THCV e Mounjaro: os dois lados da nova era do emagrecimento
Tirzepatida oferece emagrecimento rápido, mas canabinoide da cannabis pode vencer na sustentabilidade dos resultados e na redução da compulsão alimentar, dizem nutrólogos
Publicada em 08/07/2025

Cannabis apresenta sustentabilidade dos resultados eredução da compulsão alimentar. Imagem Ilustrativa: Canva Pro
Em junho de 2025, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso do Mounjaro para emagrecimento, expandindo a aplicação do medicamento que, desde 2023, já era autorizado no Brasil para o tratamento do diabetes tipo 2.
Produzido pela farmacêutica norte-americana Eli Lilly, o remédio tem como princípio ativo a tirzepatida, uma molécula da classe dos agonistas duplos de GLP-1 e GIP, que atua diretamente nos centros de saciedade do cérebro. Assim como o Ozempic, Wegovy e Saxenda, o Mounjaro integra a lista das chamadas "canetas emagrecedoras".
No entanto, entre os adeptos da terapia canabinoide, um substituto natural começa a ganhar notoriedade: a tetrahidrocanabivarina (THCV). Este canabinoide, um dos mais de 145 identificados na planta de cannabis, vem sendo estudado por seus efeitos ansiolíticos, anti-inflamatórios e, especialmente, por sua ação no controle do apetite e na regulação do metabolismo energético.
A experiência do consultório com THCV
“Tenho visto resultados consistentes e, mais importante, sustentáveis”, afirma a médica nutróloga Ailane Araújo, que acompanha o uso do THCV em sua prática clínica. Segundo ela, embora o Mounjaro apresente resultados clínicos expressivos — com perda de até 22% do peso corporal em 18 meses — o THCV não fica tão atrás, considerando o conjunto de fatores que envolvem o tratamento da obesidade.
“A diferença está no como. O THCV não apenas reduz o apetite, ele reequilibra o sistema endocanabinoide. Isso significa tratar as causas emocionais da obesidade, que muitas vezes são a raiz do problema”, explica Ailane.
Em sua prática, pacientes relatam não só perda de peso, mas também a interrupção de ciclos de compulsão alimentar e a manutenção do peso perdido mesmo após o fim do tratamento.
Entre dados robustos e promessas clínicas
Enquanto o Mounjaro já conta com estudos clínicos multicêntricos e com milhares de participantes, o THCV para emagrecimento ainda trilha o caminho das evidências clínicas iniciais.
“Infelizmente, ainda não temos estudos randomizados e duplo-cegos em humanos que comprovem os efeitos do THCV no emagrecimento. Mas os resultados individuais que vejo no dia a dia são extremamente promissores”, pondera Ailane.
O médico geriatra e nutrólogo Paulo Casali compartilha da mesma visão e vê o canabinoide como parte do futuro arsenal terapêutico contra a obesidade. “A médio prazo, esses estudos devem surgir, comprovando os efeitos já observados na prática clínica. O THCV atua de forma complementar: inibe o apetite, reduz a ansiedade e controla a compulsão alimentar”.
THCV e sua segurança
Se por um lado o Mounjaro é efetivo, por outro, seus efeitos colaterais não passam despercebidos. “Mais de 60% dos meus pacientes sentem náuseas e diarreia constantemente. Queda de cabelo, constipação, dores de cabeça e perda significativa de massa magra são queixas recorrentes”, relata Ailane.
O THCV, por outro lado, se destaca por sua alta tolerabilidade. “É incrivelmente gentil. Raramente algum paciente relata efeitos colaterais, e quando isso acontece, são eventos pontuais e relacionados à dose”, explica a médica, destacando que essa característica favorece a adesão e melhora a qualidade de vida durante o tratamento.
O “superpoder” metabólico do THCV
Ambos os compostos — Mounjaro e THCV — promovem benefícios metabólicos como o controle glicêmico, redução do colesterol, triglicerídeos e pressão arterial.
O Mounjaro, inclusive, tem dados que apontam para uma redução de até 94% no risco de desenvolvimento de diabetes. Já o diferencial do THCV, segundo Ailane, está nos efeitos anti-inflamatórios.
“Ele protege as células de gordura como um escudo para o metabolismo. Meus pacientes relatam melhora na qualidade do sono, redução da ansiedade e sensação de bem-estar geral — o que favorece um ciclo virtuoso de emagrecimento".
Para Casali, Mounjaro e THCV não são rivais. Pelo contrário, podem ser usados de forma complementar. “A tirzepatida tem um efeito mais potente e rápido na perda de gordura. O THCV pode ser uma excelente opção para a fase de manutenção do peso, devido à sua boa tolerabilidade e à atuação nas causas emocionais da obesidade”.
THCV e CBD, sinergia promissora
Quando falamos de cannabis, o THCV não atua sozinho. A combinação com o canabidiol (CBD) tem potencializado os efeitos no controle da ansiedade e da compulsão alimentar.
Segundo o Dr. Casali, a associação com outros canabinoides, como o CBD, amplia a ação terapêutica. Ele cita um estudo recente publicado na revista Cannabis, que demonstrou que a combinação diária de THCV e CBD contribuiu para a perda de peso e para melhorias na saúde metabólica, incluindo a redução da circunferência abdominal, da pressão arterial e dos níveis de colesterol.
o futuro do tratamento da obesidade pode passar pela cannabis
A recente aprovação do Mounjaro para emagrecimento pela Anvisa marca um avanço importante nas estratégias contra a obesidade no Brasil. No entanto, a emergência do THCV como alternativa natural e com perfil de segurança favorável aponta para caminhos menos invasivos e mais integrativos.
“O Mounjaro já é realidade para quem pode pagar e tolerar os efeitos. Mas acredito que o THCV pode ser a solução para quem busca algo mais natural, tolerável e que trate as causas profundas da obesidade”, conclui Ailane.