Obstáculos e oportunidades do cultivo de cannabis medicinal e do cânhamo industrial

Palestras do módulo Agro e Tech Cannabis pautam a importância da regulamentação e legalização do plantio de cannabis e seus derivados para o desenvolvimento econômico do setor

Publicada em 27/05/2024

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“O Brasil tem todo o necessário, terras, tecnologia, agronegócio desenvolvido, potencial de pesquisa. Tudo.”, afirma Rafael Arcuri, presidente da Associação Nacional do Cânhamo Industrial (ANC) e moderador da palestra sobre as possibilidades do Brasil ser a maior indústria do mundo em insumos farmacêuticos, por meio do plantio do cânhamo.

Durante a sessão, Arcuri e os palestrantes, Ubiracir Lima, Peter Anderson e Priscila Gava Mazzola, debateram a importância de uma legalização e regulamentação da cannabis no país, a fim de tornar o Brasil uma potência mundial na fabricação de canabinoides.  

Em sua fala, a professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) explicou que o cânhamo é um produto multidisciplinar. "Tanto em volume, quanto em qualidade, temos um potencial gigantesco no setor das pesquisas. Buscamos parceria não só com outras instituições de ensino, mas também com industrias". A pesquisadora ainda ressaltou a importância do respaldo jurídico, que traz uma segurança para as universidades apoiarem o desenvolvimento da cannabis.

O participante do Conselho Federal de Química (CFQ), onde coordena o Grupo de Trabalho da Cannabis, Ubiracir, ressaltou a necessidade de não apressar o processo da cannabis no Brasil. "Temos etapas para cumprir e elas precisam ser fiscalizadas por organizações competentes. Precisamos focar na segurança ao paciente, a cannabis é uma pauta muito recente, não podemos querer tudo para ontem. De uma maneira silenciosa estamos montando uma base sólida de pesquisas".

O químico, durante sua fala, ainda pontuou dados importantes para o setor das pesquisas. "Só de 2024, na plataforma SPQ, temos 2.405 trabalhos científicos, mais de 40 grupos de pesquisa cadastrados. Precisamos destes matérias para mostrar à indústria pública, que conseguimos controlar as substancias da cannabis".

Perguntado sobre a potencia da cannabis em concorrer com outras indústrias no Brasil, Peter, presidente e CEO do Grupo Centroflora, respondeu que o mercado brasileiro em si, é desafiador. "É uma indústria complexa, hoje 60% das indústrias no Brasil foram construídas na década de 80. É difícil ingressas no Brasil. Mas com o cânhamo, o Brasil tem poder de competir com o resto do mundo, com certeza pode ser um dos grande produtos do país".

 

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Da esquerda para a direita, Priscila Gava, Peter Anderso, Ubiracir Lima e Rafael Arcuri

 

Cultivo na América Latina 

Ainda sobre as possibilidades do cultivo, a última mesa da sexta-feira (24), pautou as oportunidades e os obstáculos da produção de cannabis medicinal em larga escala. Os colombianos, Pelayo Gutiérrez e Efaín López e o uruguaio Sergio Vazquez Barrios, compartilharam suas experiências fora do Brasil e palestraram brilhantemente sobre o tema. A moderação da mesa ficou por conta da jornalista Valéria França.

Efraín abriu o debate explicando como funciona o plantio medicinal na Colômbia, país onde está vigente o decreto 811, pautado no acesso seguro e informal da cannabis. "Um cultivo de grande escala na Colômbia chega a setes hectares apenas, a média fica em dois. Mas isto é mais que suficiente para o plantio medicinal". Afirmou o advogado ao introduzir a pauta da larga escala.

Ao ser perguntado sobre o mercado brasileiro, o diretor da Árpez Company, Lopez afirmou que o Brasil está "criando um monstro". "Nos próximos 10 anos, em caso de regulamentar, vocês (Brasil) serão um dos maiores mercados do mundo. Aqui existe uma grande proporção de terra e de população" .

Já o diretor geral de serviços agrícolas do Ministério da Pecuária, Agricultura e Pesca (MGAP) do Uruguai, Sergio, falou sobre o "país modelo" da América Latina.

"Hoje temos 64 produtores e mais de 700 fazendas, podendo chegar a 30 hectares de plantio, tanto medicinal, quanto adulto. Também estão liberadas 21 variedades com alto THC, 85 variedades com CBD e 10 com grano/fibro", comenta Barrios.  

Já Pelayo, que além de trazer os dados de fazendas licenciadas na Colômbia (110), pontuou a importância do mercado brasileiro. "Onde realmente existe um marco regulatório para operar e trazer produtos de qualidades é aqui, no Brasil", afirma o CEO e fundador da Volcanic.