para uso medicinal quanto recreativo, reflete a ampla gama de benefícios que a planta pode oferecer. Além disso, o potencial da cannabis para uso industrial e veterinário abre novas oportunidades de aplicação e inovação na indústria”.

Em resumo, o mercado português da cannabis medicinal apresenta desafios significativos, mas também oportunidades emocionantes para o futuro. Com a evolução das regulamentações e a crescente conscientização sobre os benefícios da cannabis, espera-se que o setor floresça, proporcionando alívio para os pacientes e impulsionando a inovação na indústria.