Guerra às drogas: quando a ajuda externa se torna parte do problema 

Segundo relatório, Estados Unidos e Europa gastam milhões em políticas ineficazes todos os anos

Publicada em 22/09/2023

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Um relatório recente da Harm Reduction International (HRI) levanta sérias preocupações sobre o financiamento contínuo da guerra global contra as drogas pelos países mais ricos. Ao invés de direcionar recursos para abordar questões fundamentais como pobreza, fome, cuidados de saúde e educação, nações europeias e o Estados Unidos estão canalizando a maior parte de sua ajuda externa para a aplicação da lei e esforços militares na luta contra as drogas.  

O relatório intitulado "Ajuda para a Guerra às Drogas" revela dados preocupantes. Entre 2012 e 2021, 30 países doadores destinaram a impressionante quantia de 974 milhões de dólares em ajuda internacional para o "controle de narcóticos". 

Surpreendentemente, uma parte significativa desse financiamento, pelo menos 70 milhões de dólares, foi direcionada para 16 países que aplicam a pena de morte em casos relacionados às drogas.  

Veja o relatório na íntegra: 

Em 2021, os fundos de ajuda dos EUA foram enviados para a Indonésia para apoiar um "programa de treinamento no combate aos narcóticos". Isto ocorreu no mesmo ano em que a Indonésia impôs um recorde de 89 sentenças de morte por crimes relacionados com drogas.  

Já o Japão contribuiu com milhões para o Irã, ajudando a financiar suas unidades de cães detectores de drogas, enquanto o Irã executou pelo menos 131 pessoas por delitos relacionados com drogas em 2021. 

Nos últimos dez anos, os Estados Unidos se tornaram o maior contribuinte, respondendo por mais de metade do financiamento global para a guerra às drogas, totalizando 550 milhões de dólares. A União Europeia, o Japão, o Reino Unido, a Alemanha, a Finlândia e a Coreia do Sul também contribuíram substancialmente.  

O relatório destaca também, que a Guerra às Drogas recebe mais assistência externa do que programas essenciais, como alimentação escolar, educação infantil, direitos trabalhistas e saúde mental, evidenciando a triste realidade de que as políticas de drogas historicamente foram usadas pelas potências mundiais para impor seu controle sobre outras populações e marginalizar comunidades específicas.  

A dinâmica racista e colonial, por exemplo, persiste até hoje, com governos mais ricos, liderados pelos EUA, gastando bilhões de dólares dos contribuintes em todo o mundo para reforçar ou expandir regimes punitivos de controle de drogas e aplicação da lei relacionada. 

“Esses fluxos de financiamento estão desconectados das evidências existentes e dos compromissos internacionais em matéria de desenvolvimento, saúde e direitos humanos, incluindo a meta de acabar com a SIDA até 2030”, afirma o relatório que continua:  

“Eles confiam e fortalecem sistemas que prejudicam desproporcionalmente as populações negras, pardas e indígenas em todo o mundo”. 

Embora alguns países, como o Reino Unido, tenham reduzido seus gastos em iniciativas estrangeiras de guerra às drogas, outros optaram por aumentar seu financiamento, como os EUA sob a administração do Presidente Joe Biden. Essas descobertas chegam em um momento em que o governo federal dos EUA está considerando uma revisão significativa das políticas de drogas, incluindo a possível reclassificação da cannabis. 

Em resumo, o financiamento a guerra às drogas pelos países ricos representa uma séria preocupação pois, em vez de abordar as causas subjacentes do uso de drogas, essa abordagem punitiva se mostra ineficaz e prejudicial.