Mitos e verdades sobre o Diabetes; como a cannabis pode ajudar no tratamento da doença

Estudo irâniano revela potencial da cannabis na prevenção do Diabetes Tipo 2

Publicada em 18/12/2023

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Por redacao sechat com informações BCW - Brasil

O Diabetes, doença crônica e silenciosa que atinge cerca de 62 milhões de pessoas somente nas Américas, segundo o Panorama do Diabetes da OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde), tem quase metade dos pacientes (44,7%) sem diagnóstico, número preocupante diante das complicações ocasionadas por essa enfermidade.

No Brasil, o Diabetes atinge aproximadamente 15,7 milhões de pessoas, o que fez o país chegar à sexta posição em número de casos em 2021, no ranking global da Organização Mundial da Saúde (OMS). Para 2045, a previsão é que o país conte com 23,2 milhões de diabéticos.

Além do Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2), o tipo mais prevalente da doença (90% dos casos), há também o Diabetes do tipo 1 (DM1), uma doença autoimune, na maior parte dos casos, descoberta na infância ou na adolescência. No Diabetes tipo 2, ocorre uma resistência ao hormônio insulina, produzido pelo pâncreas, e são recomendados como formas de controle o uso de medicamentos orais e insulina, além de modificações no estilo de vida. Já em pacientes com Diabetes tipo 1, há uma destruição das células do pâncreas que são responsáveis pela produção de insulina. Nesses casos, o tratamento é à base de insulina.

O acompanhamento por meio de testes laboratoriais é essencial para pacientes com ambos os tipos de Diabetes (1 e 2). O exame de hemoglobina glicada, que aponta o nível de glicose no sangue dos últimos três meses, é fundamental não apenas para o controle do Diabetes já existente, mas também para identificar casos de pré-Diabetes e Diabetes de pacientes que ainda desconhecem o diagnóstico.

Embora a doença seja conhecida, o subdiagnóstico ainda é uma preocupação de saúde pública, informa o médico Fernando Valente, endocrinologista e professor da Faculdade de Medicina do ABC na disciplina de Endocrinologia. Para esclarecer as dúvidas mais importantes sobre o diagnóstico do Diabetes, o médico listou alguns mitos e verdades que envolvem o tema. Veja a seguir.

O Diabetes pode ser evitado. DEPENDE.

As duas formas mais conhecidas do Diabetes Mellitus são o tipo 1, na qual o pâncreas produz pouca ou nenhuma insulina [DM1] e o tipo 2, que afeta a forma como o corpo processa a glicose, aparecendo quando o organismo não consegue usar adequadamente a insulina que produz [DM2]. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes4, cerca de 90% das pessoas que têm Diabetes tem o tipo 2, enfermidade que se desenvolve principalmente junto a outras condições, como doenças metabólicas, obesidade, hipertensão, colesterol alto e esteatose hepática (gordura no fígado).

O DM1 é uma doença autoimune, aguda e que se manifesta principalmente por meio de sintomas típicos como perda de peso, sede excessiva, necessidade de urinar com frequência e cansaço, segundo Fernando Valente. Por suas características, não pode ser evitado. “Quando é diagnosticado, comumente em crianças e adolescentes, normalmente o paciente perdeu de 80% a 90% da função do pâncreas”, explica.

Já o DM2, segundo o endocrinologista, é mais comum em adultos, principalmente a partir de 40 a 45 anos. “Indivíduos com problema de obesidade correm mais risco de desenvolver o Diabetes tipo 2 por conta do aumento da resistência à insulina. O pâncreas é mais exigido e isso acaba levando o órgão à uma situação de exaustão. No caso do Diabetes tipo 2, quando são feitos exames de rotina em pessoas que são predispostas e correm risco de desenvolver a doença, podemos evitar a evolução no caso do pré-Diabetes, ou o agravamento da doença quando descoberto em fase inicial. Se o paciente não realiza a glicemia em jejum e a hemoglobina glicada periodicamente, ele pode manifestar o DM2 em fase mais avançada, ou seja: quando o pâncreas está próximo à falência. Por isso, a realização de exames laboratoriais, como a glicemia de jejum e a hemoglobina glicada são tão importantes”, reforça.

Quando diagnosticado a tempo, o pré-Diabetes pode ser revertido. VERDADE.

O endocrinologista explica que o pré-Diabetes é uma forma intermediária entre o padrão normal da glicemia e o Diabetes. “Essa é uma situação de alerta, pois o risco de desenvolvimento para o Diabetes é alto, além de aumentar também o risco cardiovascular”, afirma. A condição pode vir acompanhada de outras alterações metabólicas, como triglicérides alto, esteatose hepática e colesterol alto, além de outras comorbidades associadas com o aumento de peso, como a pressão alta.

