Desenvolvimento da cannabis medicinal se esbarra em interesses econômicos
Leonel Radde: a pauta da maconha não lida só com a questão medicinal ou terapêutica, lida com a cadeia econômica de fibra, alimento e cosméticos
Publicada em 23/12/2022
O deputado estadual eleito pelo Rio Grande do Sul, Leonel Radde (PT), afirmou, em entrevista ao Sechat, que o desenvolvimento da cannabis medicinal no Brasil se esbarra em interesses econômicos. Segundo o parlamentar, que ainda na função de vereador conseguiu aprovar, agora em dezembro em Porto Alegre, o Projeto de Lei de Incentivo à Pesquisa, algumas multinacionais da indústria farmacêutica não querem concorrência em países subdesenvolvidos, como o Brasil.
Para isso, foi criada a pauta de criminalização e demonização da cannabis sativa.
"É natural que exista esse tensionamento baseado em uma pauta moral”, afirmou.
De acordo com o parlamentar, essa ideia do moralismo familiar e religioso nada mais é do que uma cortina de fumaça para esconder os interesses econômicos.
“Usam o medo, a droga, mas, na verdade, é a questão econômica (que preocupa)”, criticou.
Durante a entrevista, Radde preferiu apenas refletir sobre o ponto de vista legal da discussão.
“Não vou, nem, entrar na lógica de financiamento ilícito e corrupção devido a essa política do proibicionismo total no país”, ponderou.
Este ano foi aprovado em Porto Alegre o programa Farmácia Viva, institucionalizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), com orientação técnica, desde o cultivo, a coleta, o processamento, o armazenamento de plantas medicinais, a manipulação e a dispensação de preparações de plantas medicinais e fitoterápicos.
De acordo com Radde, autor do projeto, o objetivo é que Porto Alegre se torne polo de referência no desenvolvimento e no uso especializado de plantas medicinais como parte de sua estratégia de saúde.
A disputa pelo mercado da cannabis medicinal
Leonel Radde, político brasileiro.
Os laboratórios que não detêm as patentes e que vão se enfraquecer com o autocultivo e com iniciativas de barateamento, como a Farmácia Viva, que não lidam com a cadeia econômica, tem muito receio de perder faturamento com alguns remédios que deixaram de ser utilizados e que são extremamente caros e não tem esse viés do autocultivo e baixo custo”, defendeu.
Ainda segundo Radde, as multinacionais, que já fazem a produção do óleo, não têm o interesse de ter uma disputa internacional.
“Querem continuar tendo um certo monopólio ou oligopólio internacional e vedando que países subdesenvolvidos possam fazer o seu cultivo e ter o seu mercado próprio”, concluiu.