Podemos esperar um ressurgimento da agenda canábica na Colômbia? Presidente da República faz novos apelos ao Congresso

"Solicito ao Congresso da Colômbia legalizar a maconha e tirar esse cultivo da violência. A proibição da maconha na Colômbia só traz violência”, disse Petro em sua rede social

Publicada em 31/03/2025

Podemos esperar um ressurgimento da agenda canábica na Colômbia? Presidente da República faz novos apelos ao Congresso

Gustavo Petro Presidente da Colômbia. Imagem: Fernando Frazão/Agência Brasil

Apesar da crescente atenção global para a cannabis medicinal, a Colômbia ainda enfrenta dificuldades para consolidar um mercado comercial robusto, capaz de competir internacionalmente.

As empresas locais que exportam seus produtos enfrentam custos elevados de manutenção, impulsionados pela falta de um mercado interno forte. A indústria mantém seus apelos  para acelerar a regulamentação e flexibilizar processos, principalmente após a a nova Política Nacional de Drogas 2023-2033, mas as mudanças na Colômbia acontecem a um ritmo bem mais lento do que em outros países e indústrias.

O Presidente da Colômbia, Gustavo Petro, mais uma vez se posicionou favoravelmente à legalização da cannabis. No domingo (23), por meio da plataforma X (antigo Twitter), escreveu: "Solicito ao Congresso da Colômbia legalizar a maconha e tirar esse cultivo da violência. A proibição da maconha na Colômbia só traz violência”.

Embora o presidente frequentemente envie mensagens de apoio à regulamentação, é esperado que tais declarações não passem de uma boa intenção sem ações concretas.

 

Apostas mal direcionadas e oportunidades desperdiçadas  

 

O governo atual desperdiçou uma grande oportunidade de regulamentar o uso adulto em junho de 2023, quando o Congresso estava mais alinhado com seus interesses. Com a recomposição de seu gabinete, o presidente deixou claro que suas prioridades estão em reformas de áreas como saúde, trabalho e reforma agrária, que não avançaram ao longo de quase dois anos de governo.

Mesmo com os apelos do presidente ocorrendo em um contexto de aumento da violência em regiões como Cauca e Catatumbo — conhecidas por sua produção de cultivos ilícitos —, o governo continua insistindo nas políticas de substituição de cultivos, sem olhar para outras alternativas mais sustentáveis. De acordo com a Direção de Substituição de Cultivos de Uso Ilícito, o governo paga cerca de USD $310 mensais por cada trabalho de erradicação voluntária.

Além disso, o debate volta-se frequentemente para a folha de coca, enquanto a indústria da cannabis, já consolidada, carece de atenção e apoio.

 

Indústria da cannabis: da expectativa ao ajuste de realidade

 

A indústria canábica na Colômbia atravessa um ponto de inflexão. O entusiasmo inicial, acompanhado de grandes investimentos, deu lugar a um ajuste de expectativas que levou diversas empresas à falência. Apesar disso, o esforço para padronizar processos permitiu que algumas empresas conquistassem mercados internacionais.

Também persistem sentimentos de abandono em relação a políticas públicas claras que apoiem a indústria local, como acontece em outros países, como o Canadá e os Estados Unidos. A falta de incentivo aos produtores nacionais tem dificultado o desenvolvimento de um mercado interno sólido e a competição com empresas estrangeiras.

Ludy Valero Morales, CEO da GMP Solutions, especializada em assessoria de conformidade regulatória e certificações internacionais, afirma que a indústria da cannabis tem grande potencial. No entanto, somente aquelas empresas que investirem em qualidade desde o início conseguirão se consolidar e se destacar no setor. "Com uma estratégia clara, uma cultura de qualidade arraigada e uma equipe comprometida, qualquer empresa na Colômbia pode alcançar padrões internacionais e competir nos mercados mais exigentes", diz.

Por isso, é urgente que o governo mantenha as premissas que tornaram a cannabis um projeto de interesse estratégico nacional, como já ocorreu com o Abacate Hass, que é hoje um exemplo de sucesso, gerando inovação, empregos e desenvolvimento. O setor da cannabis também merece esse apoio, mas para isso é necessário ir além dos anúncios em redes sociais e implementar medidas eficazes para impulsionar uma indústria que ainda luta para se manter relevante.

Se o Presidente Gustavo Petro realmente deseja impulsionar a indústria da cannabis, ele precisará ir além das declarações públicas e investir em ações concretas para fortalecer o mercado local e garantir uma regulamentação eficaz.