“Independência ou Morte”
Um grito de liberdade para aqueles que querem ter bem estar e qualidade de vida com a cannabis
Publicada em 01/09/2022

Por Norberto Fischer
O famoso Grito do Ipiranga está completando 200 anos, mas aqui em casa esse é o nono (9º) ano de Independência, após termos inserido a cannabis medicinal no tratamento da Anny e ganhado na justiça contra a ANVISA o direito de importar o CBD.

Um grito de liberdade para que ela pudesse viver e ter um pouco mais de qualidade de vida.
“Laço fora, soldados”
Muitas foram as batalhas vivenciadas nessa quase uma década de luta e não foram poucos os obstáculos:
- - Falta de conhecimento médico em relação ao sistema “endocanabinoide”;
- - Poucas pesquisas sobre a interação medicamentosa;
- - Gestores públicos e políticos mobilizados pelo preconceito;
- - Falta de uma regulamentação ampla;
- - Algumas poucas regulamentações criadas, mas sempre com base na exceção, prevendo algum possível mal uso, prejudicando o acesso e a real liberdade de escolha; e
- - Anestesia dos tomadores de decisão, não percebendo a urgência do assunto e o impacto direto na vida da sociedade.
“Um exemplo de luta e vitória conquistada”
Em 2017 o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) concedeu o primeiro Habeas Corpus para uma família do DF plantar maconha em casa, com objetivo de produzir óleo para tratamento da filha.
Me lembro dos detalhes. A advogada relatava sobre o diagnóstico da doença rara, a infância, os tratamentos com medicação tradicional, a interação dos fármacos com características da síndrome que provocaram na paciente lesão cerebral, acompanhada de crises convulsivas e violentos espasmos que se tornaram parte da sua vida.
Após a lesão, foram mais de 14 anos tratando a paciente com diversos anticonvulsivantes e morfina, mas que pouco contribuíram com a qualidade de vida. A pequena menina cresceu envergonhada com seu corpo, deprimida pelas dores e pelo preconceito de colegas, professores e desconhecidos.
Enquanto a advogada relatava, em detalhes, um pouco dessa história, não havia como desfazer o nó na garganta, conter o coração acelerado e as lágrimas nos olhos. Naquele momento, olhei para os magistrados e vi que estavam todos chorando e o resultado não poderia ser diferente, após horas de audiência, a família respirava aliviada com o salvo conduto.
Os sintomas que perduram até hoje, estão amenizados com o uso da maconha que agora é produzida dentro de casa.
Sim, é impossível não ter sentimento de revolta com a dificuldade em ajudar as pessoas, pela quantidade de burocracia e por temos que judicializar o que deveria ser direito fundamental, “a liberdade de escolha e a qualidade de vida”.
Sabemos que ainda temos um longo caminho para trilhar, existe muita dor e injustiça que não podemos aceitar calados, mas acredito que os avanços alcançados estão consolidados e iremos progredir cada vez mais, para isso “laço fora, soldados”.
É preciso “Independência” de escolha, “liberdade” de acesso, ou permitiremos que a burocracia e os interesses financeiros coloquem aqueles que amamos em risco de “morte”.
Desejo que neste 7 de Setembro de 2022, o famoso Grito do Ipiranga toque fundo nossos corações e que nosso grito de liberdade ecoe em Brasília para que os gestores públicos e políticos lembrem-se sempre de que saúde é um direito de todos e dever do Estado.
#PenseNisso
As opiniões veiculadas nesse artigo são pessoais e de responsabilidade de seus autores.
Norberto Fischer é pai de Anny Fischer, primeira brasileira autorizada legalmente a importar o extrato da maconha para uso medicinal. Tornou-se articulador político no Brasil, com repercussão internacional, destacando-se no ativismo pelo direito ao acesso, distribuição pelo SUS, custeio dos tratamentos pelos planos de saúde, plantio e produção nacional por empresas, ONGs e autocultivo.