Médico esclarece polêmica sobre uso adulto da cannabis

O diretor do conselho do hospital Albert Einstein, Dr.Claudio Lottenberg, afirmou que o propósito do congresso da cannabis é discutir o uso medicinal. A declaração foi uma resposta sobre a falta de apoio para o uso adulto no Brasil

Publicada em 11/05/2023

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Por Leandro Maia

O oftalmologista e presidente do Conselho Deliberativo da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, Dr. Cláudio Lottenberg, esclareceu a polêmica sobre o uso adulto da maconha durante debate sobre o tema: Cenário da regulamentação do uso medicinal da cannabis no Brasil, na sessão de abertura do 2º Congresso Brasileiro da Cannabis Medicinal, realizado em maio, em São Paulo. O objetivo da mesa era debater o uso da cannabis no tratamento de patologias e os avanços da legislação para garantir o acesso dos pacientes por meio do SUS (Sistema Único de Saúde). Foi quando uma pessoa da plateia questionou os debatedores sobre a suposta falta de interesse da mesa em falar sobre o consumo de maconha via cigarro. Na ocasião, o médico, que participava do evento como congressista, afirmou que “muitos usuários utilizam a planta de forma recreativa, mas, na realidade, é também medicinal. O quanto ainda precisamos discutir esse tema sem tabu?”. 

Lottenberg, convidado para participar da mesa de discussão ao lado de outras autoridades, como Luciano Ducci - deputado federal, Caio França - deputado estadual, Alex Campos - diretor da Anvisa e José Luiz Gomes de Amaral - assessor da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, pediu a palavra para responder ao questionamento. 

Veja o vídeo:

https://www.youtube.com/watch?v=gIBYtnocphE
Vídeo gravado durante o Congresso Brasileiro da Cannabis Medicinal

Segundo Lottenberg, existem estudos que comprovam que o uso dos canabinoides, substâncias extraídas da planta Cannabis Sativa, podem trazer benefícios ao paciente em determinados casos.

“Esse é o grande ponto de discussão. Fosse maconha de uso recreativo (usada por adultos) fruto de uma outra planta, provavelmente, nós não estaríamos falando sobre isso”, esclareceu ao reforçar o objetivo é avançar na discussão sobre o uso medicinal.


Qual a diferença do uso adulto para o uso medicinal?

O uso adulto ou uso medicinal são a mesma coisa? Não, apesar de se tratar da mesma planta utilizada nas duas formas de consumo. O uso da maconha via cigarro não é o mais indicado pela classe médica por causa dos efeitos adversos da fumaça no organismo. Este é um ponto que ainda gera muita discussão no Brasil. Porém, o chá para acalmar essa polêmica é a informação.

Para minimizar o risco de qualquer efeito-colateral inesperado, a distribuição de um medicamento à base de cannabis deve estar submetida às boas práticas de fabricação. A empresa deve garantir a qualidade do produto desde a semente até o paciente, condições sanitárias adequadas e fiscalizadas. Outro fator importante é o controle das substâncias, isto é, a concentração de elementos, como o THC (tetrahidrocanabinol) e o CBD (canabidiol) presentes na planta. Estudos de casos clínicos mostram que altas dosagens de THC não são indicadas para uma pessoa diagnosticada com esquizofrenia. Por esse motivo, o consumo dos derivados da planta dever ser indicado por um profissional habilitado em prescrição de canabinoides.

Quando a cannabis é consumida via cigarro, principalmente prensada, não é possível garantir nenhum controle de dosagem das substâncias. Sem contar que a fumaça pode trazer outros problemas de saúde como câncer de pulmão, de boca, laringe, esôfago, estômago, pâncreas, rim e bexiga. Doenças respiratórias obstrutivas como a bronquite crônica e o enfisema pulmonar.


O uso medicinal da planta deve ser receitado por um médico.

“Questão toda é a concentração de THC. Até 0,3%a gente sabe que isso é o cânhamo: uso industrial. Não tem nem o que discutir isso. A partir daí, o que é alucinógeno? Quando passa a ser alucinógeno, entra em uma outra discussão que eu não estou dizendo nem que sou contra ou a favor. É outro espaço para se debater.

Ao finalizar, Lottenberg voltou a reforçar que o ponto central do debate é a literatura e estudos de casos que comprovem o benefício da planta no tratamento de algumas patologias. Além disso, mencionou a discussão sobre a Lei, sancionada pelo governo de São Paulo, para a liberação de remédios à base de cannabis no SUS. 

“Dentro daquele espectro do qual você já tem artigos publicados  de veracidades comprovadas dentro da literatura, isso sim a gente quer ver a melhor forma de poder debater. Esse é o projeto de lei. A Anvisa também está aqui para discutir a legalização do uso de drogas, e membros das sociedades médicas, com todo respeito”, pontuou ao  concluir a resposta que tirou aplausos do público.