<strong>Como a proibição do Delta-8 pode ajudar na legalização</strong>

A proibição federal da cannabis faz com que a indústria americana de cânhamo seja separada dos programas agrícolas federais e, principalmente, das determinações do FDA

Publicada em 26/03/2023

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Por Cintia Vernalha

Entre os itens urgentes nas listas de tarefas para 2023 dos legisladores federais americanos está a renovação da Farm Bill,  lei americana que rege uma série de programas agrícolas e alimentares revista e renovada a cada cinco anos. Desde a década de 1930, quando foi implementada pela primeira vez, o Congresso americano já promulgou 18 Farm Bills.

A última, de 2018, permitiu que o plantio de cânhamo retornasse aos EUA. Na ocasião, foi estipulado que todas as plantas de cannabis com o THC abaixo de 0,3% do peso das plantas colhidas e secas pudessem ser utilizadas para fins industriais.

Com isso, o preço do CBD (canabidiol)  isolado despencou, pois a produção de cânhamo ficou maior do que a demanda. Diversos produtos surgiram e as empresas passaram, então, a modificar as moléculas do cânhamo para oferecer produtos diferenciados. Esse movimento fez surgir diversos canabinoides controversos, como o delta-8, o delta-10 e o THC- O, moléculas quimicamente semelhantes ao THC, ou delta-9, porém são originárias das moléculas de CBD.

O problema é que essas substâncias pegam usuários desavisados e prejudicam todo o mercado, que carece de informações confiáveis para conquistar consumidores que estão cansados de tantas mentiras a respeito dessa planta.

O delta-8, por exemplo, é um dos mais de 100 canabinoides encontrados em plantas de cannabis, mas não está presente em níveis significativos. Por isso, quantidades concentradas de delta-8 são normalmente fabricadas a partir de CBD derivado do cânhamo,  extraído, refinado em um isolado e sintetizado em delta-8. 

Apesar de existir algumas indicações mostrando que o delta-8 pode trazer alguns benefícios com menos efeitos adversos que o THC, como relaxamento e alívio da dor, os estudos ainda são poucos. Mas a preocupação está principalmente relacionada a quais produtos químicos os fabricantes estão usando para produzir essa molécula. 

A proibição federal da cannabis faz com que a indústria americana de cânhamo seja separada dos programas agrícolas federais e, principalmente, das determinações do FDA. Isso significa que não há regras claras a respeito dos padrões de qualidade que os produtos devem ter, tampouco quais testes devem ser feitos antes de chegarem a seus consumidores.

Por isso, a discussão em torno desse tema é enorme e há uma pressão crescente para que o Congresso americano aproveite a oportunidade da renovação da Farm Bill para regulamentar o setor no que diz respeito à qualidade dos produtos, porcentagens permitidas de cada canabinoide e quais derivados devem ser aceitos. 

Será uma grande sacudida na indústria e muitas empresas terão que se reinventar para justificar os altos investimentos na criação de produtos que provavelmente não poderão mais ser usados. Mas, se pensarmos na indústria como um todo, será bom no longo prazo.

O mercado cinza que surgiu ao redor dessas moléculas mostra que THC tem o seu público e que, enquanto não existirem leis que realmente contemplem a vontade do consumidor, esse mercado continuará existindo. Os produtores de cânhamo e os fabricantes de produtos já se provaram adaptáveis e ágeis na descoberta de novas substâncias, bem como extremamente criativos na criação de formas de burlar as restrições ao THC.

Proibir os canabinoides derivados do CBD cria a oportunidade para a abertura da cannabis em geral. Se a planta é aceita como um todo, dificilmente teríamos essas substâncias que envolvem produtos químicos duvidosos e mais prejudiciais do que o próprio THC. 

Do que adianta termos uma indústria trabalhando dia a dia para melhorar a genética das plantas, e ter diversos estudos mostrando o potencial terapêutico dos canabinoides, inclusive do THC, se não podemos utilizá-los? Que a próxima Farm Bill seja o primeiro passo para uma regulamentação realmente ampla e completa da cannabis.

As opiniões veiculadas nesse artigo são pessoais e não correspondem, necessariamente, à posição do Sechat.

Sobre o autor:

Cintia Vernalha mora nos EUA, onde conheceu e se apaixonou pelo mercado de cannabis. Com mais de 15 anos trabalhando na área comercial de grandes corporações como Nestlé, Reckitt Benckiser e EMS, hoje une a sua paixão pela planta, a sua experiência executiva e a sua vivência em um dos maiores mercados de cannabis para assessorar empresas que desejam atuar ou melhorar seu posicionamento no Brasil.