Lei da Cannabis Medicinal no Recife avança, mas ainda depende de regulamentação
Audiência pública discute a regulamentação da Política Municipal de Uso e Distribuição de Remédios Derivados da Cannabis
Publicada em 08/05/2025

Audiência pública na Câmara Municipal do Recife. Imagem: Câmara Municipal
Sancionada pelo prefeito João Campos em 28 de novembro de 2024, a Lei Municipal nº 19.324/2024, que institui a Política Municipal de Uso e Distribuição de Remédios Derivados da Cannabis Medicinal no Recife, ainda aguarda regulamentação para entrar em vigor de forma efetiva.
O projeto, de autoria da vereadora Cida Pedrosa (PCdoB), foi subscrito por 25 parlamentares e visa garantir o acesso gratuito a medicamentos à base de cannabis para pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). Na última quarta-feira (7), Cida promoveu uma audiência pública na Câmara Municipal para discutir a implementação da norma.
Durante a audiência, representantes da sociedade civil, universidades, entidades do setor terapêutico e o poder público reforçaram que detalhar os procedimentos legais e administrativos é essencial para que a política produza efeitos reais para a população recifense.
A vereadora abriu o debate afirmando que a cannabis salva vidas e lembrou que os derivados da planta são eficazes no tratamento de diversas doenças, como epilepsia, autismo, Parkinson, Alzheimer, câncer e náuseas. No entanto, o alto custo dos medicamentos e o preconceito ainda são obstáculos para muitos pacientes.
“Há também uma vasta gama de preconceito e desinformação que dificultam a aquisição dos medicamentos. Muitos médicos evitam prescrever o canabidiol”, afirmou Cida Pedrosa.
Especialistas e entidades reforçam apoio à política canábica
Os participantes da audiência ressaltaram que medicamentos produzidos por grandes laboratórios chegam a custar até R$ 4 mil, tornando o tratamento inacessível para a maioria da população. As associações de pacientes foram lembradas como alternativa mais acessível, mas que ainda precisam de mais apoio legal e institucional.
“Se o direito à saúde é constitucional, garantir o acesso aos remédios derivados da cannabis é um direito democrático”, disse a vereadora.
Maria do Socorro de Lima Oliveira, vice-reitora da UFRPE destacou o envolvimento da instituição em pesquisas com a planta e defendeu a regulamentação do cultivo para fins científicos. “Vamos colocar o nome da UFRPE nessa luta. Somos a favor da cannabis e do uso gratuito dos medicamentos”, afirmou.
Já a pesquisadora Ana Cláudia criticou a burocracia da Anvisa que limita o avanço das pesquisas e o acesso às sementes para cultivo. Ela defendeu a união de esforços entre universidades e associações.
OAB, médicos e o papel das forças de segurança
Sérgio Urt, da Comissão de Direito da Cannabis Medicinal da OAB, lembrou das dificuldades enfrentadas até dentro da própria instituição para tratar do tema.
“Mesmo com receita médica, não é fácil adquirir os medicamentos. Precisamos dialogar com as forças policiais para que entendam o caráter terapêutico da cannabis.”
O médico Wilson Freire rebateu o argumento da falta de comprovação científica, apresentando teses de doutorado e estudos recentes sobre o canabidiol. Ele exibiu materiais e imagens que evidenciam o antes e depois de pacientes tratados com cannabis. “Maconha salva vidas”, afirmou.
Caminhos para a regulamentação: formação e apoio institucional
O representante da Secretaria de Saúde do Recife, João Victor, declarou que o município está aberto à regulamentação e à inserção da cannabis no SUS. No entanto, cobrou a criação de um grupo de trabalho específico.
Cida Pedrosa encerrou a audiência com encaminhamentos claros:
- Elaboração de um relatório oficial a ser enviado à Prefeitura do Recife
- Criação de um grupo de trabalho para acompanhar a regulamentação
- Garantia de que apenas médicos definirão o uso dos medicamentos, com necessidade de formação profissional adequada
- Inclusão de todas as patologias, sem restrição por tipo de doença
- Apoio à pesquisa científica e às associações legalmente constituídas
- Envio de ofício ao Governo do Estado, repudiando ações truculentas da PM contra associações de cannabis
Com informações da Câmara Municipal de Recife