Congresso Brasileiro da Cannabis Medicinal amplia debate sobre os negócios da cannabis; entenda por que o Brasil é um mercado promissor
O remédio para curar essa “miopia” é informar os investidores para que os olhos deles focalizem a diversificação do rol de produtos. Quanto à regulamentação, ainda parece ser uma longa estrada a ser percorrida.
Publicada em 24/04/2023
Por Redação Sechat
O Congresso Brasileiro da Cannabis Medicinal dedicará uma boa parte da programação para abordar os negócios da cannabis medicinal e industrial. O Brasil aparece nesse cenário como um mercado com grande potencial. Porém, falta de informação sobre o potencial da planta e limitações impostas pela legislação brasileira restringem a indústria ao setor medicinal.
O remédio para curar essa “miopia” é informar os investidores para que os olhos deles focalizem a diversificação do rol de produtos. Quanto à regulamentação, ainda parece ser uma longa estrada a ser percorrida.
“O Brasil é um mercado gigantesco por ser um país populoso, com grande consumo de medicamentos fitoterápicos, forte no agronegócio e o mercado consumidor de beleza é o quarto maior do mundo”, afirmou acordo com Thiago Cardoso, chefe de inteligência da Kaya Mind, plataforma de educação, conhecimento, acompanhamento e soluções para os negócios da cannabis sativa, o cenário é promissor em solo brasileiro.
O mercado da cannabis dobra a cada ano, segundo os relatórios da empresa de inteligência.
Essas são algumas razões para o surgimento de novas empresas em um mercado com regulamentação ainda limitada, mas que avança. A cannabis medicinal pode faturar até R$ 9,5 bilhões de reais em um período de quatro anos após a regulamentação ampla. É esse potencial que tem despertado o interesse de novos investidores.
Atualmente, existem cerca de 80 empresas com CNPJ aberto com atuação relevante no mercado nacional.
Algumas já se destacam com mais de cinco mil funcionários. O “Anuário da Cannabis no Brasil” mostra os segmentos com maiores destaques, são fabricantes de produtos derivados da planta, importadores, representantes da indústria farmacêutica e clínicas. O cadastro de pacientes atingiu a marca de 187.500 até novembro de 2022, considerando importação, farmácia e associações, com cerca de 1900 itens disponíveis para acesso no mercado nacional.
Não é exagero dizer que o mercado da cannabis é mais um gigante da economia. Nos últimos anos, a média de faturamento anual foi de R$ 400 milhões. Em 2023, o saldo deve fechar em uma quantia aproximada de R$ 700 milhões.
“O que as empresas veem no Brasil é um potencial futuro que está começando a ser realizado agora, mesmo sem uma regulamentação ampla que atenda a todas as partes interessadas (stakeholders). Já existem autarquias fazendo regulamentações independentes ou paralelas, como é o caso da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Por isso, o mercado medicinal ganha cada vez mais tração para avançar”, analisou.
Os desafios
Mas, nem tudo são flores. Ao mesmo tempo em que novas empresas são abertas, muitas fecham as portas por motivos cruciais para a longevidade de qualquer empreendimento. Como a regulamentação no Brasil não é ampla, muitas empresas iniciam as operações com o caixa no vermelho e não têm fôlego para permanecer no mercado até começarem a ser lucrativas.
No ponto de vista do chefe de inteligência, ao seguir a premissa estabelecida por empresas como Rappi, Uber e iFood, que priorizavam o crescimento a todo custo e não com balanceamento, faturamento e lucratividade, muitos empreendimentos começaram a ter “setbacks” (contratempos) que comprometeram suas atividades e o setor foi levado ao cenário de retração.
Na esfera global, muitas startups também tiveram prejuízos, o efeito colateral foi a retirada do capital de risco (venture capital), modalidade de investimento focada em empresas de até médio porte que possuem alto potencial de crescimento.
Inverno de tecnologia e unicórnios
“Fazendo uma comparação com os anos de 2020 e 2021, nós tivemos em 2022 o pior período de investimentos desde o início da pandemia. Os fundos de investimentos “tiraram o pé” por receio de colocar dinheiro no Brasil.”
Países da América do Norte, Europa, Ásia e África que conseguiram avançar na regulamentação construíram um mercado mais consolidado. Por isso, nações com menor potencial econômico conseguem obter mais lucro com menores investimentos, quando são comparadas ao Brasil.
Barreiras não faltam por aqui
A falta de informação é mais uma barreira a ser superada para o avanço esperado. Como a legislação é limitada, o mercado nacional está travado no medicinal, com destaque para a importação.
Thiago contou que representantes de um dos maiores fundos de investimento do mundo não enxergam o mercado de cannabis no Brasil a longo prazo. Essa conclusão se baseia em dois pilares, as importações estão em mãos de pequenas empresas e as farmácias são dominadas por players “gigantescos”.
O modelo atual do mercado de cannabis serviria para investimentos de curto prazo, ou seja, entender a escalabilidade de curto prazo e fazer a distribuição dos lucros para os acionistas antes da venda da empresa. “Os investidores acreditam que no longo prazo esse mercado vai ficar com as grandes farmacêuticas”, comentou.
“A cannabis não é prioridade do atual governo para 2023. Isso nós já ouvimos da boca da maioria dos ministros. O governo vai apagar chamas a todo momento e, dificilmente, um desses ministros vai levantar essa bandeira de forma mais agressiva. Apesar da mudança da presidência ter sido da água pro vinho, saindo de uma extrema-direita e partindo para um centro-esquerda, vamos dizer assim, por outro lado, no Senado e no Congresso houveram mudanças muito sutis nas cadeiras. A composição não é favorável para o avanço da cannabis. A maioria dos deputados e senadores são contrários ou preferem não se engajar na pauta. Além disso, a presidência do senado e congresso, praticamente, decide quando que projetos, como a PL 399/2015, vão ser pautados. Então, nesse cenário, muda muito pouco do que tínhamos no ano passado”, finalizou.