Uso fumado da cannabis faz mal? Entenda os efeitos na cognição e na saúde mental

Estudos foram analisados para entender o impacto do uso da cannabis no cérebro, principalmente dos adolescentes e jovens adultos

Publicada em 13/07/2024

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O THC, o CBD e outros canabinoides da cannabis interagem com o sistema endocanabinoide. | Imagem: Vecteezy

A cannabis é usada pelos seres humanos há milhares de anos, sendo uma das drogas mais populares da atualidade. Em 2018, aproximadamente 192 milhões de pessoas em todo o mundo com idades entre 15 e 64 anos usaram cannabis para fins recreativos e/ou uso adulto, segundo o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime.

Seus principais usuários são adolescentes e jovens adultos, cujo cérebro ainda está em desenvolvimento. Podendo ser vulnerável aos efeitos da cannabis, capazes de influenciar processos cognitivos e psicológicos do ser humano.

 

Atuação da cannabis no cérebro

 

Os receptores canabinoides são densamente povoados nas áreas pré-frontais e límbicas do cérebro, envolvidas na recompensa e na motivação, regulando a sinalização das substâncias químicas cerebrais dopamina, ácido gama-aminobutírico (GABA) e glutamato.

O tetrahidrocanabinol (THC), principal composto psicoativo da maconha, o canabidiol (CBD) e outros canabinoides atuam no "sistema endocanabinoide", presente no corpo humano.

 

Efeitos cognitivos

 

O uso de cannabis pode afetar a cognição, especialmente em pessoas com transtornos induzidos pela planta - caracterizado pelo desejo persistente de usar a droga e pela interrupção de atividades diárias, como trabalho ou estudo. Estima-se que 10% dos usuários atendam aos critérios de diagnóstico para o transtorno.

Em pesquisa publicada no site de notícias acadêmicas The Conversation, foram comparados dois grupos: usuários de drogas e portadores do transtorno (39 pessoas) e grupo controle, que nunca ou muito raramente usam cannabis (20 pessoas).

Os participantes do primeiro grupo apresentaram desempenho significativamente pior nos testes de memória em comparação aos indivíduos do grupo controle. Sua “função executiva” , responsável pelos processos mentais como pensamento flexível, foram afetadas negativamente.

Segundo a pesquisa, o efeito está ligado a idade - quanto mais jovem, mais prejudicial - e ao sexo. A memória dos homens era mais fraca para reconhecer visualmente os objetos, já as mulheres apresentaram dificuldade na atenção e nas funções executivas.

 

Recompensa, motivação e saúde mental

 

No estudo foram usadas tarefas de imagem cerebral para analisar a resposta cerebral a recompensas. Os participantes foram colocados em um aparelho de ressonância magnética e viram quadrados laranjas ou azuis.

Como resultados, os participantes tiveram efeitos sutis, sem efeitos diretos da cannabis no estriado ventral, região chave no sistema de recompensa. No entanto, usuários mais recentes podem apresentar alguma alteração.

Quanto aos riscos na para a saúde mental, outro estudo mostrou que o uso de cannabis aumenta moderadamente o risco de sintomas psicóticos em jovens, podendo ter um efeito muito mais forte naqueles com predisposição para psicose (com pontuação alta em uma lista de sintomas de ideias paranoicas e psicoticismo).

Ao avaliar 2.437 adolescentes e adultos jovens (14-24 anos), os autores observaram um risco aumentado de seis pontos percentuais, de 15% para 21%, de sintomas psicóticos em usuários de cannabis sem predisposição para a psicose. Entre os usuários de cannabis com predisposição, o aumento foi de 26 pontos no risco, de 25% para 51%.

Os efeitos cognitivos e psicológicos do uso de cannabis provavelmente dependem, em certa medida, da dosagem (frequência, duração e força), gênero, vulnerabilidades genéticas e idade de início. Um artigo resumindo vários estudos sugeriu que, no caso do uso leve de cannabis, os efeitos podem diminuir após períodos de abstinência.

 

Conteúdo publicado originalmente na BBC News Veja a versão original do artigo em inglês.