Fábrica de cannabis medicinal leiloada por valor irrisório após desaparecimento de diretores

Pharmin, gigante do setor, encerra atividades no Uruguai deixando 65 funcionários sem indenização e estruturas vendido a preços baixos

Publicada em 20/09/2024

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Estuda da Pharmin no Uruguai | Imagem: Reprodução/Youtube

No início de 2024, uma reviravolta inesperada abalou o mercado de cannabis medicinal no Uruguai. A Pharmin, uma empresa da Geórgia com sede no país, simplesmente encerrou suas operações de forma repentina, deixando cerca de 65 funcionários sem suas devidas indenizações e provocando o leilão de suas instalações e equipamentos por valores considerados extremamente baixos.

A Pharmin, fundada em 2019, rapidamente conquistou destaque no mercado internacional, exportando cannabis medicinal de alta qualidade para Europa e Ásia. Com uma capacidade de produção mensal de uma tonelada de flores secas e localizada em uma propriedade de 2,3 hectares, a empresa prometia ser um dos pilares da indústria na América Latina. No entanto, sem qualquer aviso, no início de 2024 a empresa fechou suas portas, demitindo os funcionários via mensagens de WhatsApp e sem regularizar suas pendências com o Banco da Segurança Social (BPS). Desde então, os responsáveis pela empresa desapareceram, e nem o Ministério do Trabalho e Segurança Social (MTSS) conseguiu localizá-los.

O único contato local da Pharmin, Nicolás Bustillo, irmão do ex-chanceler uruguaio, cortou a comunicação com as autoridades, aumentando o mistério em torno do caso.

Leilão polêmico

 

Na ausência dos responsáveis, um leilão judicial foi realizado para liquidar os ativos da empresa, dividido em dois grandes lotes. O primeiro lote, que incluía uma estufa de 24 mil metros quadrados equipada com tecnologia avançada, foi vendido por apenas US$ 205 mil. O comprador, um horticultor de Paysandú, adquiriu a estrutura a um preço considerado irrisório, levando a criações de alta tecnologia por valores simbólicos.

O segundo lote, composto por um laboratório totalmente equipado, foi arrematado por US$ 130 mil, um valor que, somado ao primeiro, totaliza apenas US$ 335 mil, cerca de 3,5% do valor original da empresa, estimado em US$ 9,5 milhões.

Germán González, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Agroindustriais do Uruguai (UTRAU), criticou severamente o valor arrecadado no leilão, afirmando que “não se pode doar algo que custou milhões por preços tão baixos. Só as luminárias da estufa valiam mais de US$ 240 mil.” Além disso, González expressou descontentamento com a velocidade do leilão, mencionando que os trabalhadores não tiveram tempo para se organizar e participar do processo, e que não houve um foco adequado em preservar a unidade produtiva.

Consequências para os funcionários

 

O desaparecimento da Pharmin e a venda de seus ativos sem consideração pelos funcionários prejudicados geraram revolta. Nenhuma medida foi tomada para compensar os 65 trabalhadores, e o leilão apenas ressaltou a fragilidade das relações trabalhistas e a falta de proteção legal nesse setor.

Para González e outros líderes sindicais, o caso da Pharmin é emblemático traz tensões no setor de cannabis medicinal no Uruguai. "Não se trata de um caso isolado, já que outras empresas, como a Boreal, também enfrentam problemas financeiros e processos de liquidação controversos. No entanto, o caso da Pharmin, com seu súbito desaparecimento e a liquidação de seus bens por valores muito abaixo do mercado, é um sinal de alerta para o futuro da indústria no país", conclui o empresário.

Enquanto o mistério sobre o paradeiro dos proprietários da Pharmin persiste, o caso revela as vulnerabilidades de um setor ainda em consolidação no Uruguai. A incerteza jurídica e a falta de transparência em situações como essa colocam em risco tanto os trabalhadores quanto o desenvolvimento da indústria de cannabis medicinal no país.

 

Com informações de El PLanteo