“Não podemos voltar para casa sem resolver essas questões. Muitos dos grupos de equidade social nem existirão daqui a um ano.” A frase dita com firmeza por Patricia Van Pelt-Scott, ex-senadora estadual e copresidente da organização Black Cannabis Operators, ecoou como um pedido urgente, e também como um alerta, durante a coletiva de imprensa que reuniu empresários da cannabis legal em Illinois, nos Estados Unidos.

O estado, que tem um dos maiores mercados de cannabis dos EUA, ultrapassando a marca dos US$ 2 bilhões em vendas no ano passado, vive hoje um paradoxo doloroso: enquanto os números impressionam, pequenas empresas lideradas por empreendedores de grupos historicamente marginalizados estão à beira da falência.

Promessa de reparação ainda não virou realidade

Illinois foi pioneiro ao legalizar o uso recreativo da cannabis em 2020 com a promessa de reparar os danos da chamada guerra às drogas. Para isso, criou programas específicos para fomentar a participação de comunidades negras e latinas no setor, incluindo o Programa de Empréstimos Perdoáveis para Equidade Social. Mas, segundo empresários do ramo, a lentidão dos repasses, a burocracia e as exigências regulatórias estão criando barreiras quase intransponíveis.

“É como se estivéssemos tentando correr uma maratona com uma âncora nos pés. O estado nos convidou para essa corrida, nos deu esperança, mas esqueceu de nos dar as condições mínimas para competir”, desabafa.

Durante a coletiva, o grupo Black Cannabis Operators pediu que o governo estadual tome medidas urgentes para evitar o colapso de dezenas de negócios. Entre as propostas, estão a concessão de mais subsídios, moratória nas taxas de licenciamento e a flexibilização das regras para que pacientes da cannabis medicinal possam comprar produtos em qualquer dispensário licenciado.

“Nos disseram que queriam reparar injustiças. Agora é a hora de mostrar isso na prática. Porque se essas empresas quebrarem, não é só uma perda financeira, é mais uma oportunidade histórica desperdiçada de promover justiça econômica real”, afirma Van Pelt-Scott.

Resistência e esperança em meio à crise

Apesar das dificuldades, há também histórias de resistência. Em julho passado, em Champaign, foi inaugurado o 100º dispensário de equidade social em Illinois, o SEquity Ventures — um feito simbólico, mas que ainda representa uma exceção em meio a tantos obstáculos enfrentados por outros empreendedores do setor.

O governador JB Pritzker, do Partido Democrata, reafirmou o compromisso com a reparação histórica por meio da cannabis legal: “Desde o primeiro dia de vendas legais de cannabis em Illinois, meu governo tem se comprometido a garantir que não sacrifiquemos uma oportunidade justa e equitativa de ingresso na indústria, ao mesmo tempo em que desfazemos décadas de erros da fracassada guerra às drogas apenas pelos ganhos econômicos”.

Mas, para quem vive na linha de frente dessa realidade, as promessas precisam sair do papel.“A indústria pode até seguir crescendo por um tempo, mas sem equidade, ela cresce torta. E uma árvore torta não sustenta uma floresta inteira”, conclui Patricia.
 

Com informações de Marijuana Moment.