É possível ser alérgico a sementes de cânhamo?

As sementes de cânhamo ganham espaço na alimentação saudável, mas estudos apontam potenciais riscos alérgicos semelhantes aos de nozes e avelãs

Publicada em 09/06/2025

É possível ser alérgico a sementes de cânhamo?

Semente de cânhamo. Imagem Ilustrativa: Canva Pro

Com o crescimento das dietas à base de plantas, as sementes de cânhamo conquistaram espaço na inovação alimentar. Ricas em proteínas e com produção sustentável, elas são cada vez mais utilizadas em massas integrais, bebidas vegetais e snacks saudáveis.

No entanto, pesquisas recentes alertam: algumas pessoas podem desenvolver reações alérgicas ao consumir essas sementes — indo de sintomas leves na pele até casos raros de anafilaxia.


O que causa a alergia a sementes de cânhamo?


Estudos conduzidos por pesquisadores do INRAE e do CHU d’Angers, na França, revelaram que proteínas específicas das sementes de cânhamo estão ligadas a essas reações. Utilizando imunoquímica e espectrometria de massa, os cientistas identificaram duas famílias de proteínas como principais responsáveis, edestinas e vicilinas.

Essas proteínas são classificadas como proteínas de reserva, também presentes em frutos secos e leguminosas — categorias frequentemente associadas a alergias alimentares graves.

Segundo a equipe do INRAE, “as proteínas identificadas são semelhantes às presentes nas avelãs”, o que levanta preocupações quanto à reatividade cruzada: pessoas alérgicas a avelãs podem reagir ao cânhamo mesmo sem nunca tê-lo consumido.

 

Evidências científicas da reação cruzada

 

Em um artigo intitulado “Sementes de cânhamo: uma fonte de alérgenos com potencial reatividade cruzada com a avelã”, os pesquisadores realizaram testes ELISA e imunoblotting com soros de pacientes alérgicos.

Os soros de pacientes com alergia a avelãs apresentaram resposta IgE significativa quando expostos a extratos de sementes de cânhamo. A fração proteica das sementes foi a mais reativa.

Em alguns casos, proteínas do cânhamo inibiram a ligação da IgE às proteínas da avelã em até 30%, sugerindo uma resposta imune cruzada.

Essas evidências reforçam a necessidade de mais ensaios clínicos, especialmente em populações vulneráveis.

 

Por que a alergia a sementes de cânhamo demorou a ser reconhecida?

 

Até agora, a maior parte das pesquisas sobre alergias relacionadas à cannabis concentrava-se em flores, folhas e pólen da planta — especialmente pela chamada síndrome cannabis-fruto-vegetal.

O principal alérgeno conhecido, o Can s 3 (uma proteína de transferência de lipídios), está presente nas flores da cannabis, mas não nas sementes.


Essa ausência pode ter contribuído para o atraso no reconhecimento das sementes de cânhamo como um possível risco alérgico.

 

Com informações de NewsWeed