Pretinho, o pinguim que renasceu com amor, acupuntura e cannabis medicinal. Veja o vídeo
À beira da eutanásia, o pinguim surpreendeu ao reagir positivamente a tratamentos com cannabis medicinal e outras terapias integrativas, mostrando que a vida pode florescer com cuidado e compaixão
Publicada em 16/04/2025

Pretinho, o pinguim que renasceu com amor, acupuntura e cannabis medicinal (Foto: Divulgação/Instituto Albatroz)
Hoje vamos contar a história de Pretinho, um exemplar juvenil de pinguim-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus) que vem passando, desde setembro de 2024, por um processo de recuperação inovador e sensível no Centro de Reabilitação e Despetrolização (CRD) do Instituto Albatroz, em Araruama (RJ).
A missão de Pretinho, como foi carinhosamente apelidado, é daquelas que tocam fundo o coração e renovam a esperança sobre o papel da ciência aliada ao cuidado integral com os animais.
Ele chegou ao centro de reabilitação no final da temporada de encalhes do ano passado, mais precisamente em Arraial do Cabo, e resgatado pela equipe de campo do Projeto de Monitoramento de Praias (PMP-BC/ES).
Estava debilitado, desidratado, abaixo do peso e carregando nos olhos o peso da exaustão. Era só mais um entre tantos jovens pinguins que, vindos da Patagônia, tentam vencer as correntes e os desafios humanos em busca de alimento em águas mais quentes. Mas Pretinho não era só mais um.

A Dra. Daphne Wrobel Goldberg, médica veterinária, mestre em clínica e reprodução animal e doutora em Biociências, foi quem cuidou pessoalmente desse pequeno guerreiro. Segundo ela, Pretinho chegou em estado crítico, com sinais evidentes da chamada "síndrome do pinguim encalhado". “Ele estava caquético, com menos de dois quilos, quando deveria ter entre quatro e cinco. Muito parasitado, com pneumonia e extremamente desidratado”, relata.
Com dedicação, ele passou por fluidoterapia, alimentação líquida e depois pastosa, até começar a se reerguer, literalmente. Foi nesse momento que a equipe percebeu uma alteração em sua postura, uma ondulação na região lombar que indicava algo mais sério. A partir daí, iniciou-se uma jornada intensa de investigação: radiografias, tomografia sob anestesia e, enfim, o diagnóstico de discospondilite com osteólise severa, um quadro bacteriano que provocou perda óssea, mas felizmente, sem atingir a medula espinhal.
Era um caso complexo, com dor crônica e limitação de movimentos. “A partir de então, entendemos que só a alopatia não seria suficiente. Precisávamos olhar o Pretinho como um todo”, descreve a médica.
E foi então que entrou em cena um novo capítulo: as terapias integrativas.

Laser, acupuntura, eletroacupuntura, moxabustão, terapia neural... e o uso controlado do óleo de cannabis, com THC e CBD, fizeram toda a diferença. “Nosso objetivo era aliviar a dor sem sobrecarregar órgãos como fígado e rins com medicamentos de uso prolongado”, explica.
O ajuste da dosagem foi delicado. “Fomos testando gota por gota, observando o comportamento dele. Com quatro gotas, ele ficou um pouco letárgico. Hoje ele segue com duas gotas de THC e duas de CBD e está ótimo”, explica.
A resposta foi surpreendente: Pretinho passou a se movimentar melhor, interagir mais e, principalmente, demonstrar alegria. Sim, alegria. Porque Pretinho vive!

Hoje, ele passa os dias na piscina com outros pinguins, essencial para a reabilitação emocional e física, já que são animais gregários. Ainda anda de forma peculiar, como se estivesse nas pontas dos pés, devido à destruição em parte da coluna e do acetábulo, mas nada que o impeça de nadar com leveza e brincar com os companheiros de tanque.
À noite, dorme em cima de seixos rolados, como os demais, mas com um cuidado extra: uma tela para que não machuque os pezinhos nem a quilha. A equipe garante conforto e proteção, em todos os detalhes.
Há, no entanto, um desafio ainda não superado: Pretinho não consegue acessar sua glândula uropígea, responsável por impermeabilizar suas penas. Por isso, sua soltura na natureza não é possível, ao menos por enquanto. “A gente faz a impermeabilização manual, espalhando a secreção dessa glândula nas penas dele. Não é perfeito, mas tem permitido que ele fique o dia todo na água com os outros”, explica a veterinária.
Rotina e cuidados integrativos
A rotina dele é respeitada com sensibilidade. Nas sessões de acupuntura e laser, a sala é colocada em penumbra, o ambiente é geladinho e as músicas da Enya tocam baixinho. “A gente evita falar, para não estressar os pinguins. Tudo é feito com muito respeito”, diz Daphne.

Pretinho hoje come bem, interage, corre atrás dos outros pinguins, se mostra feliz. E se está vivo, é porque sua qualidade de vida é digna. Caso contrário, a equipe já teria considerado a eutanásia. “Não estamos aqui para manter um animal vivo só porque queremos. Estamos aqui para que ele tenha vida com dignidade. E ele tem”, considera.
Esse caso se tornou emblemático para a medicina veterinária, principalmente no universo da reabilitação de animais silvestres com apoio de terapias integrativas. “É um exemplo claro de como o olhar holístico pode transformar vidas. Não se trata só de curar uma infecção, mas de devolver ao animal o prazer de viver”, diz.
Ela faz questão de citar o apoio do colega veterinário Joshua Polanco, especialista em terapias integrativas. “Ele tem nos ajudado muito, com o Pretinho e com outros animais. Traz amor, técnica e um olhar ampliado que mudou a forma como atuamos”, enaltece.
Pretinho é, portanto, mais do que um pinguim salvo. Ele é símbolo de uma nova era no cuidado com a fauna, onde a ciência encontra a compaixão, e onde a cannabis medicinal, com responsabilidade, ajuda a devolver a vida em seu estado mais pleno.