Qual o risco x benefício do uso da cannabis na gestação?
“Na gestação, é preciso enfatizar que o THC (substância psicoativa) é contraindicado”, afirma dra. Mariana Prado
Publicada em 24/03/2023
Por Leandro Maia
Na obstetrícia, o uso de medicamentos à base de cannabis é um tema que divide opiniões entre os médicos. Por se tratar de um assunto importante, o Sechat conversou com profissionais para trazer informações e orientações sobre os efeitos dos derivados da planta durante a gravidez.
A gestação é uma fase muito delicada, é preciso considerar também as individualidades. Um dos exemplos é o caso de pacientes que já faziam o uso de produtos derivados da planta antes mesmo de engravidar, seja para uso adulto ou, então, para o tratamento de transtornos mentais. No Brasil, estima-se que uma em cada cinco mulheres apresenta Transtornos Mentais Comuns (TMC), já a taxa de depressão corresponde a mais que o dobro da verificada em homens, de acordo com os dados do Instituto Castus de 2021.
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Na medicina canabinoide, os medicamentos à base da planta são prescritos para muitas doenças, como os transtornos mentais. Portanto, considerando o caso, por exemplo, de uma paciente diagnosticada com depressão e adepta ao tratamento alternativo, que descobre a gravidez. Fica a pergunta: o que seria menos prejudicial para o desenvolvimento do bebê, suspender os remédios à base de canabidiol e recorrer à alopatia, como antidepressivos, ou manter a terapia canábica prescrita?
O Sechat conversou com a ginecologista Mariana Prado que explicou que a falta de evidências científicas robustas deixam os profissionais em meio ao “limbo” - expressão que faz referência à dúvida, incerteza ou indecisão.
“Na gestação, é preciso enfatizar que o THC (substância psicoativa) é contraindicado” , Mariana Prado
É importante lembrar que nosso corpo possui o sistema endocanabinoide. O CB1 e o CB2 são os dois tipos principais de receptores do sistema endocanabinoide. São como “estações” ou locais de ligação, presentes em diversos tipos de células em todo o organismo. Segundo a médica, esses dois receptores são muito importantes para a formação do útero.
“Sabe-se muito bem que o feto tem o sistema endocanabinóide. E isso é muito importante na formação do feto intra útero, se a maconha é usada de forma adulta, com todos os compostos, como o TCH, isso interfere na formação do bebê”, disse.
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“O uso adulto da cannabis na gestação causa alterações no feto, principalmente neurológicas e distúrbio de crescimento. Isso tem que ser digno de nota e precisa ser falado quando o assunto é o uso da cannabis na gestação”, afirmou.
Os canabinoides podem se ligar, bloquear ou moldar a atividade destes receptores, produzindo assim os efeitos terapêuticos desejados.
Risco x Benefício
Sobre o risco versus o benefício é importante considerar uma avaliação com uma equipe multidisciplinar, com psiquiatra e psicólogo, para avaliar o quadro clínico do paciente e saber o nível do problema psiquiátrico.
Considerando a possibilidade da prescrição do canabidiol, é necessário “compreender que a paciente pode usar uma droga que é muito mais danosa, a exemplo dos antidepressivos, no primeiro ou segundo semestre da gestação, é um risco que precisa ser considerado. Imaginando as duas possibilidades, é muito mais lógico usar algo muito mais natural, mesmo que não tenha tantas evidências científicas”, pontuou.
Colunista do Portal Sechat, Adriana Russowsky chamou a atenção para os riscos da amamentação associada ao uso adulto da cannabis. De acordo com ela, muitas mulheres têm dificuldade para interromper o uso, hábito que pode prejudicar o desenvolvimento cognitivo da criança. Ela explicou que o THC circula facilmente pelo leite materno por ser uma molécula que se liga à gordura. Isso potencializa o risco do comprometimento do desenvolvimento neurológico da criança em amamentação.
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“No caso de uma gestante, que sofre de lúpus, uma doença autoimune, usar a cannabis medicinal em um protocolo adequado seria muito melhor do que a paciente ficar sem o uso do canabidiol (composto que não tem substâncias psicoativas como THC), do que optar por imunomoduladores, substâncias que têm muitos efeitos adversos”, considerou.
Ao finalizar, a farmacêutica afirmou que é necessário considerar todas as situações. “Nós temos que falar a realidade. Existem muitas mulheres que gostam de fumar maconha ou skunk (droga conhecida como super maconha) e descobriu que está grávida e não querem parar de fumar porque têm esse costume. Muitos ginecologistas dizem que é melhor a gestante fumar um cigarro antes de dormir, do que ficar naquela ansiedade por causa da abstinência”, finalizou. ‘