Potência da cannabis pode variar mesmo em cultivares idênticas, aponta pesquisa
Pesquisadores canadenses alertam que médias nos rótulos pode não ser fiel a potência de cada flor
Publicada em 28/07/2025

Plantas geneticamente idênticas e cultivadas nas mesmas condições apresentaram diferenças de até 2,8% no teor médio de THC. Imagem: Canva Pro
Um estudo publicado em 2 de julho no periódico científico Nature revelou que a concentração de THC na cannabis seca pode variar consideravelmente dentro da mesma planta, entre plantas do mesmo lote e até em diferentes partes da flor.
Para os pesquisadores, descoberta reforça que o número de tetra-hidrocanabinol (THC) exibido nos rótulos, geralmente apresentado como um único valor percentual, nem sempre reflete com precisão a potência real percebida pelo consumidor.
Como o estudo foi conduzido
A pesquisa foi realizada por cientistas canadenses e analisou 12 lotes de oito cultivares diferentes de cannabis com alto teor de THC, cultivadas em estufas sob condições controladas.
Todas as amostras foram coletadas aleatoriamente em salas de secagem, totalizando entre 60 e 100 gramas por lote. O foco foi nas flores secas da planta, normalmente consumidas por inalação, seja fumando ou vaporizando.
As variedades estudadas apresentavam predominância de THC e baixos níveis de outros canabinoides, como o canabidiol (CBD).
O que foi testado

Os pesquisadores utilizaram três métodos de amostragem para avaliar a variação do THC. O primeiro deles foi selecionar flores do topo da planta. A ideia era verificar se essa parte, geralmente mais potente, poderia representar todo o lote.
Depois, planta do topo meio e base, buscando entender como o THC se distribui em diferentes alturas da planta. Por fim, selecionaram flores de diferentes plantas da mesma espécie, nesta etapa com o objetivo de avaliar a consistência entre plantas cultivadas sob as mesmas condições.
Resultados principais
Entre as flores do topo, o teor de THC variou de 3,1% a 6,7% em nove lotes analisados. Apenas cerca de um terço das amostras estavam dentro da faixa considerada ideal para representar a média.
As flores do topo e do meio apresentaram, em geral, teores mais altos de THC do que as da base. Em alguns casos, a diferença foi estatisticamente significativa, indicando que diferentes regiões da planta podem gerar experiências distintas de consumo.
Já as plantas geneticamente idênticas e cultivadas nas mesmas condições apresentaram diferenças de até 2,8% no teor médio de THC. Algumas eram sistematicamente mais potentes do que outras.
O que isso significa para quem consome cannabis?
Os autores comparam com uma sacola de maçãs: mesmo que todas sejam da mesma variedade, algumas serão mais doces, outras mais ácidas — e uma única fruta pode ter sabores diferentes em cada mordida.
Com a cannabis, ocorre algo semelhante: uma flor pode ter mais ou menos THC que outra, e até uma mesma flor pode apresentar potências diferentes entre suas extremidades.
Ou seja, para eles, a conclusão é clara: não existe um único valor que represente toda a potência de um lote de cannabis seca. O percentual de THC indicado no rótulo é apenas uma média estimada — e nem sempre confiável.
A experiência do consumidor pode mudar dependendo da parte da planta utilizada ou até mesmo da planta específica dentro do mesmo grupo.