Motoristas sob efeito de THC seriam mais prudentes, aponta estudo
Levantamento revela que comestíveis com derivados da planta alteram o comportamento humano sem comprometer a segurança
Publicada em 16/07/2024
Testes com bafômetros para detecção de maconha já são autorizados no Brasil | Imagem: Freepik
Um estudo recente investigou o comportamento de motoristas após consumirem alimentos contendo THC, um dos principais compostos psicoativos da cannabis. Publicado no Journal of Cannabis Research, a pesquisa revelou que os motoristas sob efeito do composto mostraram uma tendência a permanecerem na faixa de velocidade mais baixa durante a condução, em comparação com os demais que estavam sóbrios.
O levantamento, pioneiro ao focar nos efeitos dos comestíveis em vez da cannabis inalada, é crucial devido às diferenças de absorção e efeitos entre as duas formas de consumo. Enquanto a cannabis fumada atua rapidamente, os comestíveis levam mais tempo para fazer efeito e podem apresentar ações distintas devido ao metabolismo diferenciado.
Metodologicamente, o estudo acompanhou motoristas em condições controladas, monitorando seu comportamento ao volante após o consumo de doses específicas de THC. Surpreendentemente, não foram encontradas diferenças significativas em medidas de capacidade de dirigir entre os grupos sob efeito de THC e os controles sóbrios. Além disso, não houve correlação direta entre os níveis do composto da cannabis detectados no sangue dos motoristas e qualquer comprometimento na habilidade de dirigir.
Um aspecto destacável da pesquisa foi a baixa incidência de colisões entre os motoristas que consumiram comestíveis de cannabis, tão reduzida que os pesquisadores não conseguiram avaliar adequadamente esse fator em sua análise final. Esses resultados desafiam percepções comuns sobre os riscos associados ao consumo de THC e direção, especialmente em um contexto de debate crescente sobre a legalização da cannabis em várias partes do mundo.
É importante ressaltar, no entanto, que outros estudos sugerem que o uso contínuo de cannabis, principalmente em sua forma fumada, pode comprometer a cognição, influenciando assim na maneira como as pessoas conduzem seus veículos. Por isso, a segurança do consumo da planta e seus impactos na segurança viária e na sociedade como um todo, necessitam de mais estudos.
Atuação da cannabis no cérebro
Os receptores canabinoides são densamente povoados nas áreas pré-frontais e límbicas do cérebro, envolvidas na recompensa e na motivação, regulando a sinalização das substâncias químicas cerebrais dopamina, ácido gama-aminobutírico (GABA) e glutamato.
O tetrahidrocanabinol (THC), principal composto psicoativo da maconha, o canabidiol (CBD) e outros canabinoides atuam no "sistema endocanabinoide", presente no corpo humano.
Efeitos cognitivos
O uso de cannabis pode afetar a cognição, especialmente em pessoas com transtornos induzidos pela planta - caracterizado pelo desejo persistente de usar a droga e pela interrupção de atividades diárias, como trabalho ou estudo. Estima-se que 10% dos usuários atendam aos critérios de diagnóstico para o transtorno.
Em pesquisa publicada no site de notícias acadêmicas The Conversation, foram comparados dois grupos: usuários de drogas e portadores do transtorno (39 pessoas) e grupo controle, que nunca ou muito raramente usam cannabis (20 pessoas).
Os participantes do primeiro grupo apresentaram desempenho significativamente pior nos testes de memória em comparação aos indivíduos do grupo controle. Sua “função executiva” , responsável pelos processos mentais como pensamento flexível, foram afetadas negativamente.
Segundo a pesquisa, o efeito está ligado a idade - quanto mais jovem, mais prejudicial - e ao sexo. A memória dos homens era mais fraca para reconhecer visualmente os objetos, já as mulheres apresentaram dificuldade na atenção e nas funções executivas.