Cannabusiness summit: Cannabis não é só um negócio, mas uma causa
Evento reuniu mais de 20 palestrantes entre empresários, médicos, políticos e advogados ligados à cannabis medicinal em São Paulo; veja como foi
Publicada em 28/11/2019
São Paulo recebeu, nesta quarta-feira (27), seu quarto evento de negócios voltado ao mercado de Cannabis medicinal no ano de 2019 - o Cannabusiness Summit. Mais de 20 palestrantes, entre empresários, médicos, políticos e advogados ligados ao setor no Brasil debateram com um público que lotou a Casa Natura, no bairro Pinheiros. Plateia esta formada por investidores e muitas caras novas para o setor, que após o encontro, puderam entender que a cannabis, muito mais do que um negócio, é uma bandeira.
"É preciso deixar claro que não é apenas uma indústria, mas uma causa. E vocês vão ter que defender essa causa em ambientes que talvez não aceitam a cannabis", destacou Tarso Araújo, diretor do documentário 'Ilegal' e que hoje atua como CBDO da Entourage Phytolab.
O evento foi promovido pela GS&MD, da Gouvêa de Souza, um dos principais grupos de varejo do país, e contou com apoio do portal Sechat.
Tarso Araújo participou do primeiro painel do evento, junto do colega Denis Burgierman, que escreve sobre maconha na Época, e Norberto Fischer, pai da Anny, paciente com epilepsia protagonista do 'Ilegal'. Os três contaram sobre os bastidores do filme e os avanços na legislação brasileira para a Cannabis desde que a produção foi ao ar, em 2014.
Um painel 100% feminino
A segunda mesa, "Aplicações e evidências clínicas e científicas", mostrou como a cannabis é um setor onde as mulheres estão conquistando mais espaço, ao reunir apenas presenças femininas: as empresárias Gabriela Cezar, CEO da Panarea Partners Cristiana Taddeo, CEO da HempCare Pharma, e a Dra. Ana Hounie, especialista em terapia canabinoide. A mediação foi da Viviane Sedola, da Dr Cannabis.
Gabriela apresentou as operações da Panarea no Uruguai, país que recebeu bastante elogios da executiva pela sua legislação favorável aos negócios. As operações da empresa no país vizinho já foram tema de reportagem do portal. Cristiana Taddeo contou sua história com a cannabis, que começou há 10 anos, quando ela fez um transplante de rim e passou a usar cannabis no lugar dos corticóides:
"Fez bem, não só para recuperação da cirurgia, mas para todo meu corpo", destacou.
Após os resultados, ela criou a fundação BeHemp, que hoje atende mais de 600 pacientes, ao mesmo tempo que é CEO da HempCare, empresa que desenvolve diversas linhas com CBD, desde infantil, para mulheres, atletas e idosos. Já a Dra Ana conversou com o público sobre as aplicações da cannabis medicinal e os efeitos colaterais.
Desafios da semente à venda - oportunidades de negócios auxiliares e demandas
Num painel com atores de fora do setor de Cannabis, chamou atenção a fala de Felipe Abdo, diretor da Iqvia, uma empresa líder no uso de informação, tecnologia e análises sobre saúde. Segundo relatório da Iqvia, o número pacientes não-únicos que podem se beneficiar da cannabis medicinal no Brasil é de 200 milhões - quase a população total do país.
No entanto, uma das barreiras é a qualidade das evidências e estudos. Por exemplo, do universo de 14,7 mil psiquiatras, pouco mais de 400 possuem algum estudo referente a canabidiol ou THC, destacou Abdo. Por fim, ele explicou que, uma vez no mercado, o desafio será distribuir o produto, já que no Brasil são 80 mil farmácias ativas, com concentração sobretudo nas redes lojas da Abrafarma.
Regulação: o que deve acontecer com o Brasil
Focado em questões políticas, o painel sobre regulação recebeu os deputados federal Eduardo Costa (PTB/PA) e estadual Caio França (PSB), de São Paulo. Costa é membro da comissão especial da Câmara sobre medicamentos com cannabis e tem defendido bastante a pauta no Congresso e em eventos. O político lembrou que, apesar do poderio do capital, são as mães e pacientes os protagonistas dessa causa e é graças a eles que o assunto chegou a esse nível de discussão.
"Muitos interesses envolvem esse tema, econômicos, políticos, que fazem com que a gente levante esse tema. Contudo é a demanda da sociedade que faz com que a gente possa trabalhar para viabilizar a cannabis medicinal no país. São as mães e os pacientes, a história de cada um que cada vez é mais divulgada. Eles são os verdadeiros responsáveis".
Caio França, que é autor de um Projeto de Lei que obriga o fornecimento de medicamentos com cannabis pelo SUS, teve uma fala mais forte: chamou de "estúpida" a estratégia de dois diretores da Anvisa de atrasar a votação das resoluções sobre a cannabis.
"É difícil aceitar que nosso país esteja tão retrógrado nesse assunto. E quando um diretor da Anvisa pediu vista e depois pediu férias, chega a ser uma coisa estúpida, porque quando o debate está no campo das ideias, é do jogo da política, você defende, tem um contra argumento. Agora você encontrar caminhos obscuros para dificultar o debate... é por isso que o meu projeto está aqui, assim como outras assembleias vão apresentar projetos como esse".
"95% dos insumos farmacêuticos no Brasil são importados, não queremos isso para cannabis"
No mesmo painel, também debateu o presidente da Abiquifi, a Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos. Norberto Prestes falou sobre o grupo de trabalho da cannabis medicinal formado pela entidade, que reúne 12 importantes empresas do setor. A iniciativa começou em abril e visa a produção de cannabis no país.
"95% do insumo farmacêutico no Brasil é importado. A gente trabalha para diminuir essa dependência. Nós temos interesse que os insumos de cannabis sejam fabricados no Brasil, inclusive para exportação".
O potencial de investimento e mercado da cannabis no Brasil
Esta mesa colocou empresários que já atuam no mercado de cannabis no Brasil. Foram eles: Gustavo Palhares, CEO da EaseLabs, Marcelo Galvão, da Onixcann | CanTera, Matheis Patelli, da HempMeds Brasil, além do advogado Beto Vasconcelos, sócio da XVV Advogados. Foi um debate onde cada executivo pode apresentar sua empresa e conversar com o público sobre as melhores formas de investir em companhias de cannabis hoje.
Beto brincou que hoje, no Brasil, só quem está ganhando dinheiro legalmente com maconha são os advogados: "se quiserem investir, invistam num escritório de advocacia"! O jurista, no entanto, orientou os investidores a ficarem com os olhos atentos nos Projetos de Lei do Congresso, na regulamentação da Anvisa e, principalmente, na ADI 5708 do STF, que descriminaliza o usuário de drogas.
Mercado mundo
O último painel fez um exercício de futurologia para o mercado brasileiro. Reuniu os empresários Marcel Grecco, da The Green Hub, Henning Von Koss, da PharmaCielo, e José Bacellar, da VerdeMed. Os painelistas projetaram cenários regulamentados para a cannabis no país e fizeram apostas otimistas e pessimistas para o mercado. Apostas estas que serão trazidas para o próximo Cannabusiness Summit, em 2020.