Como o Sistema Endocanabinoide transformou a medicina
A incrível jornada da descoberta do Sistema Endocanabinoide e seu impacto revolucionário na medicina moderna
Publicada em 19/02/2024
No ano de 1992, a cientista Allyn Howlett revolucionou o cenário científico ao descobrir receptores no cérebro humano sensíveis ao THC, em colaboração com cientistas liderados por Raphael Mechoulam em Israel. Essa descoberta levou ao mapeamento do Sistema Endocanabinoide (SEC), lançando uma nova luz sobre o estudo da cannabis. Considerada a maior conquista desde a identificação do CBD e do THC na década de 60 por Mechoulam, o SEC é um sistema presente em todos os mamíferos, incluindo os humanos, com receptores e compostos endógenos.
O SEC possibilita a interação com canabinoides como CBD e THC, oferecendo benefícios à saúde devido à semelhança em estrutura com os endocanabinoides produzidos pelo corpo. Em 1992, o mesmo ano da descoberta do SEC, Israel permitiu o uso medicinal da cannabis, tornando-se um centro de pesquisa e desenvolvimento no campo. O Canadá, em 2001, regulamentou o uso medicinal da cannabis, transformando-se em uma potência global na pesquisa, produção e exportação.
O texto que oferece uma explicação aprofundada sobre o Sistema Endocanabinoide faz parte do 3º Guia Sechat da Cannabis Medicinal, disponível gratuitamente na área do paciente e na área do médico no Portal Sechat. O objetivo é disseminar informações confiáveis, proporcionando segurança para profissionais da saúde e pacientes ao iniciar um tratamento com a terapia canabinoide.
"A informação é a chave que precisa ser virada para que a cannabis medicinal seja aceita na sociedade de forma mais ampla e sem preconceito", afirmou Cássio Machado, sócio da PharmaOil.
O pioneirismo da América Latina
Na América Latina, o Uruguai foi pioneiro na legalização federal da cannabis em 2013, permitindo produção, venda e exportação para fins terapêuticos. Desde então, o país registrou mais de 60 mil pessoas aptas a obter cannabis em farmácias e mais de 300 clubes afiliados autorizados a dispensar derivados da planta.
No Brasil, o cenário evoluiu a partir de 2014, impulsionado pelo caso de Anny Fischer, uma criança de 5 anos cujas crises epilépticas foram controladas com óleo de CBD. O documentário "Ilegal - A vida não espera", lançado em 2014, trouxe visibilidade nacional ao uso medicinal da cannabis, destacando os desafios enfrentados por pacientes devido à burocracia para importação.
A legislação brasileira progrediu com o Projeto de Lei nº 399/2015, apresentado pelo deputado Fábio Mitidieri, buscando viabilizar a comercialização de medicamentos à base de cannabis. Em 2017, o Brasil aprovou a comercialização do primeiro medicamento, Mevatyl, feito com cannabis, indicado para esclerose múltipla.
A partir de 2015, outros países latino-americanos, como Colômbia, regulamentaram o uso medicinal da cannabis. A Anvisa lançou regras em 2016 para importação de produtos com CBD, e em 2019 estabeleceu normas para produção e comercialização de produtos derivados da cannabis no Brasil.
Associações de cannabis medicinal se multiplicaram no Brasil, facilitando o acesso à terapia canabinoide para aproximadamente 80 mil pacientes. Nos Estados Unidos, a legalização da cannabis avança em vários estados, impulsionando pesquisas e debates legislativos. A União Europeia, em 2020, aumentou o limite de THC permitido para o cânhamo industrial e não proibiu a comercialização de CBD.
A decisão histórica da Comissão das Nações Unidas sobre Entorpecentes em 2020, aceitando a recomendação da OMS para remover a cannabis do Anexo IV da Convenção Única de 1961, teve implicações globais na indústria de cannabis medicinal.
A última década foi crucial para a cannabis medicinal em todo o mundo, impulsionada por pesquisas e pela legalização progressiva. O debate público, a visibilidade online e a mudança de status da planta nas instituições de ensino contribuíram para a crescente atenção aos benefícios terapêuticos da cannabis.