Cannabis e solo: o papel da planta na regeneração ambiental e no desenvolvimento sustentável
Obra de pesquisador da UFJF revela o potencial da cannabis na recuperação do solo e reforça o debate sobre sua regulamentação no Brasil
Publicada em 11/07/2025

Geraldo César Rocha, professor do Departamento de Geociências da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) lança livro Cannabis e Solo: Uma Introdução. Imagem: Canva Pro
“A cannabis é usada há milênios pela humanidade, seja para aplicações industriais, médicas, religiosas ou hedonísticas. Apesar dessa versatilidade, o vegetal ainda se mostra ambíguo quanto à sua classificação botânica e à sua química", afirma o professor do Departamento de Geociências da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Geraldo César Rocha, em seu mais novo livro, Cannabis e Solo: Uma Introdução.
Publicado pela Editora CRV, a obra apresenta uma perspectiva nova: a importância da cannabis para a regeneração e restauração do solo. O tema, ainda pouco explorado por acadêmicos brasileiros, chega em um momento oportuno para aprofundar o debate sobre a descriminalização da planta e a regulamentação de seu cultivo.
Nesse contexto, o livro explora, de maneira introdutória, as várias funções agronômicas e ambientais da cannabis, como: fitorremediadora do solo, ao absorver metais pesados e compostos orgânicos; recuperadora de áreas degradadas, por combater a erosão, descompactar o solo e recuperar sua matéria orgânica; por capturar o carbono e agir como biopesticida; assim como ser agente importante para a biodiversidade e reposição de nutrientes do solo.
Cânhamo industrial: ferramenta de regeneração do solo

Um exemplo concreto do potencial regenerativo da planta foi abordado em entrevista ao portal Sechat, em julho de 2024, quando o engenheiro agrônomo e presidente da Associação Latino-Americana de Cânhamo Industrial (LAIHA), Lorenzo Rolim, reforçou o potencial do cânhamo. “O cânhamo auxilia na absorção de metais pesados do solo — que devem ter vazado durante as enchentes”, explicou Rolim, ao destacar as propriedades regenerativas da planta, capaz de remover chumbo, arsênio, zinco, cádmio, entre outros.
Além disso, graças ao seu sistema radicular profundo, o cânhamo contribui para a estruturação do terreno, retirando água acumulada nas camadas mais profundas do solo.
Caminhos para a regulamentação da cannabis
A relevância ambiental da cannabis não se restringe ao continente sul-americano. Em 2024, Portugal propôs o uso de cânhamo para tratar a contaminação por resíduos químicos na Praia da Vitória, nos Açores, local impactado por metais pesados ao longo de décadas. “É hora de abraçar a cannabis como uma aliada na recuperação ambiental e no desenvolvimento sustentável de Portugal”, defendeu Graça Castanho, presidente da Confraria Internacional da Cannabis em Portugal.
No Brasil, o tema engatinha, com avanços recentes. Em 2024, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu descriminalizar o porte de maconha para uso pessoal. “Já passou da hora de o Brasil debater sem estigmas e preconceitos essa planta, a qual só é vista como maconha, e não como uma importante commodity agrícola que pode gerar renda e empregos em um país atrasado como o nosso”, critica Geraldo César Rocha.
Com esse pano de fundo, o país se prepara para novos passos. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) estipulou até 30 de setembro de 2025 como prazo para a implementação integral das diretrizes do Plano de Ação voltado à regulamentação do cultivo e produção de cannabis com fins medicinais.