Cannabis ancestral: Glória Maria e a espiritualidade da planta

Descubra a espiritualidade da cannabis e seus rituais ancestrais de cura, meditação e conexão com tradições que atravessam culturas e gerações

Publicada em 19/09/2025

Cannabis ancestral: Glória Maria e a espiritualidade da planta

Glória Maria revela no Globo Repórter o uso ancestral da cannabis, mostrando como rituais de meditação e cura conectam tradição, espiritualidade e ancestralidade da planta

 

No corte do episódio #44 do Deusa Cast, Cannabis no Brasil: História, Espiritualidade e Redução de Danos, a cena icônica do Globo Repórter, conduzida por Glória Maria, abriu caminho para uma conversa sobre a espiritualidade da cannabis. Na reportagem, em 2016, a jornalista mostrou o uso ancestral do bong em comunidades africanas, símbolo de um saber transmitido por gerações. Glória viveu um dos momentos mais emblemáticos – e também hilários – de sua trajetória ao se tornar a primeira repórter brasileira a entrar na aldeia rastafári mais restrita da Jamaica. Corajosa e autêntica, marcou o jornalismo com sua forma única de contar histórias. Glória Maria faleceu em 2023, mas deixou um legado inesquecível no jornalismo brasileiro. 


Para o historiador Luiz Fernando Petty, esse registro foi um marco: “Essa cena da Glória Maria ajudou muito a desmitificar a planta, de mostrar como seu uso carrega ancestralidade e espiritualidade. A cannabis não pode ser lida apenas pelo estigma, mas pelo legado que traz.”


A planta como ponte espiritual


A dentista canábica Dra. Joyce Bernardo aprofunda a discussão ao resgatar a trajetória da planta em diferentes culturas. Segundo ela, a cannabis chegou ao Brasil entrelaçada ao sincretismo das tradições africanas e indígenas, sendo incorporada a rituais de cura, canto e dança. “Na Jamaica, os rastafáris usam a planta em silêncio, em roda, saudando Jah e meditando. É nesse silêncio que se abre espaço para visões e conexões espirituais. Já na Índia, a tradição conecta a cannabis a Shiva, ao rio Ganges, à respiração que teria inspirado os vedas, o yoga, o Ayurveda”, explica Joyce.


Ela lembra ainda o poder da planta entre os povos escravizados no Brasil. “Mesmo em meio à violência, à fome e às torturas, eles conseguiam cantar e dançar. Isso intrigava os colonizadores, mas o segredo estava na maceração da planta, usada para aliviar feridas, dores e trazer alento espiritual. Era resistência e também um ato de cura”, aprofunda.

Leia Também - Cannabis no Brasil: entre raízes históricas e espiritualidade ancestral


Da cura ao sagrado


As histórias citadas no episódio atravessam rituais de jurema, tradições africanas e até relatos xamânicos que descrevem a cannabis como uma “planta de conhecimento espiritual”. Para Joyce, a espiritualidade é vivida de forma singular por cada indivíduo, mas a planta ocupa um lugar de destaque em diferentes tradições. “Eles endeusavam a planta, cantavam para ela, tratavam-na como uma deusa. Há registros até em pinturas rupestres africanas que mostram a folha de cannabis como geometria sagrada, associada a saberes e tecnologias ancestrais.”


Esse episódio especial do Deusa Cast revela que a cannabis não é apenas ciência ou política: é espiritualidade, memória e resistência. Veja abaixo o vídeo completo para mergulhar nessa jornada ancestral: