Deputada se posiciona contra a liberação da maconha para fins medicinais; veja a opinião de especialistas

Ladislau Porto: a fala da deputada demonstra o desconhecimento sobre os benefícios medicinais da planta

Publicada em 29/10/2023

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Por Leandro Maia

A deputada federal Silvia Waiãpi, do Partido Liberal do Amapá, afirmou que está atuando no Congresso Nacional para que a maconha não seja liberada para fins medicinais no Brasil.

“Nós sabemos que o discurso de liberação da maconha para fins medicinais é baseado no uso de uma substância chamada canabidiol. Porém, a maconha é considerada ilícita por conta do THC, que é o alucinógeno que também faz parte da cannabis sativa”, disse.

Em outro trecho do vídeo, a parlamentar apresentou uma alternativa para as famílias que precisam de medicamentos à base da planta, como o CBD - canabidiol, para o tratamento de diversas patologias. Waiãpi sugeriu que, em vez da cannabis, a Trema micrantha ou africana, que pertence à mesma família canabácea, fosse utilizada para a extração do CBD.

Veja o vídeo na íntegra:

https://www.youtube.com/watch?v=kGUQNUZ0ItU

Leia o contraponto:

Segundo Jimmy Fardin, médico que acompanha de perto a evolução da medicina endocanabinoide, ainda existe uma confusão de conceitos envolvendo a cannabis, já que a planta possui vários canabinoides, como o Canabidiol e o Tetraidrocanabinol, o famoso THC.

"A questão é o estigma que é atribuído ao THC, principalmente por ter uma ligação maior com os receptores cerebrais, podendo gerar efeitos como sonolência, euforia e lapso de memória recente, mas não alucinação. Porém, isso vai depender da dose. Se a pessoa fuma a erva, ela descarboxila demais a molécula do THC, logo ingerirá uma quantidade muito maior do que a dose recomendada, podendo surgir efeitos colaterais como sedação, danos, adinamia, e a imagem clássica do usuário atribuída a quem usa. Exatamente o cuidado na dose e acompanhamento do paciente para que ele tome a quantidade adequada e ideal para ele", explicou Jimmy. O texto de opinião do nosso colunista será publicado na íntegra nesta segunda-feira, dia 30 de novembro, no portal Sechat.

De acordo com o empresário do setor canábico, André Neumann, quando existe uma proposta de utilização de outra planta para a produção de produtos com canabidiol, cria-se uma limitação no setor da cannabis medicinal, principalmente se o THC for ignorado.

"Temos que considerar que 'maconha' é um termo genérico aplicado à cannabis e especificamente ao uso recreativo. É importante diferenciar da cannabis medicinal. Este é considerado não psicoativo quando tem até 1% de THC e psicoativo quando ultrapassa este valor, independentemente do percentual de CBD. Porém, o THC também é terapêutico e necessário para tratar algumas patologias. Na medida em que outra planta possa fornecer canabidiol, estamos limitando a aplicação da cannabis medicinal, principalmente se não contém THC. Sem esquecer que há outros canabinóides que são importantes. No Brasil, inúmeras entidades têm pesquisado a cannabis, e os resultados são compatíveis com os milhares de outras pesquisas em outros países. Portanto, é mais do mesmo. A cannabis não tem substitutos; o que é importante é que as autoridades sanitárias fiscalizem a origem para que não seja confundida com a 'maconha'", concluiu.

No ponto de vista do advogado Ladislau Porto, a fala da deputada federal Silvia Waiãpi reflete a falta de conhecimento sobre o uso medicinal da maconha.

"Duas coisas me chamam a atenção. A primeira é a falta de conhecimento sobre o tema. Nem o CBD e nem o THC são substâncias proibidas. São substâncias controladas, uma proscrita pela Portaria 344 da Anvisa, que é o THC, e a outra prescrita , que é o CBD. Isso já mostra falta de conhecimento. Outra coisa que me chama a atenção é a falta de conhecimento sobre o efeito medicinal do THC. É uma pena que as pessoas se deparam com o preconceito e não têm uma visão mais abrangente do que é o tratamento de fato”, ressaltou.