Três em cada dez pacientes de cannabis medicinal em Maringá têm gasto mensal acima de R$ 500, mostra estudo

Mesmo com barreiras, dados mostram avaliação positiva do tratamento

Publicada em 02/05/2025

Três em cada dez pacientes de cannabis medicinal em Maringá têm gasto mensal acima de R$ 500, mostra estudo

Cannabis Imagem ilustrativa: Canva Pro

Um levantamento sobre o uso de cannabis medicinal em Maringá revelou que 30% dos pacientes gastam mais de R$ 500 por mês com o tratamento, podendo chegar a R$ 2.000 e, em casos excepcionais, até R$ 3.000. Entre os entrevistados, o alto custo foi apontado como a principal barreira financeira ao acesso.

 

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Equipe responsável pelo levantamento. Imagem: Arquivo pessoal

 

Os dados foram apresentados no "relatório técnico Mapeamento de demanda para acesso à Cannabis Medicinal em Maringá", que contou com 342 respostas, 148 de pessoas em tratamento com cannabis medicinal. Como via de aquisição, os números mostram uma soberania para a RDC 660.    

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Pontos de Maringá onde foi feita a pesquisa

38,5% dos pacientes adquirem os medicamentos por meio da importação regulamentada. Em segundo lugar está as associações com 30,4%. 18,2% utilizam o mercado clandestino e 16,8% compram em farmácias, enquanto apenas 5,4% fazem uso do autocultivo, enquanto 3,3% acessam os produtos via Sistema Único de Saúde (SUS).

Atualmente, não há um programa municipal para fornecimento gratuito de cannabis pelo SUS. No âmbito estadual, desde fevereiro de 2023 está em vigora a Lei Estadual nº 21.364, que garante fornecimento gratuito de canabidiol e THC para condições específicas de saúde. "Contudo, Maringá ainda não regulamentou nenhum programa local, de modo que o acesso gratuito registrado (3,3% dos casos) ocorre de forma esporádica, via decisões judiciais ou iniciativas de associações que ofertam tratamento a valores sociais", destaca  Michel Henrique, presidente da Associação Semear.

A pesquisa foi realizada entre os dias 7 e 31 de outubro de 2024, por meio de ligações e visitas a 45 instituições. O relatório foi elaborado de forma colaborativa pelo Nuppol (Núcleo de Pesquisas em Participação Política da UEM) e pela Semear (Associação de Terapia e Harmonia Canábica).

A amostra utilizada na análise específica do relatório inclui 67,8% de pacientes adultos e 32,2% de cuidadores ou responsáveis legais.

 

Eficácia motiva adesão, apesar das barreiras

 

Mesmo diante das dificuldades, muitos pacientes seguem firmes no tratamento devido à sua eficácia. Cerca de 89% afirmaram sentir-se confortáveis com o uso da cannabis. Além disso, 56,6% relataram ter reduzido ou substituído outros medicamentos após o início do tratamento, enquanto 43,3% não observaram mudanças nesse aspecto.

A maioria dos pacientes (98%) utiliza os medicamentos de forma contínua ou regular. Apenas 2% relatam uso pontual, geralmente em situações de crise. A via oral é predominante, presente em 93,3% dos casos, principalmente na forma de óleos. Também são mencionadas vias aéreas (40,5%), comestíveis (12,1%) e tópicas (6%).

 

Composição dos produtos e avaliação do tratamento

 

Quanto à composição dos medicamentos, 46,3% são ricos em canabidiol (CBD), 8,8% em tetrahidrocanabinol (THC) e 32% apresentam equilíbrio entre os dois. Outros 1,4% utilizam formulações com canabigerol (CBG), e 9,5% não souberam informar a concentração dos princípios ativos.

Sobre o acompanhamento terapêutico, 58,1% realizam consultas particulares, 27% usam planos de saúde e 14,2% são atendidos pelo SUS — o mesmo percentual que faz uso da cannabis sem supervisão médica. A avaliação geral da eficácia é bastante positiva: 50,3% atribuíram nota máxima (10) às melhorias percebidas, com média de 8,82 na escala de satisfação.

 

Perfil dos usuários e principais condições de saúde


A amostra apresenta leve predominância de mulheres (52%), seguida por 46,5% de homens e 1,5% de pessoas não binárias. A idade média é de 34,9 anos. A faixa etária predominante é de 30 a 59 anos (36,6%), seguida por 13 a 29 anos (26,2%), 60 anos ou mais (22,1%) e 1 a 12 anos (15,2%).

Quanto à cor ou raça, 72,9% se identificam como brancos, 18,2% como pardos, 5,9% como pretos e 2,9% como amarelos.

 

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Clínica de apoio ao Transtorno do Espectro Autista de Maringá, um dos locais onde foi divulgado o relatório respondido pelos participantes. Imagem; Arquivo pessoal

 

Entre as condições de saúde mais comuns estão os transtornos mentais (48,2%), como ansiedade, depressão e TDAH. Em seguida, aparecem as necessidades especiais, como o Transtorno do Espectro Autista (TEA) (22,2%), dores crônicas (19,8%), distúrbios neurológicos (15,4%) e outras condições, como psoríase (16,6%).

Segundo os pesquisadores, os dados revelam um panorama multifacetado sobre o uso da cannabis medicinal em Maringá, demonstrando ampla adesão ao uso contínuo e uma média elevada de satisfação quanto à eficácia do tratamento. Por outro lado, destacam-se as persistentes barreiras econômicas, regulatórias e estruturais que dificultam o acesso e a democratização desse tipo de cuidado.

Para o presidente da Semear, o relatório também deve servir como ponto de partida para mudanças futuras. "Já estamos articulando uma reunião com a Secretaria de Saúde para que o documento sirva de subsídio na formulação de políticas públicas na cidade. Esperamos que esse relatório subsidie e fortaleça a aprovação do Projeto de Lei apresentado na gestão legislativa anterior, que não foi aprovado à época".