Cientistas detectam THC no hálito humano após consumo de comestíveis de cannabis
Pela primeira vez, pesquisadores federais dos EUA detectam THC no hálito de pessoas que consumiram comestíveis com cannabis
Publicada em 12/08/2025

Descoberta reacende o debate sobre testes de bafômetro e a complexidade de medir o comprometimento causado pelo THC | CanvaPro
O que fica depois da última mordida de um brownie com infusão de cannabis? Para cientistas do Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia (NIST), a resposta veio em forma de sopro: pela primeira vez, foi possível detectar canabinoides na respiração humana após o consumo de comestíveis.
A descoberta, publicada neste mês no Journal of Analytical Toxicology, marca um passo importante rumo a novos modelos de testes de campo, mas também escancara os limites da ciência diante da complexidade do corpo humano e das substâncias que nele habitam.
O estudo, considerado de “prova de conceito”, envolveu 29 voluntários que ingeriram comestíveis contendo THC em concentrações variadas, de 5 a 100 mg. As amostras de hálito foram coletadas antes e depois do consumo, em três momentos diferentes: cerca de 47, 92 e 180 minutos após a ingestão.
Curiosamente, mesmo antes da primeira mordida, 27 dos 29 participantes já apresentavam níveis detectáveis de THC no hálito. Um reflexo do que os cientistas chamam de "resíduos persistentes", resultado de usos anteriores da substância, mesmo após horas de abstinência.“A alta taxa de detecção de THC após 8 horas sem uso nos lembra que uma única medição dificilmente contará a história inteira”, afirmam os pesquisadores ao portal Marijuana Moment.
Um bafômetro para cannabis?
A ideia de um teste de bafômetro para cannabis não é nova, mas ainda carece de solidez científica. O estudo do NIST reforça que, embora dois terços dos participantes tenham mostrado aumento nos níveis de THC após o consumo dos comestíveis, os resultados variaram amplamente: quatro pessoas não mostraram alteração alguma, e seis apresentaram diminuição nos níveis, apesar de terem acabado de consumir.
De acordo com as pesquisadoras do projeto, a detecção de aumentos de THC na respiração após a ingestão de cannabis representa um avanço importante, ainda que inicial. Jennifer Berry, química e autora principal do artigo, aponta que essa constatação, por si só, já tem relevância científica. No entanto, Tara Lovestead, também integrante da equipe, pondera que os dispositivos utilizados ainda carecem de padrões rigorosos para garantir precisão e confiabilidade, ressaltando que o desenvolvimento dessa tecnologia ainda está em estágio preliminar.
A diferença entre álcool e cannabis
Diferente do álcool, para o qual existe uma relação bem estabelecida entre concentração no sangue e comprometimento psicomotor, o THC se comporta de maneira mais errática. Diversos estudos mostram que a concentração de THC no sangue ou no hálito não se correlaciona de forma direta com a capacidade de dirigir ou realizar tarefas cognitivas. Ou seja, um mesmo nível de THC pode significar efeitos completamente diferentes em usuários ocasionais e crônicos.
De acordo com um estudo recente publicado no The Lancet e conduzido por pesquisadores do Canadá e dos Estados Unidos, não foi encontrada relação linear entre os níveis de THC no sangue e a capacidade de dirigir. Especialistas explicam que essa dificuldade decorre do fato de os canabinoides interagirem com o corpo de forma única, influenciados por fatores como metabolismo, frequência de uso, tipo de produto e até o modo de ingestão.
O desafio de legislar a subjetividade
Com a crescente legalização da cannabis em diversos estados norte-americanos, a urgência de criar dispositivos legais e científicos para lidar com o uso da planta em situações como a direção é inevitável. Mas como legislar quando o tempo, o corpo e a molécula seguem ritmos próprios?
A própria Administração Nacional de Segurança no Tráfego Rodoviário (NHTSA) reconheceu, ainda em 2015, que “não é aconselhável tentar prever os efeitos com base apenas nas concentrações de THC no sangue”.
Para avançar nas investigações, o NIST deve realizar em setembro um workshop com fabricantes de dispositivos, cujo resultado será compilado em um relatório público. De acordo com Kavita Jeerage, também cientista integrante do projeto, essa etapa permitirá começar a responder questões fundamentais, como o comportamento do THC após a ingestão, o tempo necessário para que os níveis retornem ao padrão inicial e as formas de interpretar, de maneira significativa, os dados obtidos por um bafômetro.
Com informações de Marijuana Moment.