Falar sobre cannabis na gravidez é mergulhar em um tema delicado, onde ciência, saúde e sentimentos se entrelaçam. Para muitas mulheres, a gestação é atravessada por desafios como náuseas intensas, dores e ansiedade, situações essas que despertam dúvidas sobre alternativas terapêuticas. 

Mas até que ponto a cannabis na gravidez pode ser uma aliada, e quando ela se torna um risco?

No #episódio35 do Deusa Cast, a médica ginecologista obstetra e terapeuta canábica Mariana Prado trouxe uma visão acolhedora e prudente sobre o assunto. Sua fala se soma a uma onda de novos estudos e recomendações internacionais, como podemos ver em notícias internacionais, e ao debate já em curso no Brasil, levantado por especialistas e pelo próprio Portal Sechat.

O olhar de Mariana Prado: acolher sem deixar de ter cautela

Durante o episódio, Mariana Prado destacou que cada gestação é única e merece um olhar individualizado.“Não dá para responder se o uso da cannabis na gravidez é simplesmente bom ou ruim. É preciso analisar caso a caso, com acompanhamento multidisciplinar, entendendo os riscos, os sintomas da paciente e sempre priorizando a segurança do bebê”, afirmou.

Ela lembra que o THC atravessa a placenta e pode impactar o sistema nervoso na formação do feto. Por isso, reforça que a conduta mais segura ainda é a de evitar o uso durante a gestação, salvo em situações muito específicas e acompanhadas de perto por médicos.

O que dizem os estudos internacionais sobre Cannabis na Gravidez

Numa publicação recente, o próprio New York Times repercutiu uma revisão de pesquisas que reforça preocupações da cannabis na gravidez:

• O uso de cannabis na gravidez quase duplica a chance de baixo peso ao nascer;
• Há aumento de até 50% no risco de parto prematuro;
• Os bebês expostos intraútero têm 57% mais chance de nascerem “pequenos para a idade gestacional”;
• Também foram encontrados indícios de aumento no risco de morte neonatal.

Esses dados levaram entidades médicas dos EUA, como o Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia, a reforçar diretrizes rígidas desencorajando qualquer uso de cannabis na gravidez.

Brasil: debate ainda em construção

Por aqui, a conversa já chegou aos consultórios e também à imprensa especializada. Em 2023, fizemos uma publicação sobre o risco x benefício da cannabis na gestação, apontando que o uso pode trazer alterações no desenvolvimento neurológico e no crescimento fetal.

Em nosso canal do Youtube, a médica Paula Dall’Stella, é categórica ao falar sobre o tema: “Não é recomendado o uso de cannabis durante a gravidez”, afirma. Para ela, a falta de estudos robustos que definam doses, efeitos a longo prazo e segurança para o feto torna o cenário de incertezas grande demais para sustentar qualquer prescrição generalizada. Diante disso, adota a postura do princípio da precaução: “O caminho mais seguro é evitar o uso na gestação, salvo em situações muito específicas e sempre com acompanhamento médico rigoroso”, reforça.

Cannabis na gravidez: prós e contras

O uso de cannabis na gravidez ainda é cercado de incertezas. Pesquisas apontam possíveis benefícios relatados por algumas gestantes, mas também riscos significativos documentados pela ciência, que reforçam a necessidade de cautela.

Possíveis benefícios: relatos sugerem alívio de náuseas graves (hiperêmese), controle de dores crônicas, redução da ansiedade e estímulo do apetite em mulheres com baixo ganho de peso.

Principais riscos: evidências indicam maior chance de baixo peso ao nascer, parto prematuro, alterações no neurodesenvolvimento fetal, aumento da mortalidade neonatal em alguns estudos e ausência de doses seguras estabelecidas, especialmente pelo risco de acúmulo do THC no feto.

Um convite à escuta

O debate sobre cannabis na gravidez é um convite à escuta. De um lado, mulheres que buscam alívio em uma fase de vulnerabilidade; de outro, médicos que se apoiam em evidências ainda frágeis, mas com sinais de alerta importantes.

A fala da Dra. Mariana Prado lembra que empatia e ciência não precisam caminhar separadas: é possível acolher dúvidas e sofrimentos, ao mesmo tempo em que se reforça a importância da precaução.

Até que novos estudos tragam respostas mais claras, a recomendação majoritária segue sendo a de evitar o uso de cannabis na gestação, priorizando sempre alternativas com segurança já comprovada.