"Rei da Cannabis" chega ao poder na Tailândia e pode definir o futuro da legalização

Após três anos de debates sobre a descriminalização, mudança de governo reacende discussões sobre a política de cannabis no país

Publicada em 09/09/2025

"Rei da Cannabis" chega ao poder na Tailândia e pode definir o futuro da legalização

Anutin Charnvirakul, conhecido como “Rei da Cannabis” e ao fundo uma imagem de uma planta de cannabis. Imagem: Canva Pro

Três anos após se tornar um dos primeiros países da Ásia a descriminalizar o uso recreativo da cannabis, em junho de 2025, a Tailândia voltou a debater a reclassificação da planta como narcótico. O tema já era discutido há mais de um ano, quando o então primeiro-ministro Srettha Thavisin anunciou que a maconha seria novamente classificada como droga ilícita. A declaração esfriou pouco depois, mas os rumores de recriminalização se mantiveram. 

Agora, o cenário pode mudar. A Tailândia tem um novo primeiro-ministro: Anutin Charnvirakul, conhecido como “Rei da Cannabis” pelo papel central na descriminalização em 2022. Na última sexta-feira (05), o líder de 58 anos do partido Bhumjaithai (Orgulho da Tailândia) obteve 311 dos 492 votos no parlamento, tornando-se o terceiro chefe de governo do país em apenas um ano.

 

O arquiteto da cannabis no governo

 

A ascensão de Anutin tem forte carga simbólica. Como ministro da Saúde durante a pandemia de Covid-19, ele liderou a retirada da cannabis da lista de narcóticos, transformando a Tailândia no primeiro país asiático a descriminalizar a planta.

Seu partido construiu a imagem em torno dessa bandeira. Durante a campanha de 2023, Anutin chegou a usar camisas estampadas com folhas de cannabis, reforçando a associação direta com sua principal conquista política.

Segundo o Asia Cannabis Report, suas motivações iniciais eram pragmáticas: reduzir a superlotação das prisões por delitos menores e abrir oportunidades econômicas, especialmente em regiões rurais como Isan, reduto do Bhumjaithai.

 

Mercado tailandês de cannabis em expansão

 

A política da cannabis está intimamente ligada à economia. O mercado tailandês movimentou cerca de US$ 1,31 bilhão em 2024 e deve crescer a uma taxa anual composta de 33% entre 2025 e 2030. Estimativas apontam que pode atingir US$ 9,6 bilhões até 2030.

Para comparação: o mercado canadense foi estimado em US$ 3,9 bilhões em 2023, enquanto o dos EUA ultrapassou US$ 20 bilhões. Globalmente, a expectativa é de salto de US$ 57,18 bilhões em 2023 para US$ 444,34 bilhões em 2030.

Se as projeções se confirmarem, a Tailândia poderá conquistar 2,2% do mercado global, tornando-se o maior mercado individual de cannabis fora da América do Norte e da Europa.

Somente no primeiro ano após a descriminalização, a economia da cannabis gerou 28 bilhões de baht (cerca de € 750 milhões) em receitas, com expectativa de quase dobrar em curto prazo. Hoje, milhares de agricultores, comerciantes e até o turismo dependem do atual quadro legal.

 

Entre instabilidade política e pragmatismo econômico

 

Apesar da vitória parlamentar, o governo de Anutin se apoia em uma frágil aliança com rivais ideológicos que pressionam por novas eleições. Além disso, a promessa de uma reforma constitucional traz mais incertezas.

Mesmo assim, para muitos tailandeses, a cannabis já se consolidou como um raro ponto de esperança. Além da relevância na agricultura e no turismo, tornou-se um instrumento de soft power, projetando a Tailândia como pioneira em um continente de forte repressão.

Países vizinhos como Malásia, Indonésia e Filipinas mantêm leis rígidas, enquanto Japão e Coreia do Sul permitem apenas usos médicos limitados, proibindo o consumo recreativo.

 

Com informações de NewsWeed