Uso de cannabis na epilepsia exige cautela e especialização, aponta médica

A médica Sandra Caires ressalta que canabinoides são indicados para casos refratários e o tratamento requer acompanhamento rigoroso e produtos de alta qualidade

Publicada em 22/09/2025

Uso de cannabis na epilepsia exige cautela e especialização, aponta médica

"É um tema que abrange uma população vulnerável e um grande número de pacientes e familiares. Todos sofrem juntos", explica a médica Sandra Caires. Imagem: Arquivo Sechat

 

O tratamento da epilepsia com derivados de cannabis representa um avanço significativo na medicina, mas seu sucesso depende de um entendimento profundo que vai além da simples prescrição. Para a médica Sandra Caires Serrano, pediatra com atuação em dor e cuidados paliativos, o tema é delicado e de grande impacto.

"É um tema que abrange uma população vulnerável e um grande número de pacientes e familiares. Todos sofrem juntos", explica a doutora, ressaltando a dimensão humana por trás da condição.

 

Indicação para casos específicos


 

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Sandra Caires Serrano, médica, durante o CBCM 2025. Imagem: Arquivo Sechat

Segundo a especialista, que concedeu entrevista durante o Congresso Brasileiro da Cannabis Medicinal 2025, a cannabis medicinal não é uma terapia de primeira linha para todos os tipos de epilepsia. Seu uso é criterioso e direcionado principalmente para casos que não respondem bem aos tratamentos convencionais.

"A cannabis não é indicada em todos os casos de epilepsia e nem como primeira escolha, exceto nas epilepsias com indicação pelo Conselho de Medicina, como Síndrome de Lennox-Gastaut, Síndrome de Dravet e Complexo de Esclerose Tuberosa", esclarece Serrano.

 

O que é a epilepsia refratária?

 

A epilepsia é um distúrbio neurológico caracterizado por descargas elétricas anormais no cérebro, que resultam em convulsões recorrentes. Embora muitos pacientes consigam controlar as crises com medicamentos tradicionais, estima-se que cerca de 30% possuam epilepsia refratária, ou seja, farmacorresistente.

Nesses casos, as crises persistem apesar do uso de múltiplas terapias, tornando a busca por alternativas, como os canabinoides, fundamental para a melhoria da qualidade de vida.

 

Evidências que apoiam o tratamento

 

A indicação para essas síndromes raras é apoiada por evidências científicas robustas. Um dos estudos mais influentes, publicado no The New England Journal of Medicine, demonstrou que pacientes com Síndrome de Dravet tratados com canabidiol (CBD) tiveram uma redução média de quase 40% na frequência de convulsões, um resultado superior ao do grupo placebo.

Resultados positivos semelhantes foram encontrados em pesquisas com pacientes portadores da Síndrome de Lennox-Gastaut, o que solidificou o caminho para a aprovação de medicamentos à base de CBD por agências regulatórias em todo o mundo.

 

Prescrição complexa e responsabilidade

 

Apesar do otimismo, a Dra. Sandra Serrano reforça que a jornada terapêutica com a cannabis para epilepsia é complexa e exige alta especialização. "É uma situação na qual precisamos deixar claro que a prescrição é complexa, exige conhecimento da patologia, do paciente, das drogas, das indicações. É um conhecimento construído a longo prazo", pontua.

O sucesso do tratamento, segundo ela, depende de uma cadeia de responsabilidade. "É preciso ter profissionais alinhados e responsáveis para usar este tipo de ferramenta, que também precisa ter qualidade excelente. São as crianças que irão usar", finaliza a médica.
 

Acompanhe a entrevista com a Dra. Sandra Serrano: