Deusa Cast: a história da cannabis entre cura e preconceito
Historiador Luiz Fernando Petty explica no Deusa Cast como a criminalização da cannabis no Brasil se entrelaça com racismo estrutural e pânico moral
Publicada em 18/09/2025

Legalizar sem reparação é perpetuar privilégios históricos, alerta Luiz Fernando Petty | Foto: Sechat
O mais recente episódio do Deusa Cast, podcast do Portal Sechat, traz uma reflexão essencial sobre a trajetória da cannabis no Brasil. No episódio “Cannabis no Brasil: História, Espiritualidade e Redução de Danos”, os convidados Dra. Joyce Bernardo, dentista canábica, e Luiz Fernando Petty, historiador, exploraram desde os primeiros registros da planta no país até a construção do estigma que ainda marca sua presença na sociedade.
Durante a conversa, uma das perguntas levantadas foi, “Em que momento a planta se torna objeto de preconceito e como refutar essa ideia de criminalização injusta?”. A resposta de Petty recupera episódios marcantes do século XX, revelando como o Brasil passou de um cenário de uso medicinal e industrial da cannabis para um ambiente de demonização alimentado por preconceitos raciais e pela influência da política internacional de guerra às drogas.

O início da proibição e a distorção dos discursos médicos
Segundo Petty, a maconha foi oficialmente proibida no Brasil em 1932, embora ainda circulassem produtos como os “cigarros índicos”, vendidos em farmácias até a década de 30. Foi apenas nos anos 40, durante o governo Vargas, que se consolidou uma onda de estudos e reportagens enviesadas, associando o consumo da planta a comportamentos violentos e animalizando pessoas negras. “A mídia passou a reproduzir essas narrativas, criando um verdadeiro pânico moral em torno da cannabis”, afirmou o historiador.
Racismo estrutural e a lei de drogas
Petty destacou ainda que a relação entre criminalização e racismo estrutural permanece até hoje. “Quando é branco que vende, vira uma infração leve; quando é negro, é prisão. A lei de drogas de 2006 aprofundou essa desigualdade, porque deu ao policial o poder de decidir quem é usuário e quem é traficante”, explicou. Para ele, pensar em legalização sem reparação significa repetir o padrão histórico de privilégios.
O episódio também abordou o papel espiritual e medicinal da cannabis, além da importância da redução de danos para um consumo mais seguro, tema conduzido pela Dra. Joyce Bernardo, que alertou para os impactos da combustão na saúde bucal e destacou alternativas menos nocivas.
O episódio completo está disponível no canal do YouTube do Portal Sechat e, abaixo, você pode ver um recorte do que rolou no Deusa Cast que fez um mergulho histórico e crítico sobre os caminhos da cannabis no Brasil: