Dia da Mulher: médicas e advogadas contam suas percepções do setor canábico

Por Caroline Apple e Izabela Canário*

Para comemorar o Dia Internacional da Mulher, o Sechat preparou uma série de matérias especiais para contar um pouco da trajetória das mulheres que estão ajudando a revolucionar a história da Cannabis no Brasil.

Na primeira matéria do especial, contamos a história de mulheres que estão à frente das associações de pacientes, cultivo e promoção do uso da Cannabis, que trouxeram um relato sincero de como é ser mulher dentro do universo canábico e como lidam com o preconceito e o machismo presentes também nessa área.

A segunda parte dessa série e entrevistas traz o posicionamento de empresárias do setor que ocupam cargos de liderança dentro dos negócios da Cannabis e colaboraram para tornar esse universo ainda mais cheio de mulheres.

Para fechar o especial é a vez de médicas e advogadas contarem suas percepções sobre a presença e a atuação da mulher no setor canábico na medicina e no direito.

Confira os relatos das mulheres que vivem de perto essa realidade:

Dra. Carolina Nocetti – Médica consultora especializada em Cannabis

Foto: Câmara dos Deputados

“O ambiente de trabalho para mulheres é desafiador no Brasil e em outros países, no mercado de cannabis não é diferente. No Canadá, por exemplo, em 2019, das 99 empresas com informação públicas disponíveis, apenas sete eram lideradas por mulheres.

Atualmente, os números brasileiros estão menos discrepantes em relação a mulheres em posições de liderança. Não vejo mais preconceito em específico no mercado da Cannabis quando comparado a outros mercados.

Alguns locais ainda mantém um número mais equilibrado de mulheres em cargos de liderança, mas as pesquisas também mostram um declínio neste número. Há uma tendência de diminuição do número de mulheres em posições de liderança à medida que as regulamentações transformam o ambiente para uma estrutura mais corporativa.

A luta pelo acesso a Cannabis foi liderada pelas mães de crianças que precisavam da planta para seu tratamento. Acredito que o destaque vem do exemplo de resiliência e determinação que também inspira outras mulheres a fazerem parte deste movimento.

A mudança no padrão cultural e a maior atuação das mulheres no mercado de trabalho tem atraído cada vez mais talentos femininos para o ecossistema da Cannabis no Brasil e em outros países. A empatia combinada as novas visões estratégicas pela perspectiva das mães têm guiado decisões mais centradas nas dores que elas enfrentam no dia a dia. 

Acredito que a mulher vai se destacar cada vez mais não somente do mercado da Cannabis, mas também em outros mercados. Hoje, nas faculdades de medicina, há mais mulheres que homens, isso demonstra uma mudança de padrão. No mercado da Cannabis no Brasil, há um número importante de mulheres em cargos de liderança e também um crescente número delas nas operações de empresas locais.”

Dra. Paula Dall’Stella – Médica

Foto: Arquivo pessoal

“Acredito que algum tempo atrás, o preconceito deveria ser uma situação comum, visto que esse era um cenário [área da Cannabis] majoritariamente composto por homens. Mas hoje, não vejo isso acontecer, pelo contrário. Vejo muitas mulheres neste setor, trabalhando em diversas frentes, com propósitos semelhantes, mas com uma incrível diversidade de oportunidades.

Eu acho incrível as mulheres estarem à frente em vários setores na quando o assunto é Cannabis. Em um setor dominado pelo universo masculino por tantos anos, as mulheres foram muito bem recebidas e estão sabendo se colocar.

Acredito que pela diversidade de atuações, flexibilidade e um ambiente com uma mente mais ‘liberal’, as mulheres podem desempenhar melhor e mostrar ótimos resultados. Semelhante a proposta da Women Grow, que foi criada por mulheres bem-sucedidas para mulheres da indústria da Cannabis criando programas, comunidade e eventos para executivos aspirantes e atuais.

Acho que a mulher vem se destacando não apenas no assunto Cannabis, mas de forma geral, estamos vendo cada vez mais mulheres em posições antes ocupadas por homens e esse cenário muda cada dia mais. Acredito que um dos motivos delas estarem se destacando é pelo fato de ser uma atividade quase totalmente nova, com possibilidades de criação de novos negócios e oportunidades. E, obviamente, traz consigo uma mente mais aberta, mais flexível e isso para as mulheres funciona perfeitamente.

Ainda não somos a maioria nos cargos mais elevados, mas acredito que esse cenário vai ser bem diferente nos próximos anos.”

Marcela Goldschimidt – Advogada da Rede Reforma

Foto: Arquivo pessoal

“Acredito que as mulheres ainda sofram preconceito na medida em que os homens têm mais espaço de fala e oportunidades no Brasil. Porém, pesquisas nos Estados Unidos não só mostram que as mulheres ocupam cada vez mais cargos de liderança na indústria da Cannabis, como também encontram formas de elevar outras mulheres na medida em que sobem. Acredito que o crescimento das mulheres nesse setor se dê em virtude da consciência da necessidade de incluir outras mulheres.

Vejo que as mulheres têm potencial para liderar a indústria em qualquer área, devido a capacidade de desenvolver várias atividades ao mesmo tempo, maior inteligência interpessoal e criatividade para solucionar conflitos. Trata-se apenas de uma questão de oportunidade.

As mulheres estão envolvidas com a questão da Cannabis em todos os setores. São as mães que lutam para cultivar o remédio para seus filhos, as médicas que prescrevem, as empresárias que investem nesse mercado, as ativistas que representam a causa, as advogadas que garantem o acesso à saúde. É fácil imaginá-las conquistando cada vez mais espaço nessa indústria.”

Ana Izabel Carvana de Hollanda – Advogada

Foto: Arquivo pessoal

“É um mercado que está se iniciando, felizmente, até o momento, não sofri qualquer tipo de preconceito.

A mulher em destaque na indústria da Cannabis, assim como em outras áreas, é uma grande conquista. Isso demonstra à sociedade em geral que devemos ser respeitadas em todas as áreas que estivermos envolvidas. Não há espaço para qualquer tipo de preconceito ou desrespeito.

Entendo que a mulher, de um modo geral, se destaca em qualquer assunto que se envolver. E com a Cannabis não poderia ser diferente. Acho que a mulher vai se destacar cada vez mais nesta área e em qualquer outra que estiver disposta a se dedicar. A força feminina de realização e muito forte e assertiva.”

*Estagiária com supervisão

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