Segundo o especialista, embora o pré-Diabetes não seja totalmente inofensivo, também não é uma situação que apresenta a mesma gravidade do Diabetes já diagnosticado.

“No caso do pré-Diabetes, é possível reverter a situação. O paciente terá a indicação de realizar um acompanhamento médico adequado para garantir que não desenvolva o Diabetes. A pessoa pode voltar ao nível de glicose normal. A condição também não apresenta sintomas, mas pode ser diagnosticada com os mesmos exames laboratoriais utilizados para diagnosticar o Diabetes. Por isso o rastreio é tão importante para todos a partir de 45 anos ou antes disso, na presença de fatores de risco. Lembrando que, uma vez diagnosticado, o Diabetes não tem cura”, diz.

O diagnóstico tardio pode levar a complicações crônicas. VERDADE.

Fernando Valente alerta: a glicose agudamente alta é extremamente perigosa e pode levar a inúmeras complicações, que vão desde a cegueira até o coma diabético.

“Entre as complicações mais graves, está a cetoacidose diabética, que acomete principalmente pacientes com DM1. Acontece quando a pessoa não produz insulina alguma e não realiza o tratamento corretamente. Nesse caso, o sangue fica mais ácido, e isso pode gerar uma série de complicações, que podem levar à morte”, ressalta.

Além disso, outras possíveis complicações são a retinopatia diabética, que pode levar à cegueira, o desenvolvimento da doença renal crônica e, posteriormente a falência renal, que leva o paciente à necessidade de um transplante. Ele destaca também a neuropatia diabética, que leva ao comprometimento dos nervos e pode resultar em risco maior de amputação. “Por conta da neuropatia, a pessoa pode não sentir um machucado grave e ter complicações. O Diabetes é, portanto, a maior causa de amputação de membros”, diz o médico.

Uma vez diagnosticada, a realização de exames para o Diabetes não é mais necessária. MITO.

Valente reforça que, mesmo após o diagnóstico, os exames de acompanhamento são essenciais. “Além da hemoglobina glicada e da glicemia de jejum, uma vez por ano é necessário que o paciente realize uma avaliação com oftalmologista, exame de função dos rins, além de ter os pés examinados”, ressalta.

O médico recomenda também o acompanhamento multidisciplinar com nutricionista, educador físico e psicólogo. “Mesmo que o paciente não tenha sintomas, é necessário realizar periodicamente o rastreamento para complicações crônicas”. O médico recomenda ainda que os pacientes evitem o estresse, o tabaco e que mantenham bons hábitos, com alimentação adequada e atividades físicas regulares.

Como o uso medicinal da cannabis pode ajudar no tratamento da doença?

Um recente estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Ciências Médicas de Tabriz, no Irã, revelou que o uso de cannabis medicinal pode significativamente reduzir as chances de desenvolvimento de diabetes tipo 2, uma condição que afeta cerca de 90% dos pacientes diabéticos no Brasil.

Os resultados indicaram que os pacientes que utilizaram cannabis medicinal apresentaram uma considerável diminuição na probabilidade de desenvolver a doença. Os pesquisadores sugerem que a cannabis pode oferecer "efeitos protetores" contra o desenvolvimento do diabetes tipo 2.

Em entrevista ao portal Terra, o Dr. Flavio Geraldes Alves, presidente da Associação Pan-Americana de Medicina Canabinoide (APMC), destacou que pesquisas recentes indicam que o sistema endocanabinoide, ativado pelos canabinoides presentes na cannabis, desempenha um papel na modulação de processos relacionados ao metabolismo da glicose, incluindo a resistência à insulina.

A cannabis medicinal tem se destacado cada vez mais pelos seus potenciais terapêuticos. O Dr. Flavio ressalta que os canabinoides presentes na planta ativam o sistema endocanabinoide, que regula diversos processos fisiológicos no corpo humano. Entre esses processos estão a regulação do apetite, dor, inflamação, termorregulação, pressão intraocular, sensação, controle muscular, equilíbrio de energia, metabolismo, qualidade do sono, resposta ao estresse, motivação/recompensa, humor e memória.

Além do diabetes, a cannabis medicinal está sendo objeto de pesquisa e tratamento para diversas condições, como epilepsia, câncer, distúrbios do sono, ansiedade, problemas gástricos, autismo e dores crônicas.

Apesar dos inúmeros benefícios, é importante ressaltar que nem todos os pacientes são candidatos ao uso da cannabis medicinal, visto que, dependendo do paciente, da composição e das dosagens, podem existir contraindicações e reações adversas. Portanto, seu uso deve ser orientado por profissionais de saúde capacitados.

Veja a entrevista sobre a nova RDC 327

https://www.youtube.com/watch?v=ll9TOOknbkM&t=3s