O diagnóstico de autismo e a escolha da cannabis como tratamento

Foram 17 anos tomando medicações para fibromialgia e depressão, sem sucesso, até o reconhecimento do TEA

Publicada em 04/01/2024

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Thaís Castilho

Desde os 12 anos de idade, Raissa Ottoni Gripp vinha sendo tratada como paciente de depressão e fibromialgia, mas, sem sucesso com as medicações que eram receitadas pelos médicos, a família foi em busca de respostas. No começo de 2023, ela foi reconhecida como portadora de TEA (Transtorno de Espectro Autista).

“Foram anos perdidos só indo atrás de respostas. Os médicos sempre achavam que se tratava de depressão e fibromialgia, mas nenhuma medicação fazia efeito. Nos últimos cinco anos ela fez tratamento com um bom psiquiatra. De início ele a diagnosticou com Transtorno Dissociativo e Somatoforme. Foi em janeiro de 2023 que ele chegou ao consenso de que realmente Raíssa é austista.”, esclarece a mãe de Raíssa, Márcia Cristina Ottoni Lourenço.

Márcia e Raissa | Foto: arquivo pessoal

Cannabis como última esperança

Uma das maiores dificuldades no tratamento de Raíssa é que ela consiga descansar durante o sono, pois apesar dela dormir cerca de 10 horas por dia, não atinge a etapa REM (Movimento Rápido dos Olhos, em português) do sono, considerada a mais profunda. O sono REM é fundamental porque é nele que as memórias são processadas e o conhecimento é consolidado.

Dentre as indicações mais comuns do uso da cannabis é para tratamento de insônia. O CBD (canabidiol) em combinação com outro fitocanabinoide, o THC (tetrahidrocanabinol), apresenta bons resultados para tratar distúrbios do sono, como insônia, apneia do sono e até pesadelos relacionados ao transtorno de estresse pós-traumático.

“Ela  acorda cansada, com uma fadiga que já é crônica, sem energia, tem lapsos de memória e irritabilidade. Há quase 6 anos não tem sono REM, então não consegue descansar, ganha muito peso, não consegue fazer exercícios e não consegue sair de casa. Realmente, a cannabis é nossa última esperança pra ela conseguir dormir e ter o sono REM, porque sem isso não adianta nenhum outro tratamento. Mas o comprado em farmácia, além de muito caro, é muito fraco e vamos agora fazer o tratamento com um remédio de associação que é mais indicado”,  explica Márcia sobre a orientação para o caso da filha.

O autismo como condição de vida

Para a mãe de Raíssa, o diagnóstico tardio de autismo se explica pelo fato de Raíssa apresentar um comportamento depressivo, justamente por ser neurotípica e não conseguir se enquadrar no que a sociedade julga como normal. 

“Infelizmente as pessoas não entendem o desespero de  uma pessoa que não se encaixa em nada desse mundo e por isso, é excluída ou forçada a fazer coisas que parecem simples, mas que causam muita dor física e emocional, por isso os médicos achavam que era depressão e fibromialgia. Pessoas neuro divergentes têm cérebros diferentes, pensamentos e formas de agir diferentes, mas o importante é que vão conseguir chegar no mesmo resultado, se forem respeitadas. É exatamente isso que precisa mudar, que os neurotípicos possam ser reconhecidos como pessoas normais, com alguns estereótipos ou esquisitices, mas e daí? São capazes de ser produtivos e de ser feliz”, destaca Márcia.

Cannabis é apenas uma planta

Raíssa tem feito uso da cannabis há três meses, mas ainda está na fase de ajuste de dosagem e da concentração dos canabinoides.

Apesar de ter sofrido um certo preconceito pela escolha do tratamento, a mãe da Raíssa está segura pelo fato da cannabis ser uma planta e segue atenta, tanto na origem do produto como no acompanhamento terapêutico com os profissionais que acompanham sua filha.

“É uma planta como qualquer outra, que dependendo de como é manipulada pode ser remédio ou um veneno. Só temos que ter o cuidado em saber quem está manipulando, se tem todos os registros, se cuidam corretamente das flores e fazem um bom extrato e um bom óleo. Meu objetivo é uma melhor qualidade de vida pra minha filha e logo menos, eu e meu esposo queremos usar também”, reforça Márcia.