Cannabis legal na Alemanha reduz mercado ilícito em quase 90%
Estudo aponta que legalização histórica fortalece acesso seguro, movimenta € 500 milhões e derruba vendas ilegais
Publicada em 15/09/2025

Projeto KonCanG aponta que 88,4% dos usuários adquiriram cannabis legal nos últimos seis meses (via cultivo doméstico, associações ou farmácias). Imagem: Canva Pro
A legalização da cannabis na Alemanha já mostra efeitos concretos: o mercado ilícito perdeu quase 90% de espaço desde a entrada em vigor da lei em abril de 2024. Dados recentes comprovam o que especialistas defendem há anos — quando há acesso seguro e regulamentado, o tráfico de drogas perde força.
O projeto KonCanG, conduzido pelo Instituto de Pesquisa em Dependência Química da Universidade de Ciências Aplicadas de Frankfurt e pela Universidade Evangélica de Freiburg, entrevistou 11.471 pessoas (11.375 adultos e 96 adolescentes).
O levantamento avaliou o impacto da legalização e foi apresentado na Conferência Internacional de Negócios da Cannabis. Os resultados confirmam a eficácia do modelo:
- 97,8% dos usuários consomem cannabis em casa; entre os jovens, o consumo público é mais frequente;
- 88,4% adquiriram cannabis legal nos últimos seis meses (via cultivo doméstico, associações ou farmácias);
- Antes da lei, apenas 23,5% recorriam a essas fontes agora regulamentadas;
- Quase 80% indicaram que farmácias e cultivo próprio são as principais origens de consumo;
- 90,1% dos novos cultivadores domésticos são homens.
Ao mesmo tempo, as compras de vendedores ilegais caíram drasticamente, tanto em espaços privados quanto em locais públicos — reflexo do fortalecimento do mercado legal.
Cannabis legal na Alemanha: regras e expansão
A Lei da Cannabis (CanG) permite desde abril de 2024 que adultos cultivem até três plantas em casa, possuam até 50 gramas em locais privados e 25 gramas em espaços públicos. Além disso, desde julho, associações de cultivo estão autorizadas a operar: já são 211 clubes registrados e cerca de 2.500 farmácias oferecendo cannabis medicinal.
Esse avanço consolidou um mercado que movimenta aproximadamente € 500 milhões por ano apenas no setor medicinal, tornando a Alemanha o maior mercado de cannabis da Europa. Especialistas acreditam que, com ajustes regulatórios, o potencial ainda é muito maior.
Legalização chega às prisões
Os efeitos da CanG também chegaram ao sistema penitenciário. Uma decisão do Tribunal de Apelações de Berlim (KG) reconheceu que presos podem possuir até 50 gramas de cannabis em suas celas, desde que seja para uso pessoal.
A corte entendeu que uma cela pode ser considerada “residência habitual” dentro da lei. No entanto, o consumo dentro das prisões segue restrito às regras de segurança e disciplina interna.
Comunidade científica pede mais pesquisa
Apesar dos avanços, especialistas alertam para a necessidade de ampliar os estudos. Uma coalizão de médicos e pesquisadores enviou uma carta ao governo federal e ao Departamento Federal de Agricultura e Alimentação (BLE), cobrando a aprovação imediata dos projetos de pesquisa previstos na lei.
Na carta, os signatários destacam, “a Alemanha não tem um banco de dados confiável sobre o uso de cannabis… crucial para abordar questões não resolvidas sobre proteção da saúde, juventude, mercado ilegal e comportamento do consumidor.”
Entre os mais de 15 acadêmicos e médicos estão Karin Bammann (Universidade de Bremen), Gundula Barsch (Hochschule Merseburg), Franjo Grotenhermen, Kirsten Müller-Vahl (Universidade de Hannover) e Bernd Werse (Instituto de Pesquisa sobre Dependência, Frankfurt).
Com informações de El Planteo