Vinícius Poit (Novo): "É preciso tirar o conservadorismo da conversa” sobre cannabis

Em entrevista ao Sechat, deputado federal que integra comissão sobre o assunto na Câmara disse que pretende usar o mandato em defesa da regulação

Publicada em 05/09/2019

capa
Compartilhe:

O deputado federal Vinícius Poit (Novo-SP) chamou atenção na primeira quinzena de agosto ao publicar uma foto ao lado do general Eduardo Villas-Bôas, militar que defende o uso do canabidiol. O encontro aconteceu, pois o político integrará a comissão especial criada na Câmara dos Deputados que irá dar parecer ao Projeto de Lei 399/15, que viabiliza a compra de medicamentos à base de cannabis no Brasil. O grupo já foi criado e está recebendo indicações.

Em entrevista ao portal Sechat, o parlamentar informou que pretende usar o mandato em defesa da regulação, trazendo dados relevantes para a comissão e criando materiais explicativos sobre o tema. Poit salientou que o seu partido é independente com relação ao governo federal e que se o Planalto se posicionar contra a pauta, essa não será a posição dele. O deputado argumentou inclusive é preciso "tirar o excesso de conservadorismo da conversa" sobre a cannabis medicinal , mas sugeriu que o assunto seja trabalhado devagar no Congresso, pois "se quiser passar tudo de uma vez não vai".

Qual a tua relação com a cannabis medicinal, essa que não é uma pauta comum do Partido Novo, mas que você encabeçou?

Para ser sincero, não tenho relação nenhuma com o tema. Eu sou um empreendedor, mas eu sou muito pragmático, sou liberal. Não tem como algo que faz bem, que dá pra ser usado no tratamento de diversas doenças, que dá para separar das 400 substâncias que têm na planta da cannabis, que é o canabidiol que não dá barato, que é totalmente diferente do uso recreativo, não tem como isso não ser aprovado. Então, a hora que eu vi esse tema na Câmara, eu vi como uma oportunidade de começar a mostrar para as pessoas que a gente tem que caminhar com essa conversa para o racional, tirar extremismos, tirar polarização, tirar excesso de conservadorismo da conversa.

Então, como racional, como pragmatismo, com empreendedor, como um cara que está vendo que não tem argumento para isso aí não ser aprovado, eu quis entrar no assunto. E acho que é uma oportunidade para minha base de eleitores, que estão seguindo o Novo, começarem a entender que isso é uma construção mundial.

Você se encontrou com o general Villas-Bôas, como foi esse encontro?

Depois que eu decidi representar o partido nesse tema mais difícil, espinhoso, querendo construir esse diálogo, o general deu uma entrevista se colocando a favor da cannabis medicinal. E aí eu pensei: “esse cara pode ser uma ponte com o conservadorismo, ajudar a explicar”. Eu tenho no meu mandato o valor construção de pontes muito forte. E agora que eu vi o cara, que é o militar mais respeitado do nosso país hoje, eu pensei, é um cara que eu tenho que conversar, e que eu já admirava ele pela história.

Um cara que está super lúcido, apesar da condição de saúde. E foi um ótimo bate papo, é um cara muito família, tem uma visão com o próximo muito grande. A preocupação dele aumentou em aprovar a hora que ele viu a filha dele que foi acometida de uma doença que tem muitas dores nas articulações. E ele falou que, quando mexe com a família, é muito duro. E isso sensibilizou ele a falar do tema. Mas ele está tendo muito cuidado, já que é um militar, mas é um cara bacana para trazer para o debate.

Você agora vai participar da comissão que dará parecer ao PL 399. Como o senhor pretende desenvolver esse trabalho dentro da comissão?

Eu sempre trabalho com argumentos baseados em fatos e números. Eu vou trabalhar com o Tiago Mitraud (MG), nós dois vamos representar o partido na comissão, e aí vamos usar benchmarking: como aconteceu isso lá fora. Primeiro, vamos esclarecer o que é o THC, o que é o CBD. Vou fazer alguns vídeos sobre isso: sabia que o canabidiol pode ser usado em mais de 20 mil produtos, em cosmético, em fármaco? sabia que o canabidiol pode ajudar no tratamento do autismo, do Parkinson, epilepsia, Alzheimer, dores crônicas? sabia que tem uma indústria que fatura 6 bi de dólares e pode chegar a 20 bi em até quatro anos.

Esse é o próximo passo lá na frente, porque hoje a gente está falando das empresas poderem importar e utilizar a substância em medicamentos para diminuir a dificuldade e o preço, já que hoje é só pessoa física. Essa vai ser minha atuação, trazer dados que lá fora deram certo para a gente adaptar aqui no Brasil.

Dentro do governo existem posições antagônicas. Enquanto a Anvisa está fazendo esse processo do plantio em território nacional, que mesmo restritiva, tem muita gente contra, o próprio presidente falou que é a favor, mas não do plantio aqui. E temos o Osmar Terra, que é totalmente contra, e quer exclusivamente o sintético. Como o Partido Novo vê esse choque de interesse dentro do governo?

O Partido Novo é independente, e a gente reforça isso, a gente se posiciona a favor do governo nas pautas que tem a ver com a gente, as pautas econômicas. Vira e mexe a gente entra em alguns embates com o governo, o pessoal reclama, a gente vota contra alguns projetos, então se o governo se colocar contra a cannabis medicinal, o Novo como partido vai liberar. Por exemplo, descriminalização de drogas, o Novo libera o deputado para se posicionar como quiser. Então, se o governo apresentar alguma resistência, a gente vai ser contra o governo.

Mas temos que ir por partes. Não dá pra falar de plantio logo de cara. Vamos falar de liberar substância no Brasil para ser usada em medicamentos, para empresas importarem em larga escala, que já é um primeiro passo. O general se posicionou, acho que o presidente tem alguma simpatia no assunto. O maior problema é o ministro Osmar Terra, e aí nós vamos buscar o diálogo e conversar com o ministro para entender os argumentos dele.

Falar de plantio aqui no Brasil é um assunto que eu mesmo tenho que estudar mais, sinto que pode avançar lá na frente, mas não tenho argumentos para defender esse ponto. E pelo que eu percebo aqui no Congresso, se quiser passar tudo de uma vez não vai. Então é melhor pequenas conquistas para ter uma grande vitória lá na frente.

Liberal na economia e nos costumes ou só na economia, deputado?!

Estou caminhando para ser um liberal convicto em tudo. Acho que discutir descriminalização de drogas é um assunto inevitável no Brasil. Se você perguntar se eu sou a favor hoje, eu acho que isso não é prioridade nesse momento. Um país que 100 milhões de pessoas não têm esgoto em casa, que tem uma previdência deficitária, que tem um nível de crime com 60 mil assassinatos por ano... Então não é prioridade, mas eu topo discutir o assunto, eu não envolvo religião, não envolvo nenhum argumento que não seja racional para a gente caminhar para não ser conservador nos costumes. E isso diz respeito a aborto e outros temas também.