O que a ciência já sabe sobre os benefícios da cannabis no tratamento da Covid-19
Todos os dias surgem novos estudos a respeito dos efeitos dos canabinóides, mas o que já sabemos sobre os efeitos da planta em relação ao Coronavírus?
Publicada em 24/01/2022
Por João R. Negromonte
Sabemos que em tempos de pandemia, todo e qualquer tratamento que contribua para amenizar os impactos causados pelo coronavírus são bem-vindos, principalmente aqueles que apresentam alternativas fitoterápicas e com baixa incidência de efeitos colaterais, como é o caso dos derivados da cannabis.
Por isso, separamos alguns dos estudos mais recentes sobre o uso dos canabinóides na prevenção, auxílio do tratamento da doença e recuperação dos sintomas da síndrome pós-covid. Acompanhe!
EUA
Provavelmente, os Estado Unidos possuem o maior número de pesquisas realizadas sobre o tema. São no mínimo três estudos publicados nos principais bancos de dados científicos do mundo como a Biorxivd, Pubmed, Frontiers e Science entre 2020 e 2022.
Um estudo publicado em 2021, disponível no banco de dados científicos BioRxivd, denominado “O canabidiol inibe a replicação do SARS-CoV-2 e promove a resposta imune inata do hospedeiro”, realizado por cientistas da Universidade de Chicago, mostra que alguns canabinóides têm o potencial de prevenir a infecção causada pelo vírus. Segundo os pesquisadores, o ácido canabigerólico (CBGA) e o ácido canabidiólico (CBDA), ambos derivados da planta, se ligam a uma proteína chamada Spike (um dos principais alvos dos anticorpos neutralizantes produzidos pelo organismo para bloquear micro-organismos), impedindo que o vírus entre nas células humanas. Este estudo foi publicado há algumas semanas e causou grande alvoroço nas redes.
Para os estudiosos, a capacidade desses componentes em fazer essa ligação, impede que o vírus se prenda a enzima ACE2, presente em abundância em partes do pulmão, o que segundo eles, pode ser uma revolução na forma como iremos tratar a doença no futuro.
Estudo semelhante feito por um grupo de pesquisadores do Departamento de Ciências Farmacêuticas da Universidade do Oregon, publicado em 2022 na plataforma científica Pubmed, confirmam também através de evidências, que o tratamento com canabinóides têm um alto potencial de prevenir e tratar a infecção causada pela patologia.
Outra pesquisa realizada por cientistas de diferentes instituições de ensino como a Escola de Medicina da Universidade de Miami, Lineberger Cancer Center da Universidade da Carolina do Norte e o Downstate Medical Center, da Universidade de Nova York, publicada na Journal of Addictive Diseases (Jornal de Doenças Aditivas) em 2020. O estudo, mostra que em uma avaliação epidemiológica sobre o uso medicinal da cannabis por adultos nos EUA, aplicada através de questionário online em que 1202 pacientes foram entrevistados, revelou que mais de 80% fizeram uso de derivados da planta em tempos de pandemia como forma de amenizar os sintomas da doença e reduzir os níveis de ansiedade e depressão causados pelo isolamento social.
Mais um estudo feito pelo Departamento de Patologia, Microbiologia e Imunologia, da Faculdade de Medicina da Universidade da Carolina do Sul, publicado também em 2020, destacou o uso de alguns canabinóides no tratamento da síndrome do desconforto respiratório agudo causado pelo coronavírus. Cientes das propriedades anti-inflamatórias de alguns canabinóides como o THC e o CBD, os pesquisadores usaram camundongos de laboratório para testar a eficácia desses componentes na prevenção da tempestade inflamatória causada pelo vírus.
Os resultados demonstraram que, pelos receptores canabinóides estarem expressos em diversas partes do nosso organismo e os canabinóides se mostrarem como potentes supressores de inflamações, seu uso é sim uma possível solução no combate à doença. Eles ressaltam que ainda são necessários mais pesquisas, mas os teste em animais criaram expectativas promissoras.
E no Brasil?
Aqui os estudos também estão caminhando a passos largos. Pesquisadores do Instituto do Coração (Incor) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), juntamente com a empresa produtora de CBD medicinal Verdemed, com matriz no Canadá, preparam o primeiro estudo de fase 3 (testes em humanos) do país para identificar os benefícios do canabidiol contra a síndrome do pós-covid.
Os testes serão feitos em 1000 voluntários que apresentem sintomas da doença como fadiga, dores de cabeça, febre, insônia, dores musculares, ansiedade, etc.
Sabendo do potencial terapêutico do CBD contra quadros inflamatórios graves, os cientistas esperam obter bons resultados com essa pesquisa, que estava prevista para começar em outubro do ano passado, mas que, segundo o Incor, aguarda ainda apresentação do projeto ao comitê de ética da instituição para respaldo e, só depois de aprovado, irá fazer o chamado dos voluntários.
Ainda é muito cedo para tirarmos conclusões precipitadas, mas segundo nosso Diretor Científico e Neurocirurgião Dr. Pedro Pierro, as propriedades anti-inflamatórias do CBD, podem ser uma nova alternativa no tratamento da Covid, visto que as vias de ação da doença são justamente onde o canabinoide costuma agir, tratando desde sintomas mais leves como dores e cansaço, até traumas neurológicos como depressão e ansiedade decorrentes do estresse causado pelo tratamento hospitalar.
Outro ponto a ser observado, segundo o especialista, é o receio em relação às terapias existentes, devido à singularidade do vírus que ainda é muito jovem, dificultando que os cientistas consigam ter um diagnóstico eficaz em um espaço de tempo reduzido, causando um certo temor nas pessoas.
Se a medicina canabinoide será uma nova arma contra novos tipos de doenças no futuro, só o tempo dirá, mas em termos de pesquisa, o que podemos fazer, dentro das limitações existentes, está sendo feito, basta acreditar e seguirmos em frente, afinal, possivelmente novas patologias surgirão e estarmos preparados é sempre a melhor opção.