Derivados sintéticos da cannabis e opioides preocupam autoridades europeias

O uso de drogas sintéticas como opioides, catinonas e canabinoides artificiais cresce na Europa e acende alerta das autoridades sobre riscos à saúde pública, violência e impactos sociais

Publicada em 09/06/2025

Derivados sintéticos da cannabis e opioides preocupam autoridades europeias

Europa vê crescer uso de drogas potentes | Imagem: CanvaPro

Enquanto o debate sobre os usos terapêuticos da cannabis avança em várias partes do mundo, um novo sinal de alerta acende no continente europeu: o consumo de derivados sintéticos da planta, junto a opioides e catinonas, está em ascensão e acende preocupações importantes para a saúde pública. O aviso foi feito nesta quinta-feira (5) pela Agência da União Europeia sobre Drogas (EUDA), que aponta para a urgência de reforçar os sistemas de vigilância.


O relatório anual da agência revela um cenário inquietante: 7.500 mortes relacionadas ao uso de drogas em 2023, um aumento em relação às 7.100 registradas no ano anterior. Os opioides, quando combinados a outras substâncias, foram os principais responsáveis por esses óbitos.


A análise, que abrange 29 países, incluindo os 27 estados-membros da União Europeia, além de Noruega e Turquia,  destaca que o uso simultâneo de diferentes drogas tem sido uma das grandes pedras no sapato para o tratamento dos usuários.
A complexidade dos compostos e dos padrões de consumo reflete uma mudança no perfil das drogas em circulação. “A proliferação de substâncias muito potentes e de modos de consumo mais complexos pesa sobre os sistemas de saúde e segurança”, afirmou Alexis Goosdeel, diretor executivo da EUDA, durante coletiva de imprensa.


Jovens vulneráveis e aumento da violência ligada ao tráfico


Outro dado que chama atenção é o crescente envolvimento de jovens em situações de risco relacionadas ao tráfico de drogas. Segundo o relatório, houve aumento na intimidação e violência ligada à cadeia de produção e comercialização dos entorpecentes. Goosdeel fez um apelo direto aos países europeus: é preciso agir. “É urgente reforçar os sistemas de monitoramento e alerta”, disse ele.


Parcerias internacionais como parte da solução


Na visão de Magnus Brunner, comissário europeu para assuntos migratórios, a cooperação internacional, especialmente com países da América Latina, será fundamental para conter essa nova onda. “O acesso a dados é essencial para dar às forças de segurança as ferramentas necessárias para combater os criminosos”, reforçou.
Desde 2009, pelo menos 88 novos opioides sintéticos chegaram ao mercado europeu. A maioria deles com alto potencial tóxico e risco elevado de overdose, mesmo em pequenas quantidades.


Outro fator que preocupa é a fabricação dentro do próprio continente. Substâncias como anfetaminas, MDMA e catinonas estão sendo produzidas cada vez mais perto dos centros urbanos, o que, segundo a EUDA, acelera o consumo e dificulta ações preventivas.


Em 2023, 53 laboratórios de produção de catinonas foram desmantelados, a maioria na Polônia. Apenas no último ano, 37 toneladas dessas substâncias foram apreendidas, um salto expressivo em relação às 27 toneladas de 2022 e às 4,5 de 2021.


Mesmo com a crescente atenção às drogas sintéticas, a cannabis ainda lidera o ranking das substâncias mais consumidas na Europa. Em 2024, cerca de 24 milhões de pessoas usaram algum tipo de derivado da planta. Mas nem tudo é o que parece.
A agência alerta que produtos vendidos como cannabis podem estar adulterados com canabinoides sintéticos de alta potência, o que representa um risco sério para os consumidores. Em um caso recente na Hungria, balas de goma com canabinoides semissintéticos deixaram cerca de 30 pessoas gravemente intoxicadas.


Novas estratégias para um problema em mutação


A dinâmica do mercado de drogas tem se mostrado ágil e adaptável. Avanços tecnológicos, instabilidade geopolítica e globalização estão moldando tanto os meios de produção quanto os de consumo.


Para enfrentar esses novos desafios, a EUDA anunciou a criação de um sistema europeu de alerta, uma rede de laboratórios forenses e toxicológicos e um sistema de avaliação de ameaças à saúde e segurança. São iniciativas ainda em fase de implementação, mas que sinalizam um passo importante na direção de políticas públicas mais robustas.