Cannabis, coragem e resiliência: como Rachel encontrou um novo jeito de viver
Após enfrentar o câncer, a fibromialgia e anos de crises de saúde mental, Rachel encontrou na cannabis medicinal um caminho para dormir melhor, controlar a ansiedade e recuperar sua qualidade de vida
Publicada em 01/07/2025

Rachel passou mais de uma década em busca do sono perfeito e só conseguiu um bocejo depois do tratamento com cannabis medicinal | Foto: Arquivo Pessoal
Ela aprendeu a bocejar de novo. Isso mesmo que você leu! Um simples bocejo que a maioria das pessoas têm quando estão “caindo” de sono, foi um alerta feliz para a nova vida de Rachel Juraski, 42 anos, publicitária, escritora, bióloga de formação e corinthiana roxa.
Ela passou mais de uma década buscando alternativas para dormir, sendo tragada por dores invisíveis, dias insones, crises de depressão e episódios que até a fizeram desejar o fim. Entre um diagnóstico e outro, transtorno bipolar, ansiedade generalizada, câncer de ovário e fibromialgia, o que parecia restar era o cansaço. Mas também havia algo que insistia em permanecer: a coragem.
E foi nesse entrelaço de esperança e exaustão que Rachel conheceu a cannabis medicinal. “A ansiedade me levava à depressão, a depressão desencadeava as crises de dor da fibromialgia. Era uma tempestade perfeita. E eu no meio dela”, conta.
Quando o corpo grita e a alma sussurra

O diagnóstico de fibromialgia veio após meses de dores crônicas e um tratamento oncológico recente. “O médico carimbou em maio, mas desde agosto eu já sentia dores no corpo inteiro, especialmente nas mãos, nas costas, nos músculos do pescoço.
Era como se eu estivesse presa dentro de um corpo que gritava o tempo todo”, lembra.
Rachel já enfrentava, desde 2012, um transtorno bipolar com crises graves. Duas tentativas de suicídio fizeram parte de sua jornada até aqui. Mas foi o combo entre o câncer, a insônia severa e a dor persistente que quase apagaram sua luz. “A insônia me devastava. Podia passar noites em claro. Precisava de doses cavalares de medicação para ser nocauteada e dormir por algumas horas”.
Dormir: um milagre cotidiano
Após o psiquiatra indicar o uso do CBD e a paciente ter experiências frustrantes com canabinoides importados, foi a indicação do Instituto Santa Gaia, com um óleo de CBD de alta concentração de THC, que trouxe um sopro de mudança.
“Faz quase dois meses. Eu parei em cinco gotas. É o suficiente. Eu, que nem bocejava mais, agora volto a bocejar. Parece banal, mas bocejar é vida”, reflete.
Dormir voltou a ser possível. E, com o sono, vieram o alívio da dor, o controle da ansiedade e a diminuição dos episódios de crise.
A fé no Corinthians, o pé no chão e o coração na escrita

Rachel é dessas que não perde nenhum jogo do Timão e que encontra refúgio nas palavras. Escreve para transformar dor em poesia e crônica, riso e reflexão. O que mais a fragiliza hoje? “A possibilidade de uma recaída depressiva. O medo de voltar a viver aquela escuridão”, disse.
Mas o que a fortalece? “Ter sobrevivido. Ter me reinventado. O câncer me deu um reset. Me fez ver tudo de um jeito novo. Hoje sou uma mulher com mais gratidão do que dor”, avalia.
Cannabis não é milagre. Mas é caminho
Rachel fala com a segurança de quem estudou o assunto e com a sensibilidade de quem vive na pele: “Sou bióloga. Sei que a cannabis tem registros de uso humano há milênios. O que falta é menos preconceito e mais parceria entre médicos e pacientes. Não é um óleo mágico. É um óleo que exige acompanhamento, tentativas, ajustes. Mas quando funciona, muda tudo”, descreve.
Hoje, além do canabidiol, ela mantém uma rotina de autocuidado rigorosa: exercícios físicos, disciplina com a alimentação, terapia e principalmente: escuta interna.
E o que ela deseja agora?
Rachel não quer mais que tudo fique bem o tempo todo. Ela quer constância e estabilidade. Uma vida possível, com menos picos, menos caos, menos dor. Deseja manter-se firme, saudável, grata. Quer continuar a bocejar, dormir sem medo e viver com suavidade. “Não quero mais ter câncer. Não quero mais mergulhar em crises de ansiedade. Quero cuidar do que é simples: corpo, mente, paz”.

Rachel nos lembra que não é preciso esperar que tudo passe para viver. Que dá pra existir mesmo com dor, desde que haja cuidado, ciência e afeto. E que, em meio à tempestade perfeita, às vezes, tudo o que a gente precisa é de um simples bocejo.