Cannabis na Odontologia: Especialistas destacam avanços terapêuticos no tratamento da dor e da ansiedade
Uso de canabinoides em procedimentos odontológicos ganha força entre profissionais e pacientes, com respaldo científico e regulamentação da Anvisa
Publicada em 30/05/2025

Frente Parlamentar da Cannabis Medicinal e do Cânhamo Industrial - (29/05/2025), Imagem: Bruna Sampaio/ Alesp
A Frente Parlamentar da Cannabis Medicinal e do Cânhamo Industrial, coordenada na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo pelo deputado estadual Caio França (PSB), realizou na quinta-feira (29) uma audiência pública sobre o uso terapêutico de canabinoides — substâncias extraídas da planta cannabis — na odontologia.
Cirurgiões-dentistas presentes no evento destacaram os avanços no uso da cannabis para o alívio de dores orofaciais, inflamações gengivais, controle de bactérias e redução da ansiedade durante atendimentos odontológicos.
O cirurgião-dentista João Paulo Tanganeli, que lidera o grupo de trabalho sobre canabinoides no Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), afirmou que os pacientes estão mais bem informados e receptivos ao tratamento com cannabis.

“Já passamos da fase em que era preciso convencer o paciente. Agora ele já chega buscando a terapia”, afirmou Tanganeli. Apesar do entusiasmo, o especialista reforçou a necessidade de mais estudos científicos para consolidar as evidências sobre o uso odontológico da cannabis.
Assista a audiência pública aqui
Dor orofacial: principal porta de entrada da cannabis na odontologia
Especialistas ressaltaram que a dor orofacial — que atinge face, pescoço, boca ou mandíbula — foi o principal ponto de entrada da cannabis na prática odontológica. Estima-se que até 40% da população mundial conviva com dor crônica, o que torna os canabinoides uma alternativa promissora.

“Sem dúvida nenhuma, a dor aproximou o cirurgião-dentista do uso dos canabinoides”, explicou Alethéia Pablos, diretora da Associação Panamericana de Medicina Canabinoide (APMC).
Alethéia destacou a importância do sistema endocanabinoide na regulação de funções como dor, inflamação, sono e ansiedade. Ela mencionou que todas as células da cavidade bucal apresentam receptores canabinoides, tornando praticamente todos os tecidos da boca alvos terapêuticos potenciais para a cannabis.
Caso clínico com CBD e THC aponta resultados positivos
A cirurgiã-dentista Rafaela da Rosa, autora do primeiro livro brasileiro sobre cannabis na odontologia, compartilhou um caso clínico de bruxismo em que o paciente apresentou melhora significativa após o uso de um produto com canabidiol (CBD) e tetrahidrocanabinol (THC).
“Esses medicamentos têm menos efeitos adversos e devolvem qualidade de vida com um perfil de segurança altíssimo”, destacou Rafaela. O produto foi prescrito por meio da regulamentação da RDC 660 e importado legalmente.
Regulamentação e acesso: desafios e oportunidades

Segundo o deputado Caio França, o Brasil avançou na regulamentação com a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 660/22 da Anvisa, que autorizou cirurgiões-dentistas a prescreverem produtos à base de cannabis.
“Apesar do progresso, ainda existem desafios", pontuou o parlamentar, ao defender a democratização do acesso aos tratamentos, especialmente para pacientes de baixa renda.
França também é autor da Lei 17.618/2023, que garante o fornecimento gratuito de medicamentos à base de canabidiol no estado de São Paulo. Por ora, a distribuição é restrita a epilepsias de difícil controle, como as síndromes de Dravet, de Lennox-Gastaut e o Complexo da Esclerose Tuberosa (CET). “Nossa luta é ampliar as patologias contempladas”, afirmou o deputado.
Ciência versus preconceito: o futuro da cannabis na saúde bucal
Encerrando a audiência, o cirurgião-dentista Fábio Bibancos, fundador da ONG Turma do Bem, reforçou que o debate sobre cannabis na odontologia deve ser conduzido com base científica, e não por dogmas ou desinformação.
“A ignorância institucionalizada ainda trava o avanço da cannabis medicinal no Brasil, enquanto nossos vizinhos regulam, pesquisam e faturam com a planta”, criticou Bibancos.
Com informações da Alesp