O debate sobre a cannabis no Brasil, frequentemente focado apenas na pauta medicinal, ganha uma nova e abrangente contribuição acadêmica e cultural. O livro “Maconha no Brasil Contemporâneo – Volume II” já está disponível para download gratuito.

A obra é organizada por Thiago F. P. Pereira, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), e pelo jornalista Matias Maxx, com a Editora Vista Chinesa. O livro é resultado do "Seminário sobre Maconha no Brasil Contemporâneo" (UERJ, 2024), transformando palestras de 42 especialistas em capítulos.

Segundo Thiago Pereira, o objetivo principal da obra é "democratizar o acesso a um conhecimento e informação de qualidade sobre a maconha no Brasil". O público-alvo, explica, é vasto, mas possui focos estratégicos. "Nossa perspectiva como público-alvo é a sociedade civil em geral em uma busca por quebra de preconceitos e mostrar novas possibilidades de abordagem em relação ao tema", afirma o organizador.

Contudo, o projeto também mira a regulamentação. "De uma maneira mais direta, é claro que se a gente consegue atingir os formuladores de políticas públicas e o legislativo, podemos atingir resultados mais imediatos", pontua Pereira.

Curiosamente, o professor vê a própria academia como um público de difícil acesso. Ele cita um "preconceito" por parte de setores acadêmicos com formatos mais diversos. "A Academia, ao se colocar nesse lugar encastelado, por muitas vezes existe um preconceito em relação a esse produto", lamenta.

A estrutura do debate sobre cannabis

A construção do livro reflete a estrutura do seminário que o originou: 42 palestrantes em seis mesas temáticas, incluindo legislação, negócios, turismo, cultura e pesquisa.

Pereira admite que o curto tempo de fala no evento - cerca de dez minutos - não permite grande aprofundamento. Contudo, ele ressalta que a limitação se tornou uma força, transformando o encontro em um "grande evento de troca".

O "fio condutor", segundo ele, é a premissa de ir "além da cannabis medicinal". Pereira critica a valorização exclusiva da discussão medicinal, e o livro busca dar voz a outras áreas, como a cultura, a economia e os impactos sociais. "A nossa perspectiva era justamente dar espaço de fala para esses diferentes atores da cena canábica que não necessariamente são ouvidos", explica.

Da educação a "furar a bolha"

Questionado sobre contribuições surpreendentes, Pereira cita a diversidade da obra, destacando textos sobre legislação, reparação histórica, negócios e carnaval. Um ponto alto mencionado é um texto sobre "educação para as drogas", um tema "muito pouco abordado", segundo ele.

O organizador destaca também a temática abordada pela jornalista Anita Krepp, que resume a principal motivação do projeto, "furar a bolha". "É levar essa informação para pessoas que não estão ali no universo canábico cotidianamente", diz Pereira. "Pessoas que talvez, tendo acesso a essas informações, possam mudar as perspectivas."

As lacunas do debate sobre a maconha no Brasil

Apesar da amplitude, Pereira aponta uma lacuna que os livros “Maconha no Brasil Contemporâneo” ainda não preencheram totalmente: o protagonismo de pessoas negras. O organizador fala em "colocar a reparação histórica na prática" e reconhecer o papel de quem mais sofre com a "guerra de drogas racista no Brasil".

"A gente tem um grande papel das pessoas negras dentro da cena canábica e a gente precisa reconhecer isso. Acho que uma das principais lacunas é o apagamento das pessoas pretas ao longo da história da cannabis no Brasil, colocando sempre essas pessoas como os criminosos", diz Thiago Pereira.

Ele informa que a lacuna "não está passando despercebida" e que há uma proposta de criar uma mesa específica sobre o tema na próxima edição, similar ao feito com o protagonismo das mulheres em 2025.

Serviço:

Livro: "Maconha no Brasil Contemporâneo – Volume II"

Organizadores: Thiago Pereira e Matias Maxx

Editora: Vista Chinesa

Acesso: O Volume II e o Volume I estão disponíveis para download gratuito no link: https://forms.gle/o4v2pJihB7EMo4Aj6