Uma pesquisa descobriu que, apesar das características comuns de ter a famosa “larica” (aumento de apetite) depois de fazer uso adulto da cannabis, os usuários tendem a pesar menos e têm menos probabilidade de serem obesos. 

Pesquisas estimam que mais de 22 milhões de pessoas nos Estados Unidos com 14 anos ou mais usam regularmente cannabis e que cada vez mais adultos e idosos estão adquirindo o hábito. 

Cannabis: uso adulto e uso médico 

A maioria dos adultos nos EUA que consomem maconha regularmente, representam 90% dos usuários adultos, enquanto apenas os 10% restantes a usam para fins médicos. 

Ganho de apetite x Ganho de Peso 

Um dos efeitos fisiológicos da maconha é o aumento do apetite, ou o que é popularmente conhecido como larica. Embora possa parecer intuitivo que um aumento do apetite leve ao ganho de peso, os atuais estudos epidemiológicos sugerem que os usuários de maconha têm menos probabilidade de ter obesidade. 

Investigando a Associação 

Uma equipe de pesquisadores da Michigan State University (MSU), nos EUA, decidiu investigar mais a fundo esse assunto, investigando se as pessoas que consomem maconha regularmente têm maior probabilidade de ganhar peso. Omayma Alshaarawy, Ph.D., professora assistente de medicina familiar na MSU, liderou a pesquisa, que aparece no International Journal of Epidemiology. 

Alshaarawy e colegas examinaram dados de um estudo prospectivo denominado Pesquisa Epidemiológica Nacional sobre Álcool e Condições Relacionadas (sigla em inglês NESARC).  

O NESARC incluiu 33 mil participantes dos EUA com 18 anos ou mais que completaram entrevistas assistidas por computador sobre o uso de cannabis e seu índice de massa corporal (IMC) entre 2001 e 2005. 

Os pesquisadores aplicaram modelagem linear geral para estudar a relação entre o Índice de Massa Corporal (IMC) e o uso de maconha. No final do período do estudo, 77% dos participantes nunca tinham fumado cannabis, 18% tinham parado, 3% estavam apenas a começar e 2% eram “utilizadores persistentes”. 

Usuários de maconha têm IMC mais baixo 

O estudo descobriu que, em geral, os usuários de maconha tinham menos probabilidade de ter sobrepeso ou obesidade. “Durante um período de 3 anos, todos os participantes apresentaram aumento de peso, mas curiosamente, aqueles que usaram maconha tiveram um aumento menor, em comparação com aqueles que nunca usaram”, relata a principal autora do estudo. 

Alshaarawy reconhece que os resultados da pesquisa podem parecer contra-intuitivos, dado que a maconha aumenta o apetite. “Nosso estudo baseia-se em evidências crescentes de que esse efeito oposto ocorre”, diz ela. 

IMC mais baixo foi encontrado entre usuários novos e persistentes 

“Descobrimos que os usuários, mesmo aqueles que acabaram de começar, tinham maior probabilidade de ter um peso normal e mais saudável e permanecer nesse peso. Apenas 15% dos usuários persistentes foram considerados obesos, em comparação com 20% dos não usuários.” 

A pesquisadora continua explicando que, embora a diferença no IMC entre usuários e não usuários de maconha não tenham sido muito grande, é significativo que os pesquisadores tenham encontrado essa tendência em todo o tamanho da amostra. 

A maconha ajuda você a perder peso? 

Embora este estudo seja observacional e não possa inferir causalidade, o investigador principal arrisca algumas opiniões sobre os mecanismos que podem explicar a associação entre um IMC mais baixo e o consumo de maconha. 

“Pode ser algo mais comportamental, como alguém se tornar mais consciente de sua ingestão de alimentos enquanto se preocupa com a larica após o uso de cannabis e com o ganho de peso”, diz ela. 

“Ou pode ser o próprio uso da cannabis, que pode modificar a forma como certas células, ou receptores, respondem no corpo e pode, em última análise, afetar o ganho de peso. Mais pesquisas precisam ser feitas”, finaliza a pesquisadora. 

Até sabermos mais sobre os mecanismos subjacentes, porém, Alshaarawy alerta contra os perigos do uso da maconha para perder peso. 

“Existem muitas preocupações de saúde em torno da cannabis que superam em muitos os efeitos potenciais positivos, embora modestos, que ela não tem ganho de peso. As pessoas não deveriam considerar isso como uma forma de manter ou mesmo perder peso,” conclui.