O impacto da cannabis no tratamento da demência na terceira idade
O óleo de cannabis transformou a vida de dona Minervina, de 88 anos, ajudando a combater delírios, alucinações e melhorando sua qualidade de vida. Um relato emocionante de sua filha e a visão do Dr. Renan Abdala sobre os benefícios do canabidiol no tratamento da demência em idosos.
Publicada em 17/12/2024
Foto: Arquivo pessoal
Aos 88 anos, Minervina Petit é a mais nova paciente de cannabis medicinal do momento. Ao longo de sua vida, sempre foi muito ativa nas demandas da casa e da costura, mas com o tempo, teve que diminuir o passo, literalmente. “Há exatos três anos a mobilidade dela despencou, alterando a saúde num geral, desde vista, dores musculares e coração”, pontuou Haydee Petit, “filha anjo” que está cumprindo o papel de cuidadora da mãe.
Neste ano e já com a saúde debilitada, dona Minervina apresentou uma demência de idade, aquela que vai adquirindo delírios e alucinações no dia a dia. “Ela começou a enxergar bichos, insetos pela cama, não falava coisa com coisa e foi pegando a gente de surpresa…teve um dia que ela pediu pra ir pra casa estando deitada no seu quarto”, comentou a filha que não pensou duas vezes em procurar uma alternativa paliativa para tratar da mãe após resultado do quadro de demência.
“Pesquisei junto a familiares sobre o óleo de cannabis e foi uma maravilha. É o que tá segurando. A gente começou com 3 gotinhas, depois passamos para 5 e fomos monitorando. Agora ela está dormindo melhor, parou com as alucinações e delírios e está melhor. Se não fosse o canabidiol, a gente já tinha pirado”, reforça Haydee que com a ajuda da geriatra, introduziu o óleo de cannabis artesanal em dona Minervina.
Demência: principais tipos e como se manifestam ao longo da vida
A demência é uma síndrome progressiva que afeta a memória, o raciocínio, o comportamento e a capacidade de realizar atividades diárias. Entre os tipos mais comuns estão:
Doença de Alzheimer
A forma mais prevalente de demência, caracterizada por perda de memória e dificuldade em resolver problemas simples.
Demência Vascular
Associada a problemas de circulação sanguínea no cérebro, muitas vezes causada por derrames.
Demência com Corpos de Lewy
Marcada por alucinações visuais e flutuações no estado mental, a mesma que a dona Minervina apresentou em seu diagnóstico.
Demência Frontotemporal
Afeta principalmente a linguagem e o comportamento, devido à degradação dos lobos frontal e temporal do cérebro.
Cannabis: uma alternativa segura para melhorar a qualidade de vida
Em entrevista ao Sechat, o clínico geral Renan Abdala destacou que o óleo pode trazer uma série de melhorias comportamentais e psicológicas, incluindo:
- Sono e alucinações: melhorias na qualidade do sono e redução de delírios e alucinações. Pacientes que tinham dificuldades para dormir ou apresentavam comportamento confuso relataram progresso significativo.
- Apetite e dor: recuperação do apetite e diminuição de dores crônicas, como musculares ou relacionadas à pele, além de sintomas incomuns como coceiras.
- Cognição e interação: alguns pacientes demonstraram maior lucidez, com melhoras cognitivas que favoreceram a troca de diálogo e o engajamento nas atividades diárias.
Abdala explicou que medicamentos convencionais para demência, como memantina e rivastigmina, podem ter efeitos colaterais mais agressivos como sonolência excessiva e piora cognitiva.
O que comprova a busca da Haydee, em optar por um tratamento complementar para a dona Minervina. “A gente trata com medicamentos alopáticos também, porém, ela [a mãe] estava apresentando uma confusão mental que só cessou com a introdução do óleo”, descreve.
Já o tratamento com cannabis oferece uma alternativa segura, especialmente devido ao ajuste gradual da dose, reduzindo riscos de reações adversas.
“Quando analisamos o caso de pacientes com demência, percebemos que enfrentam uma doença progressiva e neurodegenerativa, que tende a piorar com o tempo. Muitos medicamentos convencionais acabam deixando de surtir efeito ou provocam efeitos colaterais significativos. Por isso, cada vez mais pacientes estão recorrendo à cannabis como uma alternativa segura e eficaz”, enfatiza Abdala.
Personalização e dosagem do tratamento
A dosagem do óleo de cannabis é personalizada, considerando o estágio da doença e condições preexistentes. Segundo o médico, geralmente, inicia-se com produtos equilibrados em CBD e THC, aumentando gradativamente. “Para casos mais avançados, óleos com maior concentração de THC são preferíveis, enquanto óleos ricos em CBD podem ser indicados para pacientes com histórico de ansiedade ou uso de psicotrópicos”, explica.
Expansão e aceitação da cannabis medicinal
A cannabis ainda pode ser considerada um tabu, mas para muitas famílias, aos poucos, esse preconceito vem sendo quebrado. O burburinho surte efeito quando bem informado, como foi no caso da filha da dona Minervina, por exemplo, que só acreditou na eficácia do canabidiol quando ouviu relatos de familiares que tratam patologias como Fibromialgia e Ansiedade.
“Acredito que a qualidade de vida deve ser superior à qualquer preconceito e ver minha mãe bem e evoluindo em algumas situações não tem preço”, explicou Haydee.
O Dr. Renan destacou que o uso de cannabis vem ganhando aceitação entre pacientes e médicos, sendo procurado cada vez mais cedo em casos de doenças neurodegenerativas e atuando com resultados significativos na qualidade do sono, na redução da ansiedade e irritabilidade, além de uma melhora geral no humor e na interação.
“Observamos, inclusive, um impacto positivo na memória e na velocidade de progressão da doença. A cannabis atua como anti-inflamatório e neuroprotetor, trazendo benefícios únicos para cada caso, sempre considerando o estágio da doença e as condições individuais,” finaliza o médico que acredita que o avanço da regulamentação no Brasil contribuirá para a ampliação desse tratamento promissor.