Cannabis aliada no tratamento de dores neuropáticas em pacientes com diabetes  

Uma das complicações vinculadas à diabetes é a neuropatia diabética, que impacta os nervos periféricos, principalmente nas mãos e nos pés

Publicada em 31/08/2023

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Por redação Sechat

A diabetes, uma síndrome metabólica complexa originada por diversos fatores, é uma condição que não apenas afeta os níveis glicêmicos, mas também desencadeia uma série de desafios neurológicos.  

Um dos problemas mais comuns e intrincados que os pacientes diabéticos enfrentam é a neuropatia diabética, uma complicação que resulta do impacto nos nervos e pode causar dores neuropáticas intensas. 

Estima-se que a neuropatia diabética afete até 50% dos indivíduos com diabetes, manifestando-se de maneira variada conforme os nervos atingidos. Essa complicação resulta da insuficiência de insulina e da sua incapacidade de desempenhar suas funções de maneira adequada.  

Os nervos periféricos, especialmente nas extremidades do corpo como mãos e pés, são frequentemente afetados, gerando sintomas como dor, diminuição da sensibilidade, sensações de formigamento e enfraquecimento muscular. Além disso, podem surgir manifestações mais graves decorrentes das alterações no sistema nervoso somatossensorial (capacidade do corpo em receber informações de diferentes partes). 

Para mitigar as dores neuropáticas, o tratamento visa regular os níveis glicêmicos e administrar fármacos que auxiliam no controle dos sintomas. Nesse contexto, o uso medicinal de canabinoides emerge como uma opção promissora. Essas substâncias têm sido associadas a efeitos analgésicos e à redução de inflamações, potencialmente aprimorando as abordagens terapêuticas convencionais. 

Estudos recentes, como o conduzido pela Zelira Therapeutics nos Estados Unidos, exploraram o potencial dos canabinóides para aliviar a dor em pacientes diabéticos. A pesquisa envolveu grupos de pacientes tratados com um composto experimental à base de canabinóides, ZLT-L-007, e Pregabalina, um medicamento convencional para controle da dor neuropática.  

Os resultados mostraram que aqueles tratados apenas com canabinóides apresentaram uma redução significativa da gravidade dos sintomas, com diminuições de 33%, 71% e 78% nos primeiros 30, 60 e 90 dias de uso, respectivamente. Essa abordagem demonstrou eficácia superior em relação ao composto tradicionalmente utilizado. 

José Manzi, diretor médico da Simples Cannabis, empresa que viabiliza o atendimento e acesso aos produtos de cannabis, destaca a promissora pesquisa sobre o uso de cannabis medicinal no tratamento da dor neuropática. 

“O estudo demonstrou melhor eficácia em relação ao tratamento com pregabalina, que atualmente é a primeira linha. Mostrou diferença significativa de resultado entre o primeiro e o terceiro mês de tratamento, o que também nos lembra a importância da aderência e da compreensão do tempo para se obter resposta ótima”, comenta Manzi. 

A pesquisa também realça a ausência de efeitos colaterais, indicando que a terapia com canabinóides proporciona alívio expressivo das dores neuropáticas e é bem tolerada pelo organismo dos pacientes. No entanto, é essencial que a aplicação dessa terapia seja conduzida e avaliada individualmente por especialistas médicos. 

Esse avanço científico sinaliza um progresso significativo na medicina, ao comprovar o potencial dos canabinóides como uma nova classe terapêutica para tratar condições de difícil manejo, como a dor neuropática decorrente da diabetes. Isso se alinha com outros usos já estabelecidos da cannabis medicinal no tratamento de ansiedade e formas raras de epilepsia. 

No Brasil, o tratamento com canabidiol só é possível mediante prescrição médica e autorização prévia da Anvisa.