Dia da Mulher: médicas e advogadas contam suas percepções do setor canábico

Em celebração ao dia 8 de Março, o Sechat conta uma série de histórias de mulheres que atuam na causa canábica

Publicada em 07/03/2020

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Por Caroline Apple e Izabela Canário*

Para comemorar o Dia Internacional da Mulher, o Sechat preparou uma série de matérias especiais para contar um pouco da trajetória das mulheres que estão ajudando a revolucionar a história da Cannabis no Brasil.

Na primeira matéria do especial, contamos a história de mulheres que estão à frente das associações de pacientes, cultivo e promoção do uso da Cannabis, que trouxeram um relato sincero de como é ser mulher dentro do universo canábico e como lidam com o preconceito e o machismo presentes também nessa área.

A segunda parte dessa série e entrevistas traz o posicionamento de empresárias do setor que ocupam cargos de liderança dentro dos negócios da Cannabis e colaboraram para tornar esse universo ainda mais cheio de mulheres.

Para fechar o especial é a vez de médicas e advogadas contarem suas percepções sobre a presença e a atuação da mulher no setor canábico na medicina e no direito.

Confira os relatos das mulheres que vivem de perto essa realidade:

Dra. Carolina Nocetti – Médica consultora especializada em Cannabis

Foto: Câmara dos Deputados

“O ambiente de trabalho paramulheres é desafiador no Brasil e em outros países, no mercado de cannabis nãoé diferente. No Canadá, por exemplo, em 2019, das 99 empresas com informaçãopúblicas disponíveis, apenas sete eram lideradas por mulheres.

Atualmente, os númerosbrasileiros estão menos discrepantes em relação a mulheres em posições deliderança. Não vejo mais preconceito em específico no mercado da Cannabisquando comparado a outros mercados.

Alguns locais ainda mantém umnúmero mais equilibrado de mulheres em cargos de liderança, mas as pesquisastambém mostram um declínio neste número. Há uma tendência de diminuição do númerode mulheres em posições de liderança à medida que as regulamentaçõestransformam o ambiente para uma estrutura mais corporativa.

A luta pelo acesso a Cannabisfoi liderada pelas mães de crianças que precisavam da planta para seutratamento. Acredito que o destaque vem do exemplo de resiliência edeterminação que também inspira outras mulheres a fazerem parte destemovimento.

A mudança no padrão cultural ea maior atuação das mulheres no mercado de trabalho tem atraído cada vez maistalentos femininos para o ecossistema da Cannabis no Brasil e em outros países.A empatia combinada as novas visões estratégicas pela perspectiva das mães têmguiado decisões mais centradas nas dores que elas enfrentam no dia a dia. 

Acredito que a mulher vai se destacar cada vez mais não somente do mercado da Cannabis, mas também em outros mercados. Hoje, nas faculdades de medicina, há mais mulheres que homens, isso demonstra uma mudança de padrão. No mercado da Cannabis no Brasil, há um número importante de mulheres em cargos de liderança e também um crescente número delas nas operações de empresas locais.”

Dra. Paula Dall’Stella – Médica

Foto: Arquivo pessoal

“Acredito que algum tempo atrás,o preconceito deveria ser uma situação comum, visto que esse era um cenário[área da Cannabis] majoritariamente composto por homens. Mas hoje, não vejoisso acontecer, pelo contrário. Vejo muitas mulheres neste setor, trabalhandoem diversas frentes, com propósitos semelhantes, mas com uma incríveldiversidade de oportunidades.

Eu acho incrível as mulheresestarem à frente em vários setores na quando o assunto é Cannabis. Em um setordominado pelo universo masculino por tantos anos, as mulheres foram muito bemrecebidas e estão sabendo se colocar.

Acredito que pela diversidadede atuações, flexibilidade e um ambiente com uma mente mais ‘liberal’, asmulheres podem desempenhar melhor e mostrar ótimos resultados. Semelhante aproposta da Women Grow, que foi criada por mulheres bem-sucedidas para mulheresda indústria da Cannabis criando programas, comunidade e eventos paraexecutivos aspirantes e atuais.

Acho que a mulher vem sedestacando não apenas no assunto Cannabis, mas de forma geral, estamos vendocada vez mais mulheres em posições antes ocupadas por homens e esse cenário mudacada dia mais. Acredito que um dos motivos delas estarem se destacando é pelofato de ser uma atividade quase totalmente nova, com possibilidades de criaçãode novos negócios e oportunidades. E, obviamente, traz consigo uma mente maisaberta, mais flexível e isso para as mulheres funciona perfeitamente.

Ainda não somos a maioria noscargos mais elevados, mas acredito que esse cenário vai ser bem diferente nospróximos anos.”

Marcela Goldschimidt – Advogada da Rede Reforma

Foto: Arquivo pessoal

“Acreditoque as mulheres ainda sofram preconceito na medida em que os homens têm maisespaço de fala e oportunidades no Brasil. Porém, pesquisas nos Estados Unidosnão só mostram que as mulheres ocupam cada vez mais cargos de liderança naindústria da Cannabis, como também encontram formas de elevar outras mulheresna medida em que sobem. Acredito que o crescimento das mulheres nesse setor sedê em virtude da consciência da necessidade de incluir outras mulheres.

Vejo que as mulheres têmpotencial para liderar a indústria em qualquer área, devido a capacidade dedesenvolver várias atividades ao mesmo tempo, maior inteligência interpessoal ecriatividade para solucionar conflitos. Trata-se apenas de uma questão deoportunidade.

As mulheres estão envolvidascom a questão da Cannabis em todos os setores. São as mães que lutam paracultivar o remédio para seus filhos, as médicas que prescrevem, as empresáriasque investem nesse mercado, as ativistas que representam a causa, as advogadasque garantem o acesso à saúde. É fácil imaginá-las conquistando cada vez maisespaço nessa indústria.”

Ana Izabel Carvana de Hollanda – Advogada

Foto: Arquivo pessoal

“É um mercado que está seiniciando, felizmente, até o momento, não sofri qualquer tipo de preconceito.

A mulher em destaque naindústria da Cannabis, assim como em outras áreas, é uma grande conquista. Issodemonstra à sociedade em geral que devemos ser respeitadas em todas as áreasque estivermos envolvidas. Não há espaço para qualquer tipo de preconceito oudesrespeito.

Entendo que a mulher, de um modo geral, se destaca em qualquer assunto que se envolver. E com a Cannabis não poderia ser diferente. Acho que a mulher vai se destacar cada vez mais nesta área e em qualquer outra que estiver disposta a se dedicar. A força feminina de realização e muito forte e assertiva.”

*Estagiária com supervisão