O cânhamo, o haxixe e as guerras de Napoleão: uma odisseia canábica no Egito
Conheça a história por trás da invasão do imperador francês ao continente africano e como suas decisões moldaram o futuro da cannabis no mundo
Publicada em 25/11/2023


Com estreia marcada para este mês no Brasil, no épico cinematográfico dirigido pelo aclamado diretor Ridley Scott, "Napoleão", o ator Joaquin Phoenix personifica o estrategista francês marchando pelos desertos do Egito, onde canhões apontam para as pirâmides. Embora a obra seja uma mistura de história e ficção, ela destaca um capítulo intrigante na vida de Napoleão Bonaparte, uma parte que envolve cannabis, invasões militares e proibições que ecoam até os dias atuais.
Confira o trailer do filme:
A história
Em 1798, o exército francês, liderado por Napoleão, invadiu o Egito com objetivos geopolíticos ambiciosos. Contudo, uma das maiores batalhas enfrentadas pelo imperador não foi travada nos campos de guerra, mas sim contra o crescente interesse de seus soldados pelo haxixe, derivado da planta Cannabis Sativa, como explica o artigo “Uma Breve História Global da Guerra contra a Cannabis”, escrito por Ryan Stoa para o The MIT Press Reader.
Após a invasão e, em uma tentativa de se adaptar à cultura local, os franceses começaram a frequentar mercados e cafés da região, onde a substância era parte integrante da vida cotidiana.
Ao contrário do mito popular, Napoleão não proibiu o haxixe durante a campanha no Egito. A proibição veio após a invasão, promulgada por Jacques-François Menou, um dos generais do imperador francês.
A motivação de Menou era dupla: resolver questões de saúde pública e ganhar o respeito da elite local, pois, ao se casar com a filha de um influente sunita egípcio, viu na proibição uma oportunidade estratégica.
A proibição de 1800, muitas vezes considerada a primeira lei de proibição de drogas do mundo moderno, não impediu a persistência do consumo de haxixe no Egito, uma prática enraizada na cultura egípcia desde 3.000 a.C. Os franceses, inadvertidamente, introduziram o hábito na Europa Ocidental, um paralelo à disseminação da maconha pelos veteranos americanos após a Guerra do Vietnã.
Além do haxixe, o cânhamo desempenhou papel crucial nas Guerras Napoleônicas. Com aplicações em sacos, cordas e vestuário, Napoleão buscou controlar sua produção para enfraquecer a aliança entre Inglaterra e Rússia, os principais produtores europeus. O Tratado de Paz de Tilsit, em 1807, reflete essa estratégia, onde menos cânhamo significava um exército mais vulnerável, uma tática para aumentar as chances de vitória em suas campanhas militares.
Assim, a saga de Napoleão no Egito revela não apenas um episódio pouco explorado de sua vida, mas também a intricada rede de relações entre conquistas militares, proibições e o papel vital das plantas na geopolítica da época. O filme de Ridley Scott promete trazer à tona esses elementos, oferecendo uma perspectiva única e fascinante sobre um período marcante da história mundial.