Menos ressaca, mais cannabis: novo hábito dos consumidores preocupa setor de bebidas
O CEO da Brown-Forman, do Jack Daniel’s, admite que a legalização da maconha está pressionando o setor de bebidas alcoólicas, à medida que consumidores trocam o álcool pela cannabis
Publicada em 10/06/2025

Jack Daniel’s sente o baque: CEO admite que maconha virou concorrente do álcool | CanvaPro
Aos poucos, e com a força de um movimento que não para de crescer, a cannabis vem ocupando espaços antes dominados por outras substâncias. E agora, o impacto da sua legalização começa a ecoar em setores até então pouco relacionados diretamente com o debate canábico. É o caso da indústria de bebidas alcoólicas, que vê seus lucros encolherem à medida que consumidores trocam o brinde pelo baseado.
Quem trouxe esse cenário à tona, de forma direta e sem rodeios, foi Lawson Whiting, CEO da Brown-Forman Corporation, gigante do setor e controladora de marcas icônicas como Jack Daniel’s e Woodford Reserve. Em uma teleconferência de resultados financeiros realizada na última quinta-feira (5), Whiting afirmou que o uso crescente da maconha está colocando "pressão" sobre a indústria de bebidas destiladas, contribuindo para a queda nas vendas da empresa.
Três fatores e uma nova realidade
Ao comentar a redução de 5% nas vendas líquidas do grupo, Whiting apontou três grandes tendências que, segundo ele, estão transformando o comportamento dos consumidores: as mudanças geracionais, o uso crescente de medicamentos para perda de peso... e a cannabis.
“Já estamos dizendo isso há um ano e meio. E sei que, do lado dos vendedores, o mundo parece estar um pouco dividido quanto à extensão da pressão que está sendo exercida sobre a nossa categoria”, disse o executivo.
Mesmo sem bater o martelo sobre a dimensão exata desse impacto, Whiting deixou claro: o consumo de cannabis, especialmente nos Estados Unidos, onde sua legalização avança a passos largos, já afeta o mercado de bebidas alcoólicas. “Seríamos ingênuos se disséssemos que não há pressão vinda deles”, admitiu.
Do álcool à cannabis: o que está mudando?
As novas gerações estão repensando hábitos de consumo. Seja por questões de saúde, bem-estar, ou simplesmente por estilo de vida, há um movimento crescente de pessoas que reduzem, ou abandonam, o consumo de álcool e encontram na cannabis uma alternativa mais leve, com menos ressaca e, segundo estudos recentes, até com benefícios cognitivos.
Na Europa, onde o avanço da legalização da cannabis é mais tímido, Whiting afirma que as tendências ainda acompanham as dos EUA, mas sem o “fator cannabis” atuando com tanta força. Ou seja, o que está acontecendo por lá pode ser apenas um prenúncio do que ainda está por vir.
Mercado em transição: incertezas e oportunidades
Em seu comunicado oficial à imprensa, a Brown-Forman incluiu a legalização da maconha entre os "riscos e incertezas" que rondam o setor. A empresa reconhece que as mudanças nas preferências de consumo fazem parte do jogo – e que será necessário se adaptar.
“Embora nossos resultados não tenham correspondido às nossas aspirações de crescimento a longo prazo, fizemos progressos importantes em um ambiente macroeconômico excepcionalmente desafiador”, declarou Whiting. E completou: “estamos confiantes de que, com agilidade, inovação e um foco claro na execução, estamos bem posicionados para navegar pela incerteza".
E o que dizem os especialistas?
A análise feita pelo CEO da Brown-Forman não é isolada. Relatórios de instituições financeiras como Bloomberg Intelligence e bancos de investimento multinacionais já apontam a cannabis como uma “concorrente formidável” do álcool. Projeções indicam que cerca de 20 milhões de pessoas a mais devem passar a usar cannabis regularmente nos próximos cinco anos nos EUA, enquanto o álcool pode perder milhões de consumidores no mesmo período.
A estimativa é que, até 2027, as vendas de cannabis no mercado americano alcancem os US$ 37 bilhões, à medida que mais estados avançam com a legalização e a regulamentação do uso adulto.
Um brinde ao futuro (talvez sem álcool)
O que estamos vendo não é apenas uma mudança de hábito individual, é um reflexo de transformações sociais profundas. O debate sobre o uso adulto da cannabis, sua regulamentação e os impactos econômicos que ela carrega está cada vez mais presente. E à medida que essa planta conquista novos espaços, setores inteiros da economia precisarão repensar seus caminhos.
Se antes a dúvida era entre vinho tinto ou branco, hoje a escolha pode ser entre uma taça ou um vaporizador. E o mercado, atento, já começa a perceber que o futuro pode estar em um novo tipo de celebração, com menos álcool, mais consciência e, quem sabe, um pouco de cannabis.
Com informações de Marijuana Moment.