<strong>Dizer que o cânhamo irá dominar a agricultura brasileira é uma panaceia: Veja a análise de Rolim</strong>

Embora o cânhamo apresente um enorme potencial e possa permitir que diversas indústrias se tornem mais sustentáveis, é importante salientar que essa cultura tem um público específico

Publicada em 03/04/2023

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Por Lorenzo Rolim da Silva

Há um entendimento errôneo que tem sido difundido por algumas pessoas no Brasil de que, quando a produção do cânhamo e da cannabis forem permitidas no país, essa cultura se tornará a mais importante do mercado agrícola e será usada em tudo o que for possível, desde alimentos, papel, concreto, celulose e até nanotubos de carbono. Porém, como uma autoridade no assunto, devo afirmar que isso não é verdade.

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Embora o cânhamo apresente um enorme potencial e possa permitir que diversas indústrias se tornem mais sustentáveis, é importante salientar que essa cultura não é para todos. O cânhamo é uma cultura de nicho que tem um público específico e não pode ser considerado como a solução para os mais variados problemas. Se, por milagre, amanhã fosse possível cultivar cânhamo no Brasil e algum produtor rural tivesse vontade de plantar 10 mil hectares (o que é basicamente nada em relação a soja, o milho, o trigo, o café, etc….) não há sequer semente suficiente no mundo para cobrir a área em tão pouco tempo.

Além disso, podemos pegar exemplos de vários países que permitem o cultivo do cânhamo há muitos anos e que nunca se viu essa dominância completa sobre outras culturas. Em vez disso, o cânhamo é cultivado em áreas específicas e é utilizado em uma variedade de produtos, incluindo papel, têxteis, cosméticos e até mesmo como fonte de proteína na alimentação humana.

No entanto, é importante destacar que a regulamentação do cânhamo e da cannabis é um passo importante para a economia do país e para a saúde pública. Com ela, será possível controlar a qualidade dos produtos, garantir a segurança dos consumidores e criar um mercado legal e regulamentado.

Ademais, o cânhamo também pode ser uma alternativa interessante para as culturas convencionais, como o algodão e o milho, que utilizam muitos insumos químicos e são altamente dependentes de água. O cânhamo, por outro lado, é uma cultura resistente que não requer muitos insumos químicos e pode ser cultivado em áreas com baixa disponibilidade de água.

Em resumo, trata-se de uma planta com enorme potencial, mas não podemos acreditar em falsas alegações de que  dominará a agricultura brasileira. Estamos falando de  uma cultura de nicho com  público específico e pode ser uma alternativa sustentável para os cultivos convencionais. A regulamentação é um passo importante para a economia e para a saúde pública do país.

Lorenzo Rolim da Silva é Engenheiro Agrônomo e presidente da LAIHA (Associação Latino-Americana de Cânhamo Industrial).