Por redação Sechat - conteúdo publicado originalmente em La Diaria

No Uruguai, de acordo com o Instituto de Regulação e Controle da Cannabis (Ircca),  as farmácias venderam, até agosto de 2023, a mesma quantidade de maconha em relação a todo o ano de 2022, por isso a expectativa é de que este ano feche com o dobro de vendas em relação ao ano passado. 

O crescimento é atribuído à comercialização de uma terceira variedade, conhecida como Gama, com maior teor de tetrahidrocanabinol (THC) – principal componente psicoativo da cannabis–, que atraiu usuários de maconha para o mercado legal.

Até o final de 2022 havia duas variedades de maconha nas farmácias, a Alfa e a Beta, até que a Gama foi incorporada em dezembro.

Juan Ignacio Tastás, diretor executivo do Ircca, disse ao jornal La Diaria que isso levou anos de trabalho para ser alcançado e se baseou em uma análise do próprio instituto que "mostrou que as pessoas que consumiam procuravam um produto com maior psicoatividade". Ele destacou que se um dos objetivos é que esse sistema seja uma fonte segura e seja capaz de “remover pessoas de consumos problemáticos ou lugares de outras fontes, precisávamos ter algo que fosse exatamente o que essas pessoas estavam procurando”.

“O desempenho que tivemos foi muito bom, a ponto de em meados de 2023 atingirmos o consumo de todo o ano passado. Revendo os números, estimamos que 2023 terá o dobro do consumo de 2022”, afirmou.

Ele enfatizou que o IRCCA quer dar opção para as pessoas que querem fazer o uso adulto da substância de forma segura. 

Juan acrescentou que isso fez com que o cadastro de compradores nos Correios uruguaios entrasse no sistema de cannabis através das farmácias e, por sua vez, ocorreu que pessoas já cadastradas há muito tempo, mas que não apareciam com consumo recente, começaram a retomá-lo "e que obviamente eles estavam fazendo isso de outras maneiras."

O cadastro para o sistema de compra de maconha nas farmácias cresceu cerca de 400 pessoas por mês, mas a partir de dezembro, com a adição da variante Gama, passou para 800 e continuou crescendo, chegando a 3.500 novos cadastros em março.

No início de 2023, havia 51.257 pessoas cadastradas para comprar maconha nas farmácias e em seis meses esse número subiu para quase 10.000 a mais, chegando a 61.129.

Epsilon, outra variedade de maconha

A Ircca está desenvolvendo uma quarta variedade de maconha para venda em farmácias que se chamará Epsilon e que deve chegar ao mercado em meados do ano que vem. 

Gama é indica-dominante (com um efeito geralmente definido como relaxante e calmante) e Epsilon terá níveis de THC semelhantes aos de Gama, mas sativa-dominante (mais relacionado a um efeito psicoestimulante e energizante).

"São variedades que acabam sempre por ser híbridas, uma ou outra não é pura, mas as sativas têm uma aceitação melhor que a indica, pelo que presumimos que esta nova variedade sativa que seria lançada em meados do próximo ano poderia ter um impacto semelhante em dinamizar o mercado Gama e, de alguma forma, levar as pessoas que consomem em outros locais a recorrerem ao sistema formal de venda em farmácias”, disse Tastás.

Fazer com que mais farmácias se tornem pontos legais de venda de maconha foi uma das questões em que o IRCCA trabalhou. Quando essa gestão assumiu em 2020, havia 17 farmácias no sistema e agora são 37.

“Algumas farmácias ficaram com um certo receio de entrar no sistema, mas viram que é um negócio legal, sem problemas, que gera uma rentabilidade interessante para quem adere ao sistema, e de alguma forma isso fez com que mais farmácias aderissem. Na verdade, temos algumas farmácias em lista de espera que vamos incorporar à medida que o produto for ficando mais disponível, porque não queremos criar uma situação estressante no sistema”, explicou Tastás.

Quanto aos clubes de cannabis, a política do IRCCA é capacitar rapidamente aqueles que se apresentam e atendem às características necessárias com base nos regulamentos atuais. Em 2022 houve uma entrada recorde de clubes e neste 2023 alguns estão a demitir-se, o que para o Tastás se deve a uma certa saturação. Neste momento, existem mais de 300 clubes.

Expectativas não atendidas sobre a venda de maconha

A cannabis medicinal não teve o desenvolvimento mundial que os empresários do setor no Uruguai e em outros países esperavam, o que gerou complicações e fechamento de empresas.

“A casuística é diferente e depende de cada empresa. Acredito que o fato de a dinâmica internacional não ter correspondido às expectativas desde o início tem um impacto negativo no setor, não só no Uruguai, mas em todo o mundo, entre os que apostam nisso. No entanto, há sinais de que alguns mercados podem se abrir, e países como a Alemanha estão em negociações nesse sentido. Vai depender de como o setor social e político desses países resolverem a questão, e acho que vai conseguir dar um impulso ao setor que está um pouco atingido”, disse Tastás.