10 anos de medicina canabinoide no Brasil: uma década de luta e revolução terapêutica

O CBCann, a ser realizado no dia 14 de setembro em São Paulo, reunirá grandes nomes para promover a educação sobre cannabis

Publicada em 06/09/2024

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O uso medicinal da cannabis teve inicio no Brasil em meados de 2013 através da luta de mães que precisavam do medicamento para seus filhos | Imagem: Vecteezy

Há uma década, o Brasil iniciou sua jornada na medicina canabinoide, transformando vidas e desafiando o preconceito em torno da planta. As primeiras prescrições registradas no país datam de 2014 e surgem ao mesmo tempo em que mães iniciaram a luta pelo acesso à terapia canabinoide para crianças com doenças graves, como epilepsias refratárias, vendo na cannabis a última esperança para seus filhos. Ao lado dessas mães, médicos como o neuropediatra Eduardo Faveret desempenharam um papel crucial na quebra de barreiras e na prescrição da cannabis medicinal, enfrentando a resistência de uma comunidade médica inicialmente reticente. 

Faveret, um dos primeiros médicos no Brasil a prescrever essa terapia, reflete sobre os avanços e desafios da última década. "Fica evidente que um número crescente de médicos de diferentes especialidades, antigamente restrito à neurologia, psiquiatria e neurocirurgia, hoje inclui médicos de família, dermatologistas, oftalmologistas, endocrinologistas, reumatologistas, médicos da dor, psiquiatras e gastroenterologistas. Todas as especialidades começam a estudar e utilizar a cannabis medicinalmente. Isso é uma tendência inexorável e internacional, evoluindo à medida que os médicos observam a melhora de seus pacientes ou se integram em palestras e estudos."

Apesar do avanço, Faveret também destacou a postura conservadora de muitos conselhos de classe, principalmente da área médica, que ainda restringem o uso da cannabis a casos raros de epilepsia. "É necessário debater mais o tema dentro dos conselhos e aumentar a representação em congressos especializados, pois ainda há uma visão limitada, muitas vezes focada apenas no uso restrito de canabidiol isolado", comenta o neuropediatra.

Quando questionado sobre os possíveis efeitos colaterais que o tratamento com cannabis pode trazer, Faveret relata ter observado casos pontuais, mas reversíveis. "Já vi pacientes que, ao confundir óleo de canabidiol (CBD) com o de Tetrahidrocanabinol (THC), ficaram agitados, ansiosos e com taquicardia. Em casos raros, o THC causou sintomas psicóticos, mas todos os efeitos foram reversíveis. Embora a terapia seja segura, é essencial o acompanhamento médico para evitar efeitos adversos e otimizar o tratamento."

 

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Eduardo Faveret é um dos responsáveis pela implementação da Lei municipal de acesso aos produtos à base de cannabis no SUS de Búzios/RJ | Imagem: Arquivo pessoal

 

Um dos momentos mais marcantes da carreira do neuropediatra foi o tratamento de uma criança autista que vivia amarrada devido à autoagressão. "Ela não falava, se agredia constantemente e não respondia a nenhum medicamento. Após o início do óleo, nunca mais se autoagrediu, começou a falar, socializar e hoje vive uma vida muito mais plena. São transformações como essas que chamamos de pequenos milagres."

A trajetória de 10 anos da medicina canabinoide no Brasil, contudo, ainda enfrenta desafios, principalmente em termos de aceitação e regulamentação. O CBCann, a ser realizado no dia 14 de setembro em São Paulo, reunirá grandes nomes do setor de cannabis no mundo. O objetivo é promover debates para difundir o conhecimento sobre a terapia endocanabinoide, ainda desconhecida ou não praticada por muitos médicos. De acordo com dados da Close UP, dos 545 mil médicos em atividade no país, apenas 45 mil prescrevem produtos à base de cannabis. Por isso, promover a educação sobre cannabis é um papel fundamental na disseminação de conhecimento e na formação de novos profissionais, visando consolidar essa via de tratamento, comprovadamente eficaz no tratamento de diversos sintomas.

O congresso oferecerá uma oportunidade única de aprendizado, incluindo uma aula com a Dra. Allyn Howlett, responsável pela descoberta do receptor CB1, um dos componentes fundamentais do SEC e também da Dra. Bonni Goldstein, autora do livro "Cannabis is Medicine". A participação no evento permitirá aos futuros profissionais de saúde um primeiro contato com essa fascinante área do conhecimento, essencial para uma prática médica mais integrada e eficiente.

 

Saiba mais sobre o CBCann aqui:

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