Cannabis é a estratégia de autogestão mais eficaz para reduzir sintomas da endometriose
Segundo um estudo, a cannabis pode ajudar mulheres com endometriose devido principalmente às suas propriedades analgésicas, anti-inflamatórias e relaxantes
Publicada em 09/09/2024
Imagem: FreePick
A cannabis foi considerada a estratégia de autogestão mais eficaz para reduzir a intensidade dos sintomas entre mulheres com endometriose, alcançando uma eficácia de quase 80%, de acordo com um estudo publicado, em agosto de 2024, na plataforma de pesquisa SpringerLink. A pesquisa incluiu 912 participantes da Alemanha, Austrália e Suíça, das quais 114 relataram usar cannabis como forma de autogestão.
Segundo o estudo, 75% das participantes tentaram outras estratégias de autogestão para lidar com a doença, mas a cannabis se destacou como a mais eficaz. A autogestão foi definida como intervenções não farmacológicas que as mulheres poderiam implementar sozinhas, como mudanças na dieta, exercícios, e o uso de álcool ou cannabis, entre outros.
Uma pesquisa online de 2021 revelou que 88% das mulheres com endometriose na Nova Zelândia e 72% na Austrália utilizavam cannabis de forma ilícita para controlar os sintomas da doença. O estudo, que contou com 237 participantes, mostrou que o uso de cannabis substituiu analgésicos opioides em 66% dos casos e não opioides em 63%. Entretanto, por medo de repercussões legais, 18,8% das australianas e 23,5% das neozelandesas não informaram seus médicos sobre o uso de cannabis.
De acordo com a ginecologista Maria Prado, já existem estudos e meta-análises robustas sobre o uso da cannabis na ginecologia, principalmente em casos de dor crônica e endometriose. Assim como nos estudos citados anteriormente, muitos pacientes utilizam a planta para fins adultos, autogerindo sua dor.
O que é a endometriose?
A endometriose é uma doença crônica que afeta mulheres, causando dor e desconforto. Ela ocorre quando o endométrio, o tecido que reveste o útero, se desloca para outras partes do corpo, como ovários, bexiga, intestino e abdômen, gerando uma resposta inflamatória que pode resultar na formação de tecido fibroso. Isso pode desregular a menstruação, causar sangramentos e, em casos graves, levar à infertilidade.
Os principais sintomas incluem dismenorreia (cólicas menstruais), dor pélvica crônica, dor durante ou após a relação sexual, evacuações dolorosas, dor ao urinar, fadiga, depressão, ansiedade, inchaço e náuseas. No Brasil, uma em cada dez mulheres sofre de endometriose, segundo o Ministério da Saúde. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a condição afete cerca de 176 milhões de mulheres no mundo.
Cannabis no tratamento da endometriose
Devido às suas propriedades analgésicas, anti-inflamatórias e relaxantes, a cannabis pode ajudar mulheres com endometriose, especialmente no alívio da dor pélvica e abdominal crônica, explica a ginecologista Mariana. Além disso, os produtos à base de cannabis ajudam a regular o trânsito intestinal, controlar o inchaço e aliviar sintomas relacionados à dor, como náuseas, vômitos, problemas de sono e transtornos de ansiedade e depressão.
"A endometriose está relacionada ao sistema imunológico e à inflamação, por isso a cannabis é indicada no tratamento. O canabidiol reduz a inflamação e, consequentemente, a dor", explica Mariana. Segundo ela, o óleo à base de cannabis é a forma de administração mais comum entre os pacientes, mas também podem ser usados gummies e vaporização em períodos de pico da doença. Outra alternativa emergente são os supositórios de cannabis.
Um estudo conduzido por uma empresa canadense de tecnologia de dados analisou o uso da cannabis para o tratamento de sintomas da endometriose, como dor pélvica, problemas gastrointestinais e alterações de humor. A pesquisa, realizada entre abril de 2017 e fevereiro de 2020, incluiu 252 usuárias do aplicativo Strainprint™, abrangendo 16.193 sessões de uso de cannabis.
A inalação foi o método de consumo mais comum (67,4%), com a dor sendo o principal sintoma tratado (57,3%). Embora os problemas gastrointestinais representassem apenas 15,2% dos motivos para o uso de cannabis, eles apresentaram a maior melhora relatada. O estudo também apontou que as formas inaladas de cannabis foram mais eficazes para o alívio da dor, enquanto as formas orais tiveram melhores resultados para o humor e os sintomas gastrointestinais.
Apesar dos avanços, Mariana ressalta a necessidade de mais estudos sobre o uso da cannabis no tratamento da endometriose. “Alguns estudos falando sobre diminuição das células endometrióticas, regressão de doenças, mas ainda pouco conclusivos”, finaliza a ginecologista